IT: A Coisa — Flutuando Entre Gêneros

Caio Simão
Água de Salsicha
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5 min readSep 20, 2017

As razões do sucesso de mais uma adaptação de Stephen King

IT: A Coisa (2017)

Existem filmes que são capazes de chamar a atenção por diversos motivos. No caso de IT: A Coisa(2017) podemos citar o enredo já conhecido pelo sucesso do livro de Stephen King, publicado em 1986 e adaptado em uma mini-série para a TV já em 1990, quando o enigmático Tim Curry deu vida ao palhaço dançarino Pennywise, grande protagonista desse Universo.

O público então já é mais do que familiarizado com a história, que traz um personagem icônico, daqueles que dificilmente saem da memória. O filme é graficamente chamativo, provoca imensa curiosidade para entendermos melhor do que se trata toda aquela trama com um palhaço demoníaco e um grupo de crianças a seu alcance. Em 2017, temos também muito mais recursos técnicos para transportarmos a agonia da imaginação de quem leu o livro para a projeção. A versão de 1990 tem lá suas qualidades, mas IT merecia algo mais impactante.

Seja pela capa amarela, pelo balão vermelho ou pela figura de Pennywise, o filme é representado com poucas imagens ou referências, muito fácil de ser reconhecido. É o sonho de toda obra que tem a pretensão de cicatrizar e deixar sua marca na Cultura Pop.

A sinopse relâmpaga

Um grupo de crianças que sofriam com o bullying e diversos dramas pessoais se unem quando um demônio capaz de modificar sua forma, tomando sempre a aparência de um palhaço assustador começa a caçar crianças, que não param de desaparecer na cidade.

A atuação das crianças

Destaque para dois integrantes do Clube dos Perdedores: Beverly Marsh(Sophia Lillis) e Richie Tozer(Finn Wolfhard). A primeira é a única menina do grupo e a que passa pelas situações mais dramáticas, seja pelo seu próprio drama vivido ou pelas peripércias do palhaço dançarino. A famosa cena do banheiro dá de 1000 a zero na primeira e é uma das melhores do filme. A menina é destemida, rebelde e não se deixa abater pela tamanha hostilidade dos ambientes em que vive. Talvez seja ela o grande elo do grupo.

Beverly Marsh(Sophia Lillis)

O segundo é o responsável por equilibrar as situações de horror com um humor avançado pra idade, afiadíssimo. É o tão celebrado alívio cômico do filme. As melhores piadas saem da boca de Richie, vivido por Finn Wolfhard, o grande líder e um dos protagonistas(Mike) da hit-series da Netflix, Stranger Things.

Richie Tozier(Finn Wolfhard)

O resto do grupo tem atuações boas, que se complementam. Todos eles são apresentados no arco inicial do filme e suas motivações estão claras, coisa que não acontece com nosso célebre vilão, mas isso está marcado para a continuação do filme. Uma melhor apresentação e o passado de Pennywise talvez ajude a entender melhor o mistério que ronda a Coisa, ou não, talvez confunda ainda mais a todos, mas é algo que desperta a curiosidade dos espectadores. O desconhecido causa medo e estranheza, não saber muito sobre a Coisa nesse filme inicial é positivo para causar horror e suspense.

O Clube dos Perdedores: Bill. Richie, Beverly, Stan, Eddie, Mike e Ben.

Quem é a Coisa afinal?

O ator sueco, Bill Skarsgärd.

Bill Skarsgärd é o responsável pelo aterrorizante Pennywise, o que é chave para o longa. Ele, que fez os atores mirins chorarem em diversas cenas do filme, trouxe um fator diferente do filme de 1990 em representação de Tim Curry. Em 1990, bastava estar maquiado de palhaço e mal intencionado e pronto, aí estava construído o personagem. Na versão de 2017, em trabalho impressionante, Bill trouxe a loucura para a atuação, impulsionado pelos recursos técnicos de maquiagem, figurino e computação. Impossível saber o que esperar do grande vilão, suas ações e capacidades são tão desconhecidas quanto suas motivações e seu passado.

Os gêneros irão flutuar

O grande mérito do filme é não se prender a um só gênero e assim conseguir atrair os mais diferentes gostos ao cinema, tendo o filme quebrado um recorde por dia de bilheteria em sua primeira semana em cartaz. O filme é um misto de drama, horror, suspense, comédia e acaba se tornando uma grande aventura. É uma colcha de retalhos temática, nostálgica e cativante.

Com o perdão do trocadilho, os gêneros flutuam e conversam entre si, produzindo uma obra que é muito superior a mini-série televisiva de 1990 e está a altura do que o livro é. O próprio Stephen King se empolgou e aprovou o longa, tendo o assistido por duas vezes em poucos dias. Sua aprovação não é muito frequente, tendo o mesmo declarado que detesta a adaptação de seu livro, o aclamado filme de Kubrick O Iluminado(1980).

O saldo

Com um roteiro bem adaptado do livro, uma variação interessante de gêneros, a ajuda de modernos recursos técnicos e boas atuações, certamente o filme de 2017 é passível de recomendação. Não se prenda a preconceitos de gêneros, o filme é capaz de provocar uma grande variedade de emoções e reações, desde o riso com a mais sórdida das piadas até o horror provocado pelo palhaço dançarino e suas formas diversas. É claro que os fãs mais árduos sentirão falta de uma abordagem ou outra, naturalmente uma adaptação vem com falhas já em sua concepção. Entretanto, o filme tem potencial para cicatrizar na Cultura Pop e sua já confirmada continuação tem tudo para levar muita gente ás telonas.

Stephen King: O criador e fã do Boston Red Sox.

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Caio Simão
Água de Salsicha

Crítico de Cinema e apaixonado também por diversos tipos de esportes. É vascaíno fanático e ama o Marvin, seu cachorro. Nas horas vagas, é Engenheiro Químico.