Água de Salsicha Convida — Dii Chor

Água de Salsicha
Água de Salsicha
Published in
4 min readMay 23, 2018

Depois do sucesso de seu primeiro post, ela voltou.

O Água de Salsicha Convida é um espaço para nossos seguidores soltarem o verbo sobre algum aspecto da Cultura Pop. Viu alguma coisa que explodiu tua cabeça? Ouviu algo inesquecível? Escreve um texto descompromissado pra gente!

Hoje, voltamos com a nossa amiga e futura advogada, Dii Chor! Essa é sua segunda participação no quadro, depois de uma estreia de gala. Ela, que é feminista, adora o Woody Allen, é fã de pizza e, entre “Choque de Cultura” e “The Breakfast Club”, pega uma van e foge com os dois elencos!

“Pra sempre” sempre acaba?

Por que a maioria de nós enxerga um relacionamento como algo que só poderá ter como destino o “para sempre” ou o fracasso? Por que a necessidade de sempre se antever ao próximo passo e se apegar a segurança de tudo ter saído como previsto, seja na continuidade ou no término?

“Happy Anniversary” traz basicamente essas duas visões combinadas em um casal. De um lado a certeza do para sempre, e do outro o grande medo do fracasso.

Como se relacionamentos amorosos se dividissem entre o team dos que acham que encontrar a pessoa certa é fatalmente ter encontrado a pessoa com quem você passará o resto dos seus dias, e o team daqueles que ficam o tempo todo esperando o momento do término para comprovar sua própria tese de que aquilo jamais daria certo, em um eterno auto boicote à felicidade.

E, aparentemente, esses dois opostos se atraem, formando um casal com um belo nível de desarmonia e em eterno descompasso entre seu próprio ser e estar.

No filme, Mollie e Sam comemoram seu terceiro aniversário de namoro quando essas duas realidades fatidicamente submergem, passando os dois a revisitar momentos do relacionamento, cada um sob sua própria ótica do que sempre pensaram e do que havia acontecido.

Revisitar momentos de um relacionamento é algo pelo qual todos nós passamos, desde nos recordarmos da ansiedade por novas mensagens, da saudade instantânea na hora do tchau, do sono que podia ser adiado para passar mais tempo junto, passando pela primeira briga, as manias insuportáveis, as viagens, as discussões acaloradas sobre coisas que no final se mostraram bem menos relevantes…

Uma tentativa de conseguir encontrar nessa viagem pelo passado as respostas para o futuro.

Invariavelmente as respostas não vêm, porque o passado nada mais é do que um futuro já vivido, e o futuro um passado esperando pelo próximo dia. De modo que, cabe a nós aceitar o presente compreendendo que relacionamentos possuem um espectro muito maior do que Hollywood gosta de nos fazer acreditar.

Há o para sempre que dura por todo a vida, há o para sempre que representam ótimos três anos, há o que realmente precisa ser passageiro, há o que termina, mas nunca acaba, e o que acabou muito antes de terminar. E também há o que não teve início, mas é para sempre, e o que representa um fim em si mesmo que nunca compreenderemos.

A necessidade de se antever ao próximo passo do outro afim de encaixar o relacionamento em nossas previsões gera uma angustia que, assim como no filme, nos consome em um loop de visitas idealizadas ao passado e medos descompassados do futuro.

Em um mundo com tantos estímulos externos, conexão e exposição, fica cada vez mais difícil manter o foco no presente, contudo, em uma eterna disputa de para sempres e fracassos, é preciso que saibamos compreender a beleza da imponderável leveza de ser, estar, amar e viver no agora. Só assim, saberemos ser felizes juntos ou separados, nos inícios ou nos términos, por toda uma vida ou por todo um momento.

--

--