É que eu preciso escrever

Ou “eu não vou mais deixar a ansiedade me impedir de fazer o que gosto”

Erick Lopes de Almeida
4 min readJan 18, 2020

Todo mundo que escreve já escreveu por que escreve. O que o motiva, o que prefere, dos seus temas, de seu estilo, das suas manias. Pois eu sou mais um desses que escreve porque tem muita na coisa na cabeça. E quando as coisas ficam aqui, elas ficam perdidas, zanzando sem rumo e atrapalhando meu pensamento. Escrever sempre foi uma válvula de escape muito útil, mas de repente eu parei. Minha ansiedade assumiu o controle e decidiu que escrever era perda de tempo. Na verdade, já tô ligado que o passatempo favorito dela é me ver em frente à tela pensando no que fazer enquanto não faço nada.

Nos primórdios da internet, antes mesmo de entrar para a faculdade de Jornalismo, eu quis ter um blog. Sentei no computador do meu tio, fiz uma conta no Wordpress e fiquei na dúvida quanto ao nome que daria pra ele, porque teria que ter uma linha editorial eu não sabia exatamente quais eram meus objetivos. Desisti.

A universidade foi o pico da minha produtividade. Redações em sala, blogs coletivos, publicações aqui ou ali. Mas, tanto nela quanto no trabalho, estive sempre muito ligado à visualidade e ao controle de produção, de modo que fui reduzindo meu texto a e-mails, comentários e estruturação de projetos. Nada de um espaço meu, para o qual eu me organizasse para produzir. Exceto pela dissertação, que — pensando bem, agora — foi até uma salva-vidas. Enfim, na vida corrida de muita coisa pra fazer, passaram-se anos sem que eu escrevesse um microtexto sequer.

Teve a era Facebook, que me mostra como eu sempre fui um reclamão sarcástico (e às vezes ingênuo), mas não sei se considero. Acho que essa falsa sensação de descompromisso da rede social me ajudou um pouco no processo, mas também moldou o texto ao formato da rede. De certo modo o blog já era uma rede social nessa época before Facebook was cool, mas a experiência do Facebook é mais “““natural”””, no sentido que é mais instantânea. Bom, divaguei já. Polemizo isso outro dia.

O lance é que tenho tentado retomar a redação desde que passei a enfrentar minha ansiedade, com medicação e terapia, há mais ou menos dois anos. Mas me vejo enferrujado. É frustrante perceber que suas ideias esqueceram o caminho para sair. Como sou insistente, comecei a fazer as coisas se mexerem um pouco de cada vez. Dar aula também me ajudou na queda dessa ficha. Afinal, um texto é um amontoado de coisas escritas. Você começa a juntar uma e outra e vai ganhando prática. É um pouco óbvio: para voltar a escrever regularmente é preciso escrever um primeiro texto. Mas não subestime a capacidade de autossabotagem de um ansioso.

Este texto, por exemplo, existe desde setembro do ano passado. Nascia lá um rascunho em razão do Setembro Amarelo, em que eu falaria desse meu processo de terapia, mas que ficou salvo apenas com esses tópicos. Outras partes aqui são anotações tão antigas que nem me atrevo a comentar. É como se eu não pudesse dar nem o primeiro passo enquanto não visualizo o projeto completo, estruturado, acabado, patrocinado, vendendo milhões.

Tem um e-mail do meu marido em minha caixa de entrada que é de agosto de 2018. Tenho essa mania de deixar os e-mails na caixa de entrada, à vista, para que eu não esqueça de minhas pendências. 2018… É tortura isso que a gente faz com a gente mesmo, né? Por um lado eu sinto que preciso que isso esteja visível para que eu não me esqueça, não me enrole, não deixe passar. E, no fim, o que acontece é que eu o naturalizo ali e me esqueço, deixo pra depois, até ver que já passou. Hoje eu finalmente o deletei, mas só porque o Ricardo disse que o conteúdo daquele texto já mudou e que não adianta mais eu ler. Em breve devo receber o atualizado e vou tentar não levar mais esse tempo todo para avaliá-lo…

É isso, eu tô tentando. Sei que escrever me ajuda a organizar as ideias e talvez ajudem a organizar a de mais alguém por aí. Quero falar desse governo que nos adoece e dessa sociedade que me assusta, mas também das boas iniciativas do jornalismo, do mercado editorial e da educação. Quero falar da breve e estimulante experiência que tem sido ser um jovem professor universitário e das trivialidades dessa nossa vida conectada e acelerada. Não é novidade a caralhada de estímulos que a gente tem recebido no dia a dia e como as redes sociais têm contribuído para nos enlouquecer, mas gosto de refletir sobre nosso comportamento online e quero compartilhar algumas das minhas estratégias.

Enquanto jornalista/editor/educador, sinto certa necessidade de enfrentar esse pepino das mídias e de trazer algumas colaborações para esse debate. A ansiedade pode ser um obstáculo, mas certamente será combustível também.

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Erick Lopes de Almeida

Editor de conteúdos educacionais e temporariamente Professor Assistente nos cursos de Jornalismo e Relações Públicas da Universidade Estadual de Londrina (UEL)