A Vigilante do Amanhã e o preço da popularização

Arthur Ferraz
Água de Salsicha
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4 min readApr 3, 2017

No último dia 30 tivemos mais uma grande estreia, Ghost in the Shell ou, como ficou conhecido no Brasil, A Vigilante do Amanhã, finalmente chega as salas brasileiras. O filme é a adaptação de um dos animes mais queridos e aclamados do cinema e tinha a missão difícil de agradar os fãs antigos e adquirir novos. Ao chamar Scarlett Johansson para o papel da Major, o filme foi capaz de chama atenção do grande público, ainda que acusado de White Washing*.

White Washing: escalar atores brancos para atuar como personagens de outras etnias

Sinopse Relâmpago: a história se passa em um futuro caótico, quando homem e máquina começam a se fundir. Diversas partes do corpo podem ser substituídas por peças robóticas e Major é o primeiro humano com corpo totalmente eletrônico. Major trabalha na segurança do distrito 9 e vai ter que investigar um hacker que andou incomodando gente poderosa nos governos enquanto tenta entender mais sobre seu passado.

Alerta Fanboy: o autor desse texto é fã da franquia original e, portanto, as comparações são inevitáveis

Quem conhece o original já percebe que houve uma mudança significativa no plot, o que é bastante compreensível. Com um ritmo mais cadenciado e muito subtexto, o anime de 95 não é fácil de ser digerido e nem compreendido. Os produtores sabiam que seria um filme caro, portanto era necessário tornar a trama mais acessível para um público mais geral. Essa simplificação funciona em alguns raros momentos, porém na maior parte do tempo o que vemos é um excesso de diálogos expositivos, chegando ao ponto de se tornarem repetitivos. Se o original peca por ser complexo demais, a nova versão errou feio por ser didática demais.

Scarlett está excelente, ela encara muito bem a dualidade de um cérebro humano preso a frieza da máquina. O ponto é que sua personagem dependia muito dos diálogos e relações para funcionar, que são exatamente os pontos mais fracos do filme. As cenas de ação e de busca pelo passado de Major acabaram tomando tempo de diálogos ricos, tornando toda a discussão rasa e praticamente uma figurante.

Por outro lado, a cinematografia é disparado a melhor coisa do filme. A construção e o design da cidade são incríveis. A dicotomia de um universo polido e organizado, porém extremamente opressor é construída de forma sutil e eficiente. A cena inicial é uma das mais bonitas que vi ,não seria uma surpresa tão grande aparecer no Oscar concorrendo a alguma categoria técnica. Poucas vezes o 3D foi bem utilizado como aqui, ainda que com uma dose de exagero. O filme é muito bonito, ele sabe disso e vai esfregar isso na sua cara.

A nostalgia trabalha muito em favor do longa e o diretor não poupou em fan service. Desde cenas inteiras até detalhes mais sutis, o filme tem várias e várias referências ao material original. O anime já prezava muito pela estética, portanto os takes referenciados ajudam a compor a identidade visual. Já outras cenas ficaram totalmente sem conexão, ficando obvia a intenção de agradar os fãs. A trilha sonora funciona muito bem nesse aspecto, ainda que a música original só esteja presente nos créditos, seus acordes iniciais são utilizados em vários temas da nova trilha.

Na média, A Vigilante do Amanhã é um bom filme de ação, porém suas falhas de roteiro o tornaram apenas mais um. É realmente uma pena que a popularização da história tenha sido feita de forma tão simplória. Resta-nos torcer para o sucesso comercial e por uma continuação que revele todo o potencial desse universo.

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Arthur Ferraz
Água de Salsicha

Sagitariano que ignora qualquer informação sobre signos. Adora tecnologia e pensar sobre o futuro. Escritor do Água de Salsicha nas horas vagas