O gosto do novo

Maria Helena Alvim
1 min readFeb 1, 2018

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Noto que a senhora da mesa ao lado usa hashis com elástico na ponta, aqueles que dão só aos iniciantes. É uma senhora elegante, cabelos de salão, maquiagem. Aqueles palitos presos com elástico definitivamente não combinam com ela. Imagino que não seja de São Paulo — senhoras elegantes manejam um par de hashis como ninguém por aqui. E penso também que é um bom jeito de apresentar um personagem: uma mulher que se aventura em fazer uma coisa nova, numa idade em que já não se é muito de arriscar. Peço meu velho temaki de sempre, que chega rápido. Segundos depois, a senhora chama a atendente e tenta, com dificuldade, explicar o que quer. É estrangeira, fala espanhol, acertei. Sem conseguir se explicar, aponta o meu temaki e diz “igual”. Faço de conta que não percebi para não deixá-la constrangida. Mas dou uma mordida bem mordida no meu temaki. Como se fosse a coisa mais maravilhosamente gostosa do mundo. Para que ela tenha certeza de que vale arriscar. O pedido dela chega com a mesma rapidez que o meu mas faço questão de não olhar. Quem experimenta uma coisa nova deve ser deixado à vontade. Mas não resisto a olhar a mesa dela quando ela vai embora. Nenhum pedaço deixado no prato. Nenhum arrozinho. Era realmente um temaki maravilhosamente bom. Ainda que seja o temaki de sempre. É que dessa vez veio com sabor de aventura.

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