Legion, a série dos X-Men, que revolucionou o gênero de super-heróis

Matheus Ferreirinha
Água de Salsicha
Published in
5 min readApr 14, 2017

Com toda certeza Legion é algo diferente de tudo que vimos até agora para o universo dos quadrinhos. Trazendo a adaptação de um dos mutantes mais complexos e, ao mesmo tempo, muito pouco conhecido, a série da FX foi capaz de surpreender todos os seus telespectadores.

A produção conta a história de David Haller, interpretado por Dan Stevens, um jovem que acreditou por toda sua vida sofrer de transtornos psiquiátricos, mas que descobre que muitos dos seus delírios e atitudes foram apenas manifestações dos seus poderes. Quando acompanhamos a vida de um mutante dotado de um nível de manipulação da matéria e de psiquismo, é extremamente trabalhosos encontrarmos um bom inimigo para o mesmo. Dessa forma, David acaba tendo que enfrentar ele mesmo, ou melhor, uma parte dele que vivia escondido em seu subconsciente por anos…

Enquanto nos quadrinhos esse mutante nível ômega enfrenta literalmente a si mesmo por sofrer de um transtorno de personalidade múltipla, em Legion ele deve enfrentar uma espécie de parasita que entrou em sua mente desde quando era somente um bebê. Mesmo perdendo o aspecto principal do material original, a série foi capaz de retratar fielmente essa sensação de insegurança que David possui com seus poderes, deixando muitas vezes o espectador duvidando da realidade dos fatos que acontecem.

Uma das maiores expectativas era que Legion de algum modo se integrasse com os atuais filmes dos X-Men. Infelizmente, com a bagunça da linha temporal nos longas, os produtores preferiram se distanciar dessas teorias. Isso foi feito ao ambientarem a série em um universo anacrônico, tornando quase impossível sabermos exatamente em que momento da história a produção se passa. Ainda assim, o rápido flash da cadeira de rodas do Xavier em um dos últimos episódios confirma que pelo menos sua origem está preservada. Quem sabe não teremos algumas surpresas na segunda temporada?

Outro tema de grande discussão foi o tom que a série teria. Tratando de um herói com material original pouco difundido, o público não sabia muito o que esperar. Felizmente, os produtores acertaram em cheio trazendo uma mistura fascinante de humor, ficção-científica, terror psicológico e ação. Apesar de parecer confuso e terrível essa grande transição de gêneros, o ritmo ideal no qual são introduzidos acompanha o enredo e o psicológico de David, se tornando um elemento do enredo inteiramente próprio.

Nesse contexto, temos a produção de um episódio inteiramente dentro da mente de David. Um recurso extremamente perigoso, principalmente quando a série estava chegando em seu clímax, mas que foi rapidamente justificado. Tirando os holofotes de Dan Stevens, foi o momento em que pudemos observar todo o brilhantismo de Audrey Plaza ao interpretar Lenny, a grande vilã e melhor amiga de David. Se não fosse o suficiente, o episódio é ambientado em Clockworks, o manicômio que David ficou internado por um longo período, sendo uma referência direta a obra Laranja Mecânica tanto pelo seu nome, cores e tom. Ao mesmo tempo, isso destacou o grande ponto fraco de Legion, seus personagens.

Mesmo que o binômio principal, David-Lenny, tenham sido perfeitamente interpretados e vastamente explorados, os personagens de suporte da trama foram por muitas vezes esquecidos. Ao longo da série,conhecemos os outros participantes da trama com uma pequena introdução para sua história e seus poderes. Entretanto, rapidamente perdemos o interesse por suas narrativas. De modo contrário, o personagem mais intrigante foi o menos exposto, Oliver o telepata que ficou congelado por mais de uma década após ficar preso no plano astral.

De qualquer modo, a série foi capaz de produzir um efeito muito similar ao do longa Amnésia no qual o protagonista sofre de perda de memória recente, tornando a cronologia narrativa, ao mesmo tempo, angustiante e instigante. Similarmente, Legion aborda essa dificuldade narrativa pela falta de credibilidade nas memórias de David. Isso torna tanto o futuro quanto o passado misteriosos para o telespectador, fazendo com que o mesmo passe pela experiência de David ao ser confrontado por suas verdades anteriores. Um recurso perfeito para o que a série procura adaptar.

No fim, Legion representa um grande passo para as séries de super-heróis, trazendo o gênero mais próximo não só do grande público, mas também dos cinéfilos e da crítica especializada. Isso faz com que a produção ganhe um peso ainda maior para sua continuação, com grandes expectativas para seu enredo e inovações quanto a direção.

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Matheus Ferreirinha
Água de Salsicha

Amante de livros, quadrinhos, séries e filmes. Jogador em tempo integral. Escritor amador. Médico nas horas vagas.