Me Chame Pelo Seu Nome: Contemplação e Sensibilidade

Caio Simão
Água de Salsicha
Published in
5 min readJan 26, 2018

Os destaques do filme são sua sensibilidade, a atuação maravilhosa de seu jovem protagonista e a fotografia belíssima.

Me Chame Pelo Seu Nome(2017)

Desde que foi lançado no início do ano passado durante o Festival de Sundance, esse filme internacional que divide sua procedência por 4 países(Itália, França, EUA e Brasil) fez muito barulho. O filme foi aclamado pela crítica e desde então levantou a curiosidade de muitos. No último dia 23, a película recebeu 4 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Canção Original(Mystery of Love por Sufjan Stevens), Melhor Roteiro Adaptado(já que o enredo provém de um livro) e Melhor Ator para Timotheé Chamalet, o protagonista Elio.

O Brasil aparece nessa lista porque um dos produtores mais importantes e influentes para que o filme acontecesse é Rodrigo Teixeira, o maior produtor do país atualmente, intimamente ligado a Martin Scorsese e Brad Pitt.

O produtor Rodrigo Teixeira, esperança de Oscar tupiniquim.

A sinopse relâmpaga

Em algum lugar ao norte da Itália em 1983, o jovem Elio de 17 anos se apaixona por Oliver, assistente de pesquisa de seu pai, que veio visitar e morar com a família apenas durante o verão. Elio se conecta enquanto procura entender sua sexualidade emergindo, seu legado judaico, tudo sob paisagens italianas marcantes.

A trilha sonora

Destaque especial para essa parte primordial de um filme.Cada vez mais vemos trilhas conectadas com os filmes, que ajudam a montar o cenário e impulsionam a imersão. O grande responsável por isso no filme é Sufjan Stevens, que com duas canções originais te coloca dentro do sentimento que o filme tenta passar. "Mystery of Love"(indicada a Melhor Canção Original) e "Visions of Gideon"(música que encerra brilhantemente o filme) merecem muita atenção. Fica aqui, em particular, minha torcida pelo Oscar nesse quesito. Pra quem não conhecia o cantor americano, é um prato cheio.

Sufjan Stevens

A atuação

Timotheé Chalamet está concorrendo ao Oscar de Melhor Ator aos 22 anos ao lado de Daniel Day Lewis, Denzel Washington e Gary Oldman, além do também novato Daniel Kaluuya. Só esse fato já dá a dimensão do que foi seu trabalho em Me Chame Pelo Seu Nome.

Suas expressões passam com precisão as grandes questões internas que sua paixão por Oliver causam. É um momento de turbilhão de emoções que vão claramente moldando uma identidade para o menino durante o filme. Sua relação com a religião, com seus pais, com sua sexualidade. É um momento de constantes descobertas e em muita quantidade. Suas dúvidas e decisões estão muito bem representadas pelo ator, o claro protagonista do longa.

Timotheé Chalamet, a grande atuação do filme.

A cena de encerramento do filme fala por si só. A variação de expressões tenta passar a história de seu relacionamento e os sentimentos provocados. Desde o sofrimento de uma paixão arrebatadora até a saudade deixada e a consciência que sua vida está apenas começando nesse sentido. Uma indicação muito merecida. Pelo o que estão dizendo, Gary Oldman deve ser o premiado, mas não seria nenhum absurdo ver o prodígio com a estatueta em mãos. Grande trabalho!

O roteiro adaptado e o desenvolvimento do enredo

O roteiro do filme é extremamente sensível e brilhantemente adaptado. Destaque total pra uma das cenas finais do monólogo memorável do pai de Elio. Clareza, amor e compreensão. Um pouco de inveja até. Um discurso fantástico, que deveria ser reproduzido por muita gente que passasse por essa condição. Empático e humano demais.

O ponto fraco do filme fica por conta do desenvolvimento da história. Não há. O filme portanto perde um pouco por não saber muito pra onde ir, pensando estritamente no entretenimento. O filme é mais uma adoração técnica. Ele te prende pela fotografia estonteante de paisagens lindas italianas, a trilha já mencionada e uma filmografia de takes ousados, que complementam muito bem a obra.

Pros mais impacientes como foi o meu caso, o filme poderia ter uma duração menor. Olhei para o relógio algumas vezes mais para o final, o que é um péssimo sinal. Mesmo assim o filme consegue sim te prender muito pelos aspectos técnicos, algo muito raro de se ver. A mera rotina daquela família e o ambiente muito bem contextualizado é o suficiente para deixar tudo interessante, apesar do ritmo lento e arrastado que se dá por vezes.

O romance e o saldo

Falando mais especificamente do grande ponto do filme, o romance entre Elio e Oliver, não há o que criticar. Tem química, tem contexto, é tudo muito bem construído. Desde o espanto que os dois sentem ao ver que se amam até a culpa que os dois dividem. A partir do momento que ambos amadurecem o sentimento, o romance se expande e vemos cenas muito bonitas.

Portanto, temos um filme para ser lembrado. Muito bem ambientado e tecnicamente elogiável, Me Chame Pelo Seu Nome foi reconhecido por méritos exclusivamente cinematográficos. Uma trilha integrada, um roteiro adaptado sensível e uma fotografia belíssima impulsionam a imersão e te prendem a uma história que nem se preocupa em entreter. Contemple esse filme. Quem não gosta de uma boa história de amor?

Até a próxima! Quer ficar sabendo tudo sobre o Oscar 2018? Nos sigam no Twitter e curtam nossa página no Facebook! Dá essa força pra gente!

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Caio Simão
Água de Salsicha

Crítico de Cinema e apaixonado também por diversos tipos de esportes. É vascaíno fanático e ama o Marvin, seu cachorro. Nas horas vagas, é Engenheiro Químico.