"Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald" — Magia Bela e Turva

Caio Simão
Água de Salsicha
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8 min readNov 12, 2018

Segundo filme de cinco do Mundo Bruxo de J.K. Rowling traz belo espetáculo visual e trama confusa.

A magia do Mundo Bruxo está de volta aos cinemas. "Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald" é o segundo filme de cinco programados para um maior desenvolvimento do mundo de J.K. Rowling nas telonas. O primeiro, "Animais Fantásticos e Onde Habitam" saiu em 2016 e foi indicado a 2 Oscars tendo levado o de Melhor Figurino para casa(Colleen Atwood). A outra indicação foi para Melhor Design de Produção.

A Warner percebeu que esse Mundo ainda interessa e desperta a curiosidade de muita gente. Desde "Potterheads" até o espectador de blockbuster, lançar algo com personagens clássicos de Harry Potter é certeza absoluta de bilheteria astronômica. Os 7 livros foram sucessos estrondosos e suas adaptações cinematográficas não ficaram muito atrás, apesar das clássicas reclamações dos problemas que envolvem os ajustes de obras literárias cultuadas. O resultado foi uma cicatriz gigantesca na Cultura Pop, muito maior que a de Harry . De 1997 até 2007 os livros foram sendo lançados, causando frenesi na porta de livrarias e salas de cinema abarrotadas de gente(2001 até 2011). Até um parque de diversão temático foi criado em Orlando para celebrar e materializar esse universo alternativo.

Sendo assim, porque não continuar explorando tudo isso? J.K. Rowling foi chamada para roteirizar filmes que antecedem as histórias que já vimos, inspirada no próprio livro sobre as criaturas mágicas e sensíveis do Mundo Bruxo e uma pentalogia foi armada. Agora, a grande diferença é que não sabemos de nada que vai se passar no cinema, já que os livros na realidade são o roteiro original dos filmes, lançados depois das estreias. Esse desconhecimento total traz um aspecto a mais de suspense e expectativa para esses novos filmes, ainda mais com a possibilidade de sabermos novos fatos sobre personagens tão queridos da franquia original. Adiciona-se a isso a criação dos novos personagens, que vêm com a essência dessa realidade alternativa que só J.K. Rowling consegue imprimir. Sua fortuna estimada em US$ 442 milhões não veio por acaso.

O filme é estrelado por Eddie Redmayne, Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol, Ezra Miller, Zoë Kravitz, Callum Turner, Claudia Kim, William Nadylam, Kevin Guthrie, Carmen Ejogo, Poppy Corby-Tuech; com Jude Law e Johnny Depp.

"Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald" é dirigido por David Yates(que dirigiu os 4 últimos filmes da franquia Harry Potter e também o primeiro dessa nova pentalogia), a partir de um roteiro de J.K. Rowling. O filme é produzido por David Heyman, J.K. Rowling, Steve Kloves e Lionel Wigram. Tim Lewis, Neil Blair, Rick Senat e Danny Cohen são produtores executivos.

O longa estreia dia 15 de novembro no Brasil e é distribuído pela Warner Bros. Pictures.

Grindelwald, Dumbledore, Newt Scamander, Leta Lestrange.

Sinopse

O poderoso mago das trevas Gerardo Grindelwald(Johnny Depp) cumpre sua promessa e foge da captura pelo Congresso Mágico dos Estados Unidos da América(MACUSA). Seu objetivo agora é reunir seguidores que comprem sua ambiciosa causa: criar magos de sangue puro para dominar as duas realidades, determinando uma maior liberdade e acabando com a necessidade dos bruxos em se esconder. Para impedir essa impiedosa dominação, Alvo Dumbledore(Jude Law) recruta seu ex-aluno Newt Scamander(Eddie Redmayne) e o cientista imparcial amante das criaturas fantásticas vai ter que escolher um lado em um mundo bruxo cada vez mais dividido.

O filme do vilão

Acertou quem pensou que Johnny Depp rouba a cena. Grindelwald é um personagem que deixa o ator em sua zona de conforto para improvisar, afinal, se tem uma coisa que Johnny Depp fez em sua carreira, foram bons personagens excêntricos. Grindelwald é um vilão até mais complexo que Voldemort, que tinha uma motivação exclusivamente vil. No caso de Grindelwald, a crueldade vem com uma dose de persuasão e charme, além do grande poder como mago das trevas. Seu discurso é mais complexo e convincente, atende demandas de um mundo bruxo que queria parar de se esconder e ganhar mais liberdade frente ao controle de órgãos como a MACUSA e não simplesmente dominar o mundo com pretensões megalomaníacas que envolviam a total destruição de bruxos que não tinham o sangue puro, como é a ideia para Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado.

Sendo assim, a franquia de Animais Fantásticos já ganha ao propor um vilão que busca sair um pouco da mesmice maniqueísta de Voldemort. Não se engane, o bem contra o mal ainda está presente, mas nesse caso com uma dose a mais de complexidade e compreensão.

