"Os Incríveis 2" É Melhor Que o Primeiro?

Caio Simão
Água de Salsicha
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6 min readJul 12, 2018

A aguardada sequência de um dos clássicos da Pixar está em cartaz.

Mulher Elástica, Violeta, Senhor Incrível, Flecha e Zezé :A família mais conhecida do mundo no momento.

Em 2004, a Pixar trouxe aos cinemas uma concepção diferente de família: E se pessoas extremamente comuns, igual a mim e ti, fossem super-heróis só pelo simples fato de possuírem poderes? E se todos da família fossem assim?

A graça desse roteiro é exatamente essa: colocar pessoas extremamente relacionáveis que tenham defeitos comuns mundanos iguais aos nossos como super-heróis de poderes impressionantes, sempre muito bem representados nas animações de altíssima qualidade da idealizadora.

A ideia é brilhante, pois dessa maneira o público-alvo desse filme torna-se extenso. Desde a criança que vai adorar ver os efeitos da animação e se apaixonar pelos personagens, até o mais exigente que pede por roteiros criativos. O resultado foi a aclamação da crítica na época. O filme levou inclusive dois Oscars, o de Melhor Animação e o de Melhor Edição de Som.

Alguns defendem inclusive que o filme de 2004 tinha sido o melhor da Pixar até então. Sendo assim, a expectativa para sua continuação era alta. Será que a Pixar correspondeu ao esperado dela?

A sinopse

A família Pêra está frustrada pela proibição da sociedade mundial em relação aos Super-Herois. Quando já estavam assumindo viver uma monótona vida normal, uma oportunidade surge para que a perspectiva sobre eles seja modificada. Enquanto o Sr. Incrível fica em casa tomando conta das crianças, a Mulher Elástica sai para salvar o mundo e sua família.

A qualidade Pixar de animação e a dublagem brasileira

Mais uma vez, a Pixar (leia-se "Disney-Pixar", já que primeira comprou a segunda em 2006) atinge níveis impressionantes de qualidade na animação. A produtora, que sempre foi revolucionária no mérito, segue trazendo aspectos novos para os curiosos olhos de seus espectadores.

A combinação da naturalidade de movimentos e preocupação com detalhes te fazem imergir naquele mundo. Isso tudo aliado a uma dublagem brasileira sensacional(como de praxe) produz um filme muito fácil de entreter.O time conta com nomes conhecidos do showbiz televisivo tupiniquim como: Otaviano Costa, Flávia Alessandra, Raul Gil e Evaristo Costa.

O trabalho de adaptação das piadas americanas para a nossa cultura está afiadíssimo. Pode-se dizer que os pontos altos de humor do filme vem dessa adaptação e qualidade dos dubladores.

O "plot twist" e o empoderamento feminino

O ponto de virada do filme, ou como já se popularizou, o plot twist, é o grande ponto negativo do longa. Ele é sim previsível, de longe. Não obstante, o filme peca em dar excessivas dicas para que matemos a charada. E quando o filme se baseia nisso para mudar seu rumo, se esse fator de previsibilidade for alto, ele decepciona um pouco.

O empoderamento feminino está claramente em voga no filme. O longa é todo baseado na Mulher Elástica tomando papel de protagonista de uma maneira natural. Ainda, ela não é a única personagem feminina que tem destaque no filme e algumas breves discussões de gênero são colocadas. Não é muito comum se assistir reflexões críticas desse nível em animações de massa. Ponto positivo para o diretor e roteirista Brad Bird, que é o mesmo do primeiro filme.

O melhor do filme

As cenas com o bebê mais poderoso de todos são as mais divertidas, sem dúvida alguma. Eles acertaram em cheio na construção e humor de Zezé. Primeiro, porque ninguém sabe ao certo o tanto de poder que ele tem. E assim, um bebê ser muito forte já é por si só um grande deboche. Seu humor é afiado, principalmente por cenas que ele deixa de ser um inofensivo bebê e passar a se comunicar com eficiência com os adultos.

O carismático e imprevisível Zezé.

Destaque também para Edna, a personagem mais engraçada da franquia. Quando se pensa em Os Incríveis(2004), vem à mente ela discursando sobre como o uso da capa deve ser rejeitado por um Super-Heroi moderno. Atualizada, a Edna de Os Incríveis 2(2018) não decepciona e seu relacionamento com Zezé é muito bem construído apesar do pouco tempo de tela no qual os personagens interagem.

"Fashion-Police" e tecnologia: Edna é uma personagem original demais

A trilha de Jazz

Bateria, saxofone e trompete são alguns dos instrumentos que predominam na trilha sonora cheia de jazz de Os Incríveis 2(2018). Talvez esteja aí o grande charme da franquia. Desde seu tema inesquecível, as cenas mais heroicas do filme sempre vêm acompanhadas de um jazz classudo e empolgante, que faz sentido com o clima do filme e com o ritmo das cenas. A conversa som e imagem está, assim como foi no primeiro filme, excelente. Uma marca registrada da franquia.

O saldo: Os Incríveis 2 é melhor que o primeiro?

O saldo do filme é claramente positivo. Ele atinge o extenso público-alvo que cativa principalmente pelo fator "pipoca" — o de puro entretenimento. É um filme inegavelmente divertido e de qualidade técnica apurada, advinda de uma das maiores produtoras de filmes animados do nosso querido planeta.

Entretanto, faltou um pouco para superar o primeiro. O segundo não decepciona, longe disso. Ele atinge o esperado e é uma continuação válida para o primeiro. Trouxe aspectos novos e não se limitou a ser um mais do mesmo.

Os Incríveis(2004)

Entretanto, o roteiro do primeiro filme é muito superior. A proposta toda da franquia está lá e falar que esse superou toda essa concepção é exagero. Na realidade, essa comparação nem deveria ser feita. Deveríamos apenas apreciar a sequência para uma criativa franquia que é a criação de Brad Bird. Gente como a gente com poderes. Por que ninguém tinha pensado nisso dessa divertida maneira antes?

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Caio Simão
Água de Salsicha

Crítico de Cinema e apaixonado também por diversos tipos de esportes. É vascaíno fanático e ama o Marvin, seu cachorro. Nas horas vagas, é Engenheiro Químico.