Personagens “Passageiros”

Vítor Benigno
Água de Salsicha
Published in
4 min readJan 29, 2017

Esta lá, mais um. Passageiros é mais um filme sobre uma aventura espacial do homem. E é o pior deles. Anos antes do homem chegar a lua, fomos bombardeados com uma sequencia de filmes desta linha e, nos últimos anos, com Marte tão próximo de nós, este fenômeno vem se repetindo. Gravidade, Interestelar, Perdido em Marte e, agora, Passageiros se passam no mesmo “universo” (com perdão do trocadilho) alguns com mais, outros com menos e Passageiros com nenhum apreço pela verossimilhança.

Como a trama não seguraria o filme, o investimento em efeitos especiais e elenco foi massivo. Jennifer Lawrence e Chris Patt foram escalados para interpretarem os protagonistas do filme e, automaticamente, garantir uma maior repercussão ao longa. A proposta de Passageiros é bastante similar a Gravidade, um homem e uma mulher estão à deriva no espaço, porém há um grande diferencial: o fator “sobrevivência” não é bem desenvolvido.

Torcemos para Tom Hanks em “Náufrago”, Sandra Bullock e George Clooney em “Gravidade” também receberam nosso apoio durante a missão espacial, mas tudo isso graças ao aperto aos quais estas personagens foram submetidos. A situação de quase morte vivida por eles durante os longas nos aproximavam das personagens. Um laço afetivo era criado inevitavelmente, garantindo assim, que a parte final dos filmes fosse sempre cercado de apreensão mesmo tendo certeza em nossos subconsciente que tudo terminaria bem. E nada disso acontece em Passageiros. Lawrence e Pratt praticamente não lidam com a sobrevivência em nenhum momento, a nave aparentemente é um “resort espacial”, o filme não explora alguns fatores próprios do espaço para impactar a trama, em certos momentos, conseguimos esquecer de onde eles estão.

O grande ponto positivo de Passageiros é a inesperada maneira na qual a personagem de Jennifer Lawrence, Aurora, acorda. Jim Preston, a personagem de Chris Pratt, acorda, devido a uma falha no sistema da nave, 90 anos antes do programado e passa a viver no “resort espacial” praticamente sozinho. É aí que há o grande debate filosófico do filme. Jim se apaixona por uma das passageiras que está hibernando, Aurora. Um ano de solidão faz com que ele levante a possibilidade de acordá-la propositalmente. Entretanto, tal decisão seria equivalente a matá-la, prendendo-a na nave até o fim de sua vida, simplesmente para suprir uma necessidade própria. Jim opta por acordá-la planejando esconder a verdade consigo até o final. A partir daí os dois vivem uma história de amor no “resort espacial”, destruindo qualquer tipo de fator “sobrevivência”.

Em dado momento, temos a sensação que um estalo foi dado na direção para que o filme andasse. A revelação da verdade sobre o despertar de Aurora é realizado da maneira mais esperada possível. Jim começa uma série de tentativas de pedir perdão por algo imperdoável e a história romântica continua ganhando os tradicionais e esperados contornos. Então ocorre o ponto mais estapafúrdio do filme, a introdução da personagem Gus Mancuso (Laurence Fishburne), membro da tripulação da nave que também acorda por uma falha do sistema.

Ele surge com a missão de dar um rumo ao filme: “Pessoal, esse filme é uma história de sobrevivência e não uma aventura romântica, o problema atual é tal e vocês precisam resolvê-lo.”. E morreu. Ou seja, é uma espécie de catalisador da história. Em pouco tempo, Gus ensina tudo que o casal precisa saber sobre a nave, o defeito ocorrido e como consertá-lo. Neste meio tempo, Aurora praticamente esquece o que Jim fez com ela ao acordá-la e os dois fazem as pazes de forma rápida, simples e conveniente.

A trama final, quando o fator “sobrevivência” é rapidamente abordado, é o grande momento dos efeitos especiais, explosões, vácuo, ausência de gravidade, isto é, aspectos que poderiam ter sido melhor trabalhados durante o longa são enfim utilizados. As personagens passam por grandes apuros, contudo em momento algum somos pegos temendo pelo pior, torcendo por eles, a relação público/personagem não foi trabalhada. Tal fator é fundamental é filmes com essa temática.

Passageiros se perdeu. Não soube se definir como filme. Não sabia se seria um filme de sobrevivência, se seria uma aventura romântica. Não soube explorar o espaço e todo seu universo misterioso. Não soube aproveitar seu ponto mais positivo, o debate filosófico do protagonista e muitos menos suas consequências. Enfim, Passageiros não foi.

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