Lab de Ideação

Raphael Cardoso Mota Pereira
6 min readMay 30, 2022

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No métier da inovação é cada vez mais comum encontrar iniciativas com prefixo/sufixo lab ou co.lab nas organizações. Normalmente, essas iniciativas incluem espaços com o objetivo de alcançar uma inovação colaborativa e sistêmica no modelo de negócios. Neste artigo vamos falar um pouco sobre a importância dessas iniciativas, formatos de laboratórios e um relato de caso baseado na minha experiência profissional no Instituto Nacional de Telecomunicações.

Labs e Co.Labs são iniciativas que normalmente estão associadas a um espaço especialmente projetado para estimular a criatividade, coworking, inovação e aprendizado. E frequentemente são utilizados como QGs para suporte a projetos de inovação, em organizações que possuem uma cultura de inovação, como nas startups com seus famosos scrum teams ou squads.

Os laboratórios podem possuir tamanho e objetivos variados, e podemos classificá-los dependendo do modelo de interação dos agentes, que pode ser mais centralizado ou descentralizado. O STATE, localizado na Vila Leopoldina em SP, é um exemplo extremo de Modelo de Rede/Comunitário, que congrega uma rede de empresas que contribuem para a originação e co-desenvolvimento de negócios e projetos. Entre as empresas residentes estão gigantes de diversos setores como Carrefour, BNP Paribas, Brasken, Votorantin, entre várias startups e profissionais que são residentes no ecossistema.

Fonte: MJV — Modelos de inovação para guiar a construção do seu lab.

Na minha experiência profissional, tive o privilégio de colaborar com a implantação de um laboratório de inovação no Instituto Nacional de Telecomunicações, e depois ser gestor do espaço e do processo de ideação para startups. O espaço foi uma conquista do Núcleo de Empreendedorismo e Inovação, que possui uma incubadora com uma história incrível e de grande impacto no ecossistema local. Entrei no Inatel como bolsista em 2015, através do projeto de implementação do laboratório: Ampliação e Modernização da Incubadora de Empresas, Através da Criação e Potencialização de Sistemáticas Efetivas de Criatividade, Simulação e inovação no Sistema de Incubação.

Naturalmente, o Lab de Ideação do Inatel é baseado em um modelo mais centralizado. Para ser mais preciso, um Modelo Central In-House, onde “os projetos de inovação são desenvolvidos independentes dos demais projetos da empresa. O que torna o laboratório um “ente”, de certa forma, autônomo”. O laboratório foi projetado para atender uma ampla comunidade de usuários, muito além das startups, inclui os alunos, professores, pesquisadores, funcionários e vários parcerias com a comunidade externa.

A agenda do Lab é apertada e as iniciativas são muito variadas, mas sempre com o objetivo de estimular a criatividade, coworking, inovação e aprendizado. Contudo, meu objetivo é tratar sobre o uso específico para as startups em ideação no Inatel Startups (novo nome Programa de Incubação que foi remodelado em 2021).

Kick-off da Jornada de Ideação com projetos selecionados na Feira Tecnológica do Inatel (Fetin).

O Laboratório de Ideação do Inatel é um espaço voltado para estimular a criatividade e iniciar um processo de inovação. Nele, quem sonha empreender, quem deseja testar uma ideia, criar um conceito ou precisa prototipar um modelo de negócio encontra recursos para isso. Sua dinâmica é baseada em abordagens centradas no usuário, como a do Design Thinking e Customer Development, permitindo a experiênciação, simulação, criatividade e simulação de negócios.

De forma bastante simplificada, o primeiro passo para iniciar um novo negócio é encontrar um problema no mercado e depois propor uma solução. Contudo, se observa que o problema das startups é de entender o problema de mercado.

De acordo com a CB Insights, no estudo “The Top 20 Reasons Startups Fail” de 2018, a principal causa de mortes das startups é a não necessidade do produto ou serviço. Ou seja, 42% das empresas pesquisadas não deram certo porque não encontraram um problema real ou não se aprofundaram no problem-solution fit.

Esse cenário ganhou reforço no relatório internacional Global Startup Ecosystem Report 2019, baseado em dados de mais de 34.000 startups em todo planeta. Uma das constatações mais importantes do relatório, é que o principal motivo do fracasso das startups acontece quando o trabalho de desenvolvimento interno (solução) está à frente do desenvolvimento externo (problema), que eles chamam de Escalonamento Prematuro.

Isso quer dizer que normalmente as startups avançam prematuramente no desenvolvimento da solução, e quando vão entregar a solução para o mercado, descobrem que não possuem total alinhamento com as necessidades e desejos dos usuários.

Por outro lado, o Design Thinking se destaca na formulação de business case para o mercado de inovação. É o que aponta o relatório “As tendencias de inovação mais desejadas pelo mercado e as oportunidades para startups”, indicando o design para inovação como a terceira tendência de maior interesse pelo mercado (44%), sendo uma ferramenta para o processo de inovação.

Essa tendência foi apontada por 48% dos executivos e 16% dos investidores como sendo de seu interesse. Trata-se de uma ferramenta que auxilia empresas a utilizarem o processo de design como base para o desenvolvimento de novos produtos e processos. Nessa perspectiva o design vai além de aspectos relacionado à forma para ser também uma abordagem para a solução de problemas e criação de sentido.

Com a reestruturação do Programa de Incubação do Inatel, é possível conduzir as startups por um funil com três processos distintos de maturidade de negócio. O primeiro processo é a ideação, e também o mais largo do funil, onde as startups tem a oportunidade de se aprofundar no problema de negócio através de metodologias ágeis e centradas no usuário, facilitando o desenvolvimento de um business case.

O Processo de Ideação possui três fases: a primeira fase é uma abordagem investigativa e empática de aproximação com o mercado, onde a startup tem a oportunidade de entender melhor o problema do cliente/usuário através de validações com stakeholders do negócio, inicialmente utilizando ferramentas etnográficas como entrevistas e vivencias e depois pesquisas aprofundadas sobre o mercado, tecnologia e soluções existentes para aquele problema.

Na segunda fase, são realizadas atividades para definição de público-alvo e requisitos de valor, seguido da ideação e do desenvolvimento dos protótipos em baixa resolução das soluções. Finalmente na terceira fase, a startup retorna ao cliente para fazer as validações de percepção de valor das soluções desenvolvidas.

Depois de um período de dois meses e meio com sete encontros de mentoria e seis sprints de trabalho, a startup tem a oportunidade de realizar a prototipagem de conceitos de soluções mais alinhadas com um perfil de usuário/cliente. Uma vez que a startup constrói um business case consistente, é possível seguir para as outras fases do funil, a pré-incubação e incubação. Nessas fases, respectivamente, a startup irá desenvolver um MVP e testar no cliente, seguida da estruturação do negócio com a escala de vendas.

O Laboratório de Ideação do Inatel possui parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, o SENAI e Sebrae para fornecimento de recursos-chave, suporte técnico e financeiro, integrando a rede de Laboratórios Abertos do Programa SibratecShop, que atuam como facilitadores para atender demandas tecnológicas de empreendedores, visando transformar ideias e sonhos em negócios. São ambientes repletos de possibilidades, onde pessoas com diferentes perfis e habilidades se encontram para trabalhar de forma colaborativa no desenvolvimento de produtos, processos e negócios.

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