Elenco principal

O excelente Eddie Redmayne está bem de novo como Newt Scamander, apesar de ser menos protagonista. Seu olhar tímido, sua habilidade com os incríveis animais do Mundo Bruxo e sua perspicácia fazem com que o público se interesse e goste dele com facilidade. É um personagem deveras cativante, que busca sempre fazer a coisa certa, sem maiores pretensões de poder. Um clássico heroi improvável.

Jude Law faz uma boa recriação do passado de Alvo Dumbledore. Os trejeitos do amado personagem da franquia original estão lá e talvez isso tenha sido a maior aposta para alavancar a bilheteria desse filme. Quem não quer saber mais sobre o passado de um dos personagens mais intrigantes da franquia Harry Potter? Sua sexualidade é explicitada em importante parte do roteiro, mesmo que de maneira muito branda, em clara tentativa da direção em fugir de polêmicas.

Katherine Wasterson está bastante apagada no filme como Tina Goldstein, que teve muito mais destaque no primeiro filme dessa nova franquia. Sua participação foi quase descartável para o desenrolar de um enredo com muitas tramas e personagens a serem desenvolvidos. A impressão que deu é que não tinha mais para onde desenvolver a personagem e ela cumpriu uma cota desinteressante.

Dan Fogler vive de novo Jacob Kowalski e o carismático alívio cômico continua a arrancar risadas da plateia, mas agora tem um caráter um pouco mais sério. Seu romance com Queenie Goldstein, vivida pela belíssima Alison Sudol ganha um foco diferente que teve destaque exagerado(em termos de tempo de tela), mas justificado pelo final do filme.

Temos ainda Zoë Kravitz, a filha do rockstar Lenny Kravitz, dando vida mais uma vez a Leta Lestrange, a bruxa de sangue puro da tradicional família. Sua atuação é interessante, mas unidimensional em um drama sofrido e escuro. Ainda, seu arco é um dos melhores da história e portanto, sua participação consegue surpreender positivamente.

Por fim, Ezra Miller retorna como Credence e apesar do pouco tempo de tela, consegue emocionar o espectador quanto a sofrida e misteriosa trajetória de seu personagem. Sua atuação é certamente a de maior carga dramática de todos e seu contexto é o mais intrigante. Ele se aventura ao lado de Nagini(Claudia Kim), a futura cobra de Voldemort, que viria a ser uma horcrux, aqui ainda na forma humana.

O roteiro de J.K.

O roteiro original escrito por J.K. funcionaria melhor na forma de livro. São muitos personagens e muitos arcos diferentes que se encontram em pontos comuns no final da história. É uma grande aventura que tem aspectos que já vimos várias e várias vezes em outros filmes e ainda assim consegue ser confuso. Como você viu na seção anterior, a ideia de propor muitos personagens e tentar desenvolvê-los no mesmo filme, acabou não desenvolvendo bem alguns deles e deixando alguns diálogos e monólogos longos demais em um ritmo definitivamente cadenciado, o que prejudica o fator de entretenimento em alguns momentos.

Espetáculo visual

O ponto alto de "Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald" é a junção de fatores que deixam o filme um colírio para os olhos: uma fotografia bela e predominantemente em tons mais escuros como é coerente e característico, efeitos visuais de última geração e principalmente, um figurino espetacular em sets belíssimos. A figurinista Colleen Atwood, vencedora de quatro Oscars(inclusive pelo primeiro filme dessa franquia) não economizou aqui e a mistura do Mundo Bruxo com os anos 20 está muito bem representada. Ponto para a equipe de design de produção também.

Nostalgia e trilha sonora

É muito bom ver Hogwarts de novo nos cinemas. Esse e outros fan services(como a personificação do importante bruxo Nicolau Flamel)que impulsionam uma nostalgia deliciosa quanto à franquia original não poderiam faltar. A música tema da franquia abre o filme e é utilizada em cenas que remetem mais fortemente os filmes e livros de Harry Potter. A trilha do oito vezes indicado ao Oscar James Newton Howard é orquestrada e tem a essência de todos os outros filmes. É fundamental para esse universo uma trilha sonora pesada e que esteja em sintonia com as cenas, o que acontece aqui.

Saldo

"Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald" traz um vilão mais complexo e bem desenvolvido, mas peca com um roteiro confuso e com personagens centrais em demasia. O filme vale a pena pela nostalgia que só o Mundo Bruxo pode proporcionar, além de sua grande produção em termos visuais. O filme prepara o cenário para os próximos episódios e se não causa grande ansiedade para a sequência, pelo menos deixa o espectador intrigado quanto ao que vai acontecer. O final do filme é bem escondido e vai surpreender, apesar de ter sido um pouco artificial.

Se você é um "Potterhead", tem a obrigação de ver no cinema e é muito provável que saia de lá feliz. Se não é, talvez fique confuso e entediado, mas ainda assim saiba que vai ver uma grande produção de aspectos técnicos elogiáveis.

"Quem vai mudar o futuro?"

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Caio Simão
Água de Salsicha

Crítico de Cinema e apaixonado também por diversos tipos de esportes. É vascaíno fanático e ama o Marvin, seu cachorro. Nas horas vagas, é Engenheiro Químico.