“Animais Fantásticos e Onde Habitam” — Pontualidade Britânica
Depois de infindáveis cinco anos, o universo “Harry Potter” está de volta aos cinemas. A notícia pegou de surpresa muitos fãs, a volta da magia aos cinemas sempre foi um grande desejo de uma geração que cresceu com a história criada por J.K. Rowling. “Animais fantásticos e onde habitam” estreou nesta semana coberto de expectativa e, até mesmo, dúvida por parte dos fãs. O filme possui o mesmo nome de um dos nove livros do mundo mágico escrito pela autora britânica. O ponto de interrogação que habitava a cabeça de muitos fãs era como iriam traduzir aquela pequena obra de poucas páginas e sem narrativa (praticamente um livro didático) em um filme. E a dúvida foi sanada. Produzido pela própria J.K. Rowling, o filme cumpre perfeitamente seu papel.
O spin-off conta com a presença do excelente Eddie Redmayne, vencedor do Oscar de melhor ator em sua brilhante atuação em “A Teoria de Tudo”, dá vida ao bruxo britânico Newt Scamander recém chegado a Nova Iorque. Por se passar cerca de setenta anos antes do nascimento de Harry Potter e em solo americano, somos apresentados a um mundo completamente novo. Somos introduzidos a uma nova organização política dos bruxos na América, diferente do tradicional Ministério da Magia. O universo mágico se expande de uma maneira extremamente cativante para os fãs, somos retirados das fronteiras do Reino Unido e introduzidos a um Estados Unidos em ebulição pós Primeira Guerra.
O filme consegue atrair diferentes públicos, seu apelo infantil se faz presente ao abordar sua, até então, principal temática “Animais Fantásticos”. Os efeitos especiais são bem explorados no longa e cativam as crianças a todo instante, ao sermos apresentados a criaturinhas simpáticas e exóticas. O grande ponto humorístico do mundo da magia sempre foi a fronteira entre o mágico e o não-mágico, ai está um dos grandes méritos de roteiro do filme. A escolha de Dan Fogles, como uma espécie de alívio cômico, caiu como uma luva. Dan interpreta Jacob Kowalski, um “trouxa” (não-bruxo) que se vê inserido nesta aventura mágica. A personagem passa durante o longa por diversas situações em que essa fronteira é rompida garantido momentos divertidos.
Os fãs nem precisariam ser cativados para serem atraídos para as salas de cinema, pois estes iriam de qualquer maneira. Contudo, J.K. Rowling e David Yates prepararam diversos detalhes especiais para esse público, o elo entre o novo filme e a história principal de “Harry Potter” é realizado em diversos momentos para deleite daqueles que cresceram naquele mundo, personagens importantes e outros nem tanto são citados no longa gerando até mesmo uma grande expectativa para a confirmação de haverá uma sequência…
Enquanto isso, o filme aborda um tema de grande relevância na atualidade. A intolerância. Esta temática sim é a grande protagonista da história e é nela que o grande público consegue identificar uma relevância social no filme e, ao mesmo tempo, nos mostra que J.K. Rowling sabe que sua geração de fãs cresceu e merece uma abordagem um pouco mais firme sobre o assunto. A intolerância sempre esteve presente no universo mágico, porém desta vez foi tratada de forma mais crua, neste spin-off não há aquele ambiente escolar de Hogwarts, estamos do outro lado do oceano em um cenário completamente urbano. A rejeição dos bruxos pelos “trouxas” (não-bruxos) de forma violenta é tratada de forma central na história. Durante todo o longa, é apresentada a questão do preconceito e intolerância pelo diferente, não poderiam ter escolhido melhor época para abordar este assunto.
“Animais fantásticos e onde habitam” surpreendeu. Foi feito para diferentes públicos, aborda um tema de grande importância e extremamente atual e, além disso, consegue cativar uma nova geração para o universo mágico. A expectativa agora é que haja uma sequência, um caminho foi preparado, basta seguir em frente.