Piratas do Medium: navegando em bookmarks profundas

Lincoln Ferdinand
I tweetcetera I
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4 min readMay 7, 2015

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Ou “Como eu não consigo parar de ler textos por aqui”

Não reparem na adaptação mal feita de um dos títulos da franquia do capitão Jack Sparrow, mas ela consegue exprimir bem o que eu pretendo discorrer neste texto (os mais antenados — ou mais chatos — vão encrencar com a substituição do termo “misteriosas” por “profundas”, but who cares?).

Quem nunca, decidindo dar uma pausa nos estudos, no trabalho ou em seja lá o que estiver fazendo de importante, resolve olhar qual o novo vídeo do seu canal favorito no youtube e se perde por horas a fio vendo um atrás do outro? Costumo dizer que isso é culpa da “maldita lista da direita”. Aquela que traz os vídeos relacionados e recomendados.

Uma vez tendo olhado pra direita, lascou. Já era. Você não consegue mais se desprender daquele turbilhão de títulos sedutores e imagens chamativas. E o pior é que não há pessoa normal nesse mundo que consiga acessar o site dos vídeos sem olhar pro lado e se identificar com outra coisinha, querendo ir mais além.

Canal: Jout Jout Prazer. Recomendadíssimo.

Você diz para si mesmo: esse é o último. Mas não é. É preciso colocar algo tampando a lista lateral para não se interessar por nada mais e se libertar daquela prisão. Aí a galera dos youtubius vem e faz o quê? Coloca os vídeos pra começarem automaticamente assim que termina outro. Não dá mesmo.

Embora você possa desmarcar a opção da reprodução automática, quando acaba um vídeo aparece mais mil sugestões. E não é na lista da direita, e sim logo na sua frente brotando aos seus olhos. Então só resta uma alternativa: fechar o youtube faltando dois segundos para concluir seu vídeo legal e sair correndo da frente do computador.

“E o que isso tem a ver com aquele título que eu li lá em cima?”

Já vou chegar lá. Desde que conheci o Medium ele tem se mostrado um excelente ambiente para a publicação de textos de altíssima qualidade dos mais variados temas. Suas características e funções peculiares são bem interessantes e abrem um novo leque de práticas relacionadas ao consumo e produção de conteúdo.

A possibilidade de marcar textos nos favoritos já é uma opção velha na internet. Sempre tivemos como inserir algum site ou página qualquer nos favoritos do nosso navegador por qualquer razão que seja.

Aqui você pode marcar um texto na sua caixa de bookmarks e vê-lo guardadinho para quando quiser dar uma olhada. As pessoas podem fazer isso tanto para deixar fácil de encontrar aquele texto bacana que quer mostrar ao amigo, como para continuar a leitura, outra hora, de um texto que não têm tempo de ler naquele momento.

Por estar encontrando mais textos interessantes do que o meu tempo permite ler, venho marcando alguns para mais tarde. Isso é ótimo. Não vou perder de vista aquela análise legal que quero ver com calma. Só que a quantidade de textos aumenta e o tempo só diminui.

Tento e me esforço para esvaziar as bookmarks e não consigo pois, enquanto eu leio três textos (e tiro dos favoritos) adiciono mais cinco ou seis. Isso não vai ter fim. Tem muita semelhança com o não conseguir sair do youtube.

Mas aí entra uma dúvida: será que eu preciso mesmo zerar minhas bookmarks? Como isso seria útil pra mim? Apenas para saciar minha vontade de devorar todos os textos daqui ou para satisfazer minha mania de organização?

Então posso fazer uma comparação das bookmarks com as bibliotecas pessoais. Sempre me perguntam se eu já li todos os livros que tenho na minha estante e eu respondo com uma frase que vi alguém importante falar por aí e não lembro quem (desculpe, pessoa. Você me fez analisar tudo isso por outra perspectiva. Muito obrigado):

“Se sua biblioteca pessoal não tem um livrinho novo sequer esperando ser lido a qualquer momento, qual a graça dela?”.

Foto da biblioteca central da UFPB tirada do meu celular.

Se um dia eu tirar tempo para zerar minhas bookmarks, o que acontecerá logo em seguida? Creio que não irá demorar muito para que eu comece a lotar o negócio de novo. Essa é a função desse espaço: estar sempre com textos disponíveis para que você possa ler no seu tempo livre.

A questão da leitura não linear que a internet nos oferece com seus hipertextos e hiperlinks é uma coisa linda. Poder desfrutar de um texto repleto de imagens, vídeos, músicas e links para outros textos só deixa a experiência mais rica e com mais valor agregado.

Um texto leva a outro, que leva a um vídeo, que cita uma banda que você não conhece. Logo você vai pesquisar sobre a banda e conhece um filme que foi resenhado por tal autor. Procura o perfil desse autor no Medium e por aí vai. Quando você se der conta estará com abas abertas suficientes para não conseguir ler o que tem em cada uma delas.

A dificuldade entra, na verdade, em como organizar nosso tempo com as atividades rotineiras (e em entender que nossa vida não é longa o bastante para conseguirmos ler/assistir/consumir tudo que queremos — sobre isso, bom ler o texto de Lizandra Pronin). Aí a discussão é outra, o buraco é mais embaixo. Essa conversa fica pra outro texto, quem sabe.

Mas me fale sobre você. Tem “problemas” parecidos? Já leu todos os livros da sua estante?

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Lincoln Ferdinand
I tweetcetera I

Constantemente dizendo o contrário do que eu disse antes. Pode me perturbar em lincolnferdinand@gmail.com