Fome de Poder: quem fundou o McDonald’s?

Arthur Ferraz
Água de Salsicha
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4 min readMar 17, 2017

O McDonald’s é um dos maiores símbolos da cultura americana e é de se espantar que nunca tenha sido feito um grande filme sobre sua trajetória. Fome de Poder promete corrigir isso, nos contando mais sobre o polêmico início da rede de fast-food. Dentre vários personagens e perspectivas que contornam essa história, o diretor John Lee Hancock escolheu contar do ponto de vista do controverso Jay Kroc (Michael Keaton).

Sinopse Relâmpago: Jay Kroc é um vendedor de máquinas de milkshake que, apesar de sua lábia, não tem tido muito sucesso profissional. Em uma de suas vendas, conhece um restaurante que utiliza um sistema de funcionamento diferente, o até então desconhecido, fast-food. Reconhecendo a genialidade da ideia, o vendedor convence os irmãos McDonald’s a gerenciar um esquema de franquias.

Uma das coisas mais legais que o filme passa pra gente é a ambientação dos EUA na década de 50. Nesse período, o país passava por uma época de prosperidade e crescimento econômico. A classe média vivia por um período de esperança e de sonhar grande, Kroc é um interessante reflexo do seu tempo. As cores vibrantes, a trilha sonora empolgante, tudo nos leva a embarcar naquela aventura em busca da riqueza.

O roteiro é o ponto mais fraco do filme, o que acabou comprometendo boa parte do todo. Logo no primeiro ato ele peca por excesso de didatismo, Kroc almoça em um restaurante com todos os defeitos que o McDonald’s promete corrigir logo antes de conhecê-lo. Além disso, os irmãos criadores do fast-food contam a sua história através de um diálogo totalmente forçado, capaz de tirar o espectador da trama. As coisas pioram ainda mais ao desenrolar da trama, constantemente são criados problemas enormes que são resolvidos ao esbarrar com alguém na rua. A repetição dessa fórmula torna a trama não só previsível, mas cansativa para o espectador.

Naturalmente, o fraco roteiro afetou negativamente os personagens. Os irmãos Richard (Nick Offerman) e Maurice (John Carroll Lynch) são os mais interessantes da trama, mas se tornam irrelevantes prematuramente. Jay Kroc tinha muito potencial para se tornar um personagem complexo, porém ele se torna um personagem confuso. Jay é extremamente carismático e é difícil não gostar dele logo de cara. Porém, ele começa a agir de forma inescrupulosa, principalmente com quem está do lado dele. Ainda que o personagem mude de atitude, não existe uma evolução de caráter, ele é a mesma persona desde o início. As decisões totalmente erradas que toma são representadas como meros infortúnios no caminho para o sucesso, não existe peso nem drama.

“Contratos são como corações, são feitos para serem quebrados” — Jay Kroc

Nos aspectos técnicos, Fome de Poder fez bem o dever de casa. Nada é excepcional, porém tudo é bem feito. A trilha sonora merece destaque, ajuda muito a criar no imaginário aquela América de esperança. A música é um dos poucos fatores que parece evoluir com a trama. No começo os temas são alegres e leves, e vão ganhando peso e tensão com o tempo.

Jay Kroc (à esq.); Michael Keaton (à dir)

Infelizmente parece ter havido uma dificuldade na mensagem que o filme queria passar. Em momentos parece uma sátira sobre o empreendedorismo americano, em outros parece ser conivente com os absurdos cometidos por Kroc. Apesar de muitos problemas, Fome de Poder é divertido e vai te contar sobre o McDonald’s, só não espere que ele seja crítico. Esperamos ainda por um grande filme que traga o peso que essa história merece ter.

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Arthur Ferraz
Água de Salsicha

Sagitariano que ignora qualquer informação sobre signos. Adora tecnologia e pensar sobre o futuro. Escritor do Água de Salsicha nas horas vagas