“Mentes Sombrias”: um filme que todos nós já assistimos

Rafael Barreto
Água de Salsicha
Published in
4 min readAug 16, 2018

O cinema é uma máquina de dinheiro. Investimentos milionários são feitos a todo momento para fazer filmes de todos os tipos saírem do papel e, como todo bom investimento, a expectativa do retorno financeiro é sempre gigantesca. Ao longo de toda a história, diferentes gêneros foram líderes em levar grandes públicos para os cinemas. Filmes de monstros, western, ficção científica e, mais recentemente, filmes de super-heróis. Ao lado de bilheterias dominadas por Marvel e Dc Comics, outro modelo de filme passou a levar plateias para os cinemas todos os anos. No início dos anos 2000, Harry Potter e a Pedra Filosofal mostrou que existe um campo grande ainda a ser explorado: adaptações de livros juvenis passaram a montar filas em portas de cinema como a saga Crepúsculo e Jogos Vorazes e gerar grandes lucros para os maiores estúdios dos Estados Unidos.

Seguindo esse modelo de sucesso, novas adaptações de livros — famosos ou não tão famosos — destinados ao público jovem chegam aos cinemas todos os anos. A fórmula sempre ajuda: geralmente são livros escritos em trilogias ou série, com personagens jovens e uma trama quase sempre fantasiosa, lidando uma questão comum a todos: o amadurecimento.

“Mentes Sombrias” chega hoje aos cinemas com a mesma proposta de todos. Mais um filme voltado para o público adolescente que se apresenta com a difícil missão de cativar a plateia e criar jovens fãs de suas histórias para garantir suas sequências nas telonas.

A história se passa em um futuro próximo em que todas as crianças do mundo desenvolvem uma doença letal e as que conseguem sobreviver sofrem mutações genéticas e ganham superpoderes. A protagonista — como era de se esperar — é uma das mais poderosas e passa a ser perseguida pelo governo por ser considerada um perigo para a sociedade.

O filme deixa claro desde o início quais são as suas intenções. Com uma história nem um pouco original, “Mentes Sombrias” repete — de forma que chega a irritar de tão previsível — a fórmula de todos os filmes voltados para o público teen. Por se esforçar demais em criar um filme padrão para conseguir um sucesso como de Jogos Vorazes & Cia, o roteiro falha em não aprofundar os personagens ou suas histórias, criando cenas rasas e relações superficiais direcionando o filme para a direção oposta de seu objetivo: da irrelevância e de seu total esquecimento.

Super-poderes, divisão de personagens em equipes, rebelião contra um sistema, luta de crianças vs adultos, tudo isso já foi visto e feito antes por diversos filmes e o milk shake feito por “Mentes Sombrias” com ingredientes de blockbusters do passado acaba se tornando um grande resumo de toda uma década de filmes adolescentes sem qualquer profundidade ou provar para o que veio.

Ainda não se sabe como vai ser o desempenho do filme nas bilheterias que estreia hoje nos cinemas brasileiros, porém o risco do tiro sair pela culatra não é pequeno e “Mentes Sombrias” pode acabar se tornando mais uma trilogia de um filme só. Existe um lado bom, pelo menos: caso o filme não vingue que sirva de lição para que Hollywood pare de subestimar seus públicos com falta de originalidade achando que qualquer coisa que empurrem vai ser massivamente consumida.

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