A história de uma missão

Vítor Benigno
Água de Salsicha
Published in
4 min readJan 5, 2017

Vamos logo ao que interessa. Darth Vader, pela primeira vez, em ação, justificando todo o pavor exalado por ele perante seus inimigos e, até mesmo, por seus aliados. A cena final demonstrou o ápice de poder de um dos maiores vilões de todos os tempos. Um dos melhores finais da franquia “Star Wars” contaminou a avaliação de Rogue One, se você estava achando o filme bom, saiu do cinema achando-o espetacular, se estava achando apenas regular, saiu achando o filme bom.

Rogue One cumpriu inapelavelmente sua proposta. É verdade que a ideia era ótima, contar a história de uma missão fundamental para o começo da trilogia clássica era extremamente justificável e necessário. Um desafio iminente era a definição da sequência das personagens , o porquê deles não aparecerem na continuação da história. A decisão era óbvia, todos deveriam morrer, mas a execução foi bem feita. Rogue One é a história de uma missão e não de personagens, isto é, o filme teria que contar as motivações para a missão e não se aprofundar na vida de cada herói. E isso foi feito.

O grande motivo de chacota do episódio IV sempre foi a tal falha na maior arma do Império. Como tal estação de batalha possuía um ponto fraco tão simples e vulnerável? Rogue One conseguiu solucionar este “defeito”. A missão foi cumprida. A explicação foi extremamente convincente, sabermos que o único homem capaz de finalizar a construção da Estrela da Morte foi forçado a realizar a tarefa e propositalmente criou um artifício para que o projeto fosse destruído se encaixou perfeitamente com a história.

Contudo, o grande ponto a ser destacado de Rogue One é eliminação de qualquer resquício maniqueísta de Star Wars. A Aliança Rebelde ganhou um tom de cinza até então nunca abordado. O filme deixou claro que a Aliança possui em seu interior grupos com diferentes graus de extremismo. A personagem Saw Guerrera (Forest Whitaker) é um antigo membro dos Rebeldes exilado justamente por sua conduta extremista. Somos apresentados a ele e a seu grupo como uma espécie de grupo terrorista, que, em ações violentas contra o império, coloca um grande número de civis em risco. Também vemos Cassian Andor (Diego Luna) executando um informante à sangue frio em prol da causa rebelde. Esse aspecto enriquece a franquia e nos traz uma grande esperança para uma abordagem similar nos episódios VIII e IX.

Outro interessante ingrediente trazido por Rogue One é a questão da Força. É o primeiro filme da franquia, onde, com exceção da cena final de Darth Vader, não há o uso de sabres de luz e muito menos da Força. No filme, a Força é tratada como uma espécie de religião, o mantra tão repetido durante o filme e adorado pelos fãs simboliza isso: “The Force is with me and I am one with the Force”. O personagem Chirrut Imwe (Donnie Yen) é um cego, sensível a Força, de uma forma muito sutil, é a primeira vez que tal fenômeno é apresentado nos filmes. Apesar de não ser um jedi, fica nítida a presença da Força na personagem e o filme expõe esse viés religioso para a Força de forma simples e arrebatadora.

Uma polêmica que vem sendo debatida desde a estréia de Rogue One é a utilização de personagens totalmente digitais. Há quem elogie, há quem critique, foi dito inclusive que a qualidade variava de acordo com a projeção de cada sala de cinema, se a sessão era 3D, se era 2D. A grande verdade é que foi investido muito para conseguirmos introduzir personagens que seriam importantes na história, principalmente Grand Moffin Tarkin, um importante vilão do episódio IV. A personagem é usada em algumas cenas ao longo do filme interagindo em mesmo plano com personagens não-digitais e é possível afirmar que ficou bom.

Enquanto isso, o surgimento de Leia Organa nos segundos finais do filme pareceu um pouco desnecessário, era possível executar a mesma cena sem realizar uma aproximação tão brutal no rosto da personagem e evidenciar seu formato digital. Porém, como a Força está conosco, tal cena acabou se tornando uma bela homenagem a grande Carrie Fischer, que acabou falecendo nos últimos dias de 2016, uma cena totalmente despretensiosa se tornou um grande tributo a eterna Princesa Leia.

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