Como a Disney acertou em trazer uma Fera mais bela e uma Bela mais feroz

Amanda Machado
Água de Salsicha
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5 min readMar 16, 2017

A Bela e a Fera, animação de 1991, arrebatou o coração de crianças, jovens e adultos à época e vem conquistando gerações desde então. Para quem se viu de olhos brilhando ao assistir a animação e estava órfão da beleza do grande clássico da Disney, a notícia do lançamento do remake em live-action fez muita gente grande suspirar por aí. Todo esse sucesso não é a toa, a animação da Disney apostou em uma história totalmente diferenciada dos outros contos de fada e acertou tanto que fez história. A Bela e a Fera foi a primeira animação a ser indicada para o prêmio de Melhor Filme no Oscar.

Assim sendo, A Bela e a Fera, o filme em live-action de 2017, já sai da largada em vantagem ao arrastar milhões de fãs ao cinema em busca do sentimento nostálgico nutrido pelo drama. Nesse quesito, o filme não peca em um só segundo. É pura nostalgia e celebração. Cenas, diálogos, enquadramentos, figurino, músicas. Tudo muito bem elaborado e em consonância com a animação. Com alterações mínimas no roteiro, a história é centrada em uma região do interior da França, onde vivem Bela e seu pai, Maurice, e onde fica o castelo do príncipe amaldiçoado. Bela é uma moça inteligente e destemida que é rejeitada pela população do vilarejo. Sua vida pacata passa por uma reviravolta quando seu pai desaparece no bosque e acaba se tornando prisioneiro de uma besta. Bela parte em busca de seu pai e ao encontrá-lo, se oferece para ficar em seu lugar como prisioneira da Fera.

A extrema semelhança com a animação é um dos pontos altos do filme. Apesar das críticas em relação à falta de criatividade e à pobreza de roteiro e direção nesse aspecto, a fidelidade garantiu uma conexão incrível entre público e obra. Se surpreender com a perfeição da reprodução é extremamente empolgante. Além disso, grandes mudanças seria muito arriscado, visto que é uma história muito completa e fechada e que é justamente o público apaixonado por esse clássico que lota as salas de cinema hoje.

Ainda que mínimas, as pequenas introduções no roteiro foram muito acertadas. As cenas permitem que conheçamos melhor o passado dos protagonistas e suas personalidades e, explicam o contexto em que o castelo foi enfeitiçado e como funciona essa maldição. Para quem nunca precisou de explicações antes, as cenas são uma grata surpresa e uma adição extremamente enriquecedora para a narrativa.

Muito comentado pela mídia antes da estreia, por conta da sua orientação sexual e paixão nada reprimida por Gaston, o personagem Le Fou ficou impecável. Quando Josh Gad estava na tela as gargalhadas eram certas. Uma interpretação muito boa apesar de óbvia. A Disney quis mostrar que está apostando na diversidade, mas retratar um homossexual totalmente afeminado não foi tão ousado assim.

Outro acerto foi uma leve mudança na personalidade de Bela, mais impetuosa e desafiadora, a Bela de Emma Watson não surpreendeu tanto, porém demonstrou estar mais consciente do seu processo de amadurecimento, se questionando inicialmente sobre quem queria ser, desafiando a sociedade com sua postura “inadequada” e desejando participar do processo de mudança que ela queria ver.

Como não era de se esperar, visto que estamos falando de um filme da Disney, os efeitos visuais em alguns momentos deixaram a desejar. Os objetos animados tão característicos da história não compuseram tão bem quanto era de se esperar. Alguns, inclusive, não pareciam os objetos que deveriam ser. Faltou cor e vida em muitos momentos, especialmente em Lumière, o castiçal mais amado do planeta.

Outro destaque negativo é a cena de ação final. Como o desfecho já é velho conhecido do público, faltou empolgação e suspense, se tornando a parte mais chata do filme. Algumas alterações nesse recorte poderiam tirar as cenas da previsibilidade sem alterar o gran finale tão esperado. Além disso é muito escuro. Tudo tão óbvio.

Se existe algo em que seria impossível errar em A Bela e a Fera é a trilha sonora. As músicas que conquistaram nossos corações nos anos 1990 estão lá, renovadas. Além das nossas queridinhas, como Beauty and the Beast e Be Our Guest, a trilha sonora está recheada de composições novas, inclusive com uma grande surpresa. Uma música em que a Fera estrela sozinha.

A nova versão ainda conta com atores de grande renome e que de uma forma muito surpreendente, estão bastante difíceis de serem reconhecidos. Você vai se espantar ao ver os nomes de Ian McKellen e Ewan McGregor nos créditos finais. Especialmente o último, que está irreconhecível. O que me leva a outro ponto, maquiagem e figurino. Ambos, simplesmente, impecáveis. Muito luxo, muita cor, muito contraste.

O filme é lindo para quem já amava a história. Sem dúvida conquistará a todos que ainda não foram apresentados a história. Uma incrível celebração de um dos filmes que redefiniram o conceito de ser menina e ser princesa no imaginário de meninas por todo o mundo. Apesar de 25 anos terem se passado desde a sua estreia, ainda consegue ser extremamente contemporâneo em sua proposta de mostrar que o amor verdadeiro é o que importa e que pode florescer até mesmo nos corações mais fechados.

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Amanda Machado
Água de Salsicha

Médica, dançarina, educadora em Projeto Luar de Dança, escritora do quadro Mulheres em Ação na página Água de Salsicha. Sobretudo, feminista!