Água de Salsicha Convida — Lucas Stockler

Água de Salsicha
Água de Salsicha
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5 min readJun 6, 2018

O escritor carioca é o convidado dessa semana!

O Água de Salsicha Convida é um espaço para nossos seguidores soltarem o verbo sobre algum aspecto da Cultura Pop. Viu alguma coisa que explodiu tua cabeça? Ouviu algo inesquecível? Escreve um texto descompromissado pra gente!

Hoje, é a vez de L. L. STOCKLER: escritor, nerd e advogado. Acredita que toda fantasia é, acima de tudo, outra representação da realidade, e defende que, nos dias de hoje, nada é mais necessário à realidade do que um pouco do fantástico. Publicou seu primeiro romance, Campeões de Gaia, em 2016, e espera ver a resenha do livro aqui no AdS antes de lançar o segundo volume de sua trilogia, Emissário de Oceani, ainda este ano.

Uma não-receita de como escrever o seu livro

Com alguma frequência, me perguntam: “Como assim você escreveu um livro?!”. Mais ainda, me pedem conselhos sobre como botar os pensamentos no papel ou quanto à melhor forma de tirar aquele original velho da gaveta e colocá-lo nas prateleiras. O que costuma a passar despercebido é que não existe receita para o sucesso e que, no fundo, todos estão tentando a sorte e descobrindo por si mesmos.

Neste e talvez em todos os momentos, o melhor que posso fazer é dividir minhas experiências com quem lhes interessar e, claro, dar algumas dicas inestimáveis — de um sonhador para o outro.

O primeiro passo é o mais difícil, sempre. A frase chega até a ser um cliché. Entretanto é extremamente comum se ter na cabeça uma história mirabolante, um conto que todos gostariam de ler ou um épico que tem tudo para ser um best-seller, mas nenhum deles jamais ver a luz do dia. Afinal, temos tantas distrações nos dias de hoje! São tantos jogos, shows, filmes, séries que mal temos tempo para respirar e isso sem falar em estudos e trabalho. Somos mesmos culpados por não sentar e perder dias (Meses! Anos!) escrevendo?

Somos. Já ouviram o ditado: “Tempo não se tem, se cria”? Pois é, é verdade.

Para falar da minha experiência pessoal, comecei a escrever meu livro durante os intervalos das aulas da faculdade. Na época, meus horários não batiam com os dos meus amigos, então passava algumas horas à toa pelo campus. Escrever foi a solução que encontrei contra o ócio e, depois, durante as provas, contra o estresse. Mas mesmo quando a moleza acabou e eu entrei em um estágio que me fazia ir de ponta a ponta do Rio de Janeiro, passei a escrever no ônibus, no metrô e no trem. O pessoal do escritório dizia que eu era louco de me arriscar assim, no entanto deu tudo certo no final. Pouco tempo depois, meu livro saiu.

Stockler lançando seu livro "Campeões de Gaia"

Também tem um pessoal que fala muito sobre “não ser bom o suficiente”. Tenho um segredo para contar para esses: até começar, ninguém é.

Para começo de conversa, existe uma coisa chamada “treinamento”. Stephen King não começou sua carreira lançando A Coisa e George R. R. Martin não lançou Game of Thrones da noite para o dia. Na verdade, antes daquele lançar Carrie, a Estranha, em 74, foi colunista de um jornal de faculdade e escrevia contos para revistas, enquanto o outro começou sua jornada na década de 70, só publicando o primeiro livro da Canção de Gelo e Fogo em 1996 — e isso sem mencionar quando seu nome chegou aos nossos ouvidos.

Além disso, já parou para pensar quantos livros você leu que nem eram tão bons assim? E quantos filmes cujo roteiro você achou que poderia fazer melhor? Aposto que não foram poucos. Por que não levar esse pensamento adiante e fazer você mesmo? Muito provavelmente vai se surpreender com suas capacidades.

Se ser publicado ou até mesmo fazer sucesso não é sinônimo de qualidade, é importante lembrar que a recíproca também é verdadeira. Ainda que tenha conseguido escrever seu original e ele seja a melhor coisa já feita desde chocolate em barra, não existem garantias para o seu sucesso. Quer dizer… A menos que você seja a Kéfera ou o Pewdiepie. Porém a maioria de nós não é youtuber ou não tem uma fanbase que renderia algumas tiragens esgotadas.

Para nós, meros mortais, o caminho da publicação é árduo a despeito do material, contudo a culpa, dessa vez, não é nossa. Vivemos tempos de crise e mesmo fora deles editora alguma gostou de apostar cegamente em um autor novato que apareceu de repente na sua porta. É compreensível. Muitos autores gostam de demonizar as editoras que os rejeitam, no entanto é preciso entender que elas são empresas e você é só um no meio de centenas que aparecem diariamente pedindo que milhares de dinheiros sejam investidos em uma história que não há garantia de sucesso. Até porque existem muitas variáveis nesta equação. Marketing, distribuição, momentum, já falei marketing? E, por mais que não gostemos de admitir, tem sim bastante sorte envolvida.

Entretanto nada disso é razão para pararmos de tentar. Até a J.K. Rowling teve seu Harry Potter e a Pedra Filosofal recusado por doze editoras antes de receber o sinal verde. Os caminhos são muitos e as possibilidades são infinitas. Por que não lançar seu original de forma independente, em e-book, com a Amazon? Pode ser que você seja descoberto como um best-seller digital um ano depois. E por que não simplesmente contratar alguém para revisar e diagramar seu livro e imprimir você mesmo numa gráfica? Nunca se sabe o que pode chamar a atenção de um produtor da Netflix ou da HBO enquanto passeiam em uma livraria.

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