Café: Amargo e Azedo porém Perfumado

Arthur Ferraz
Água de Salsicha
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4 min readAug 12, 2018

O novo filme do diretor Cristiano Bortone fala sobre as complicações da vida contemporânea, e sobre café é claro!

No próximo dia 02 de Agosto, teremos a estreia do filme Café nos cinemas brasileiros. O longa é uma coprodução entre Itália, Bélgica e China, e será distribuído pela California Filmes aqui no Brasil. Assinado pelo diretor Cristiano Bortone, Café ainda conta com os atores Hichem Yacoubi, Dario Aita e Fangsheng Lu no elenco.

Sinopse:

O filme conta três histórias ligados pelo elemento simbólico do café. Na Bélgica, o iraniano Hamed tem sua loja saqueada e perde sua querida jarra de café. Na Itália, o jovem Renzo, desesperançoso com seu futuro, decide participar de um roubo a uma fábrica de café. Já Ren Fei é um bem sucedido gerente que é designado para tratar de questões de sua empresa na fronteira entre a China e o Laos.

Pontos Fortes:

Uma das primeiras coisas positivas que salta ao espectador é a utilização de vários idiomas ao longo da história. Chinês, francês, italiano e até alemão aparecem, sempre respeitando a origem e etnia de cada personagem. É positivo quando isso ocorre pois contribui não só na imersão do espectador, como também traz uma riqueza cultural a obra.

O arco de Hamed é muito positivo para a trama, o contraste entre os personagens é meio clichê, mas funciona. Enquanto um é um homem do “bem” e “de família” que tem atitudes questionáveis, o outro é “mal” e “bandido” que tem seus atos coerentemente construídos. Essa antítese se encaixa perfeitamente no ambiente de caos e desesperança que permeia todo o filme.

Além disso, o argumento é bastante interessante. Existe toda uma comparação entre o café e o modo como enxergamos a vida. Assim como a bebida, podemos passar uma vida inteira no amargor, mas prestando atenção a seus detalhes, somos capazes de apreciar seu aroma e até mesmo encontrar alguma doçura.

Pontos Fracos:

Diferentemente do arco Belga, as outras tramas não funcionam muito bem. O uso excessivo de clichês só faz com que o público tenha pouca empatia com os personagens. Mudanças repentinas tiram a credibilidade da história e enfraquecem toda a trama.

Embora o argumento seja forte e bastante interessante, o excesso de exposição é um ponto fraco do filme. É sempre complicado essa questão: o autor quer atingir o maior número de pessoas com seu argumento, porém ser muito didático torna a história pedante. Infeliz, Café peca ao tentar esclarecer sobre o que se trata, chegando ao cúmulo ter um diálogo explicando todo o ponto do filme.

Café é rico em premissa, ousado ao estabelecer diversos arcos em culturas diferentes, porém peca em sua simplicidade. Se fossem gastos mais alguns minutos a mais com desenvolvimento dos personagens, poderíamos ter uma obra muito mais assertiva e profunda. De qualquer forma, é um filme que aborda questões importantes e merece ser debatido.

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Arthur Ferraz
Água de Salsicha

Sagitariano que ignora qualquer informação sobre signos. Adora tecnologia e pensar sobre o futuro. Escritor do Água de Salsicha nas horas vagas