10 motivos para maratonar “The Handmaid’s Tale” com urgência

Amanda Machado
Água de Salsicha
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7 min readMay 4, 2018

1. A série é baseada em um livro aclamado da década de 80 que retrata muito bem os efeitos de um regime fundamentalista

Escrito em 1985 pela autora canadense Margaret Atwood, “The Handmaid’s Tale”, traduzido por aqui como “O Conto da Aia”, é um romance distópico ambientado em um regime teocrático fundamentalista em que após um colapso nas taxas de fertilidade e natalidade, as mulheres férteis se tornam propriedade do governo e passam a servir a elite afim de gerar descendentes aos mais abastados. Desde a sua estreia, foi traduzido para diversos idiomas e se tornou um sucesso mundo afora. Agora com a adaptação, ganhou novas roupagens e vem se mantendo no topo das listas de vendas.

2. A história já recebeu uma adaptação anteriormente para os cinemas mas foi um fracasso

O filme de 1990, traduzido para o português como “A Decadência de uma Espécie” não teve à época o impacto esperado dado o sucesso da obra literária em que foi inspirado. Com direção de Volker Schlöndorff, o filme conta com Natasha Richardson no papel de Offred e Robert Duvall como o Comandante. As críticas ao filme se baseiam no fato de que o roteiro não manteve a narrativa da protagonista como estrutura para a história, que foi contada em terceira pessoa, fazendo com que a trama perdesse o mistério e a profundidade característicos dos monólogos de Offred. Além disso, abusa de cenas sexuais que geram mais desconforto do que acrescentam. Lição aprendida, a série da Hulu é perfeita ao centrar a narrativa nos monólogos internos de Offred para nos mostrar qual a sua história, seus sentimentos, sua fúria e sua determinação em se manter viva.

3. A primeira temporada levou para casa tantos prêmios que faltaram braços para carregá-los

Em 2017, a série foi indicada à 12 Emmys, levando para casa 8 deles, entre eles o de Melhor Série Dramática, o de Melhor Atriz em Série Dramática para Elizabeth Moss, Melhor Atriz Coadjuvante e Atriz Coadjuvante Convidada, Melhor Direção e Melhor Roteiro. A chuva de prêmios e indicações se manteve e no total já são 40 prêmios e mais 34 nomeações em 2 anos. Não é para qualquer um. Mais do que merecido para uma série que entrega um material impecável, com atuações brilhantes e profundas que não se limitam ao elenco principal.

4. A direção e a fotografia da série são tão boas, que em vários momentos é como se estivéssemos dentro das telas

Você vai se pegar boquiaberto quando focarem na mão de um personagem durante uma reação e você entender tudo o que ele está sentindo sem precisar analisar sua expressão facial. Vai ficar assustado quando a luz tão natural adentrando a janela dos enormes cômodos de Gilead ofuscar seus olhos na sua sala escura. A fotografia dessa série é tão intensa e real, que é impossível passar despercebida. Os momentos perfeitos de distanciamento e aproximação da câmera geram um efeito de pertencimento do espectador raríssimo de ser alcançado nas telas, especialmente nas de TV.

5. A trilha sonora é incrivelmente boa e vai te assustar

O clima da trama é tão conservador que você acaba esquecendo que a história se passa em um futuro não muito distante do nosso e em muito a trilha sonora ambiente da série colabora para isso. No entanto, é exatamente por ela que nos recordamos da atualidade do cenário. Em inúmeros momentos uma música moderna, com um som pesado e cheio de informação, adentra as telas e se choca com a cenografia e os figurinos vitorianos, gerando um misto de incomodo com familiaridade incrível.

6. As temporadas são construídas em 10 episódios, não fica enrolando para encher linguiça

Com duração de aproximadamente 1 hora e enxutos 10 episódios, a série foge do lugar comum das séries de sucesso que investem em um número maior de episódios para prender por mais tempo o espectador e gerar mais audiência. Um grande acerto, em nenhum momento sentimos que a série está explorando a mais ou a menos determinado ponto da trama. O que fica é ansiedade para os próximos capítulos da trajetória.

7. A série tem uma direção majoritariamente feminina

Dos cinco diretores dos episódios da primeira temporada, quatro eram mulheres. Um feito respeitável tanto para uma série com uma mensagem tão arrebatadora para as mulheres e com uma visão muito feminina quanto para a indústria de TV e Cinema que finalmente, a passos curtos, tem dado mais lugar para mulheres contarem histórias de mulheres.

8. A primeira temporada está sendo exibida atualmente no Brasil, a segunda temporada já estreou e a terceira temporada já foi confirmada. Órfão de série você não vai ficar!

Muitos fãs começaram a assistir a série tendo que baixar os episódios na ilegalidade, já que o streaming Hulu não é muito popular no Brasil. Entretanto, para quem está começando agora não será necessário tanto trabalho. Isso porque desde fevereiro o canal de televisão por assinatura Paramount Channel, está exibindo a primeira temporada nas noites de domingo. Para os que já estão apaixonados, a segunda temporada estreou nos Estados Unidos no dia 25 de abril e as fotos estão incríveis. Para quem morre de medo de ficar órfão de série por conta de cancelamentos, a terceira temporada foi confirmada há 2 dias.

9. Você vai sentir vontade de chorar umas trinta mil vezes por episódio e vai ser por medo

Se você é uma mulher, a frase acima é uma certeza. Se você não é, vai depender do seu grau de empatia. Isso porque a sociedade retratada na série é um compêndio de todo o discurso fascista, machista, homofóbico, fundamentalista, xenofóbico e tudo de ruim que existe, que vem crescendo e nos cercando mundialmente. Como a série foca no olhar e na trajetória de uma mulher que é inferiorizada dentro daquela sociedade, é natural que nós, mulheres, sintamos um impulso de não só imaginar o que faríamos em dada situação, mas como poderíamos nos prevenir de estar nesse lugar. Inúmeras vezes a série é horrorizante de tão passível que é esse tipo de regime se tornar uma realidade próxima, visto que temos Trump no poder da maior potência mundial e discursos como esse se proliferando cada vez mais nas redes sociais.

10. Você vai ter a oportunidade de assistir um levante feminino dentro de uma sociedade patriarcal&machista&misógina

Apesar da série retratar uma sociedade patriarcal, são as personagens femininas que são mais complexas e bem construídas. Não apenas a protagonista, mas todo o elenco feminino de suporte tem uma força no olhar. A sensação que temos é que em cada canto de cena tem uma aura de revolução nos rondando e que a qualquer momento, essas mulheres vão se rebelar. Desde as serviçais da casa, até as esposas “imaculadas”, as expressões faciais, os sorrisos forçados, as frases curtas, o tom de resignação irônico, tudo nos faz esperar o momento em que essas mulheres irão reivindicar os seus lugares como protagonistas das suas histórias e lutarem pela sua liberdade.

Se eu fosse você não perderia nem mais um segundo, aproveita o fim de semana e corre para maratonar essa série incrível que com certeza já deixou seu lugar na história da TV mundial.

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Amanda Machado
Água de Salsicha

Médica, dançarina, educadora em Projeto Luar de Dança, escritora do quadro Mulheres em Ação na página Água de Salsicha. Sobretudo, feminista!