Quem vai contrariar The Rock?

Rafael Barreto
Água de Salsicha
Published in
4 min readApr 12, 2018

Dwayne Johnson é um monstro. Com 1,96 metros de altura e pesando 118 kg, Dwayne Johnson se tornou uma celebridade nos ringues de luta encenada, sob o nome de guerra “The Rock”. Depois de apresentar um episódio de Saturday Night Live, The Rock provou para os diretores e produtores que seu carisma fugia ao mundo da luta e que seu nome poderia atrair milhares de espectadores aos cinemas. Hoje é um dos mais populares e mais bem pagos atores de Hollywood.

A adaptação do jogo Rampage foi uma aposta no seu cacife para lançar mais um novo blockbuster sucesso de bilheteria. O jogo tem uma premissa simples: o jogador pode controlar um monstro (um gorila, um lagarto ou um lobisomem gigante) que tem que sobreviver aos ataques militares enquanto destrói uma cidade. Justamente essa simplicidade permitiu os roteiristas a desenvolver um contexto maior, inserindo The Rock como protagonista sem deixar de prestar homenagem ao clássico vídeo-game.

No filme, The Rock vive um ex-militar e aficionado cuidador de primatas em um zoológico em San Diego. Quando um gorila do zoológico é afetado por uma substância química capaz de aumentar seu tamanho e mudar seu comportamento, The Rock é o único capaz de deter essa ameaça descontrolada de destruir cidades e matar milhares de inocentes.

Quando assistimos pela primeira vez o trailer do filme, de cara podemos pensar que esse filme vai ser muito ruim ou vai entregar exatamente aquilo que se propõe: muitos efeitos especiais, ação eletrizante, humor bobo, personagens unidimensionais, história fraca, etc.

O filme surpreende a quem pensou em qualquer uma das duas opções. Quem achou que ia ver um filme ruim, vai ser entretido por boas sequências de ação e cenas de tirar o fôlego que não ofuscam a trama do filme, mas a compõem em uma ótima harmonia. Quem achou que veria um filme que entrega o que promete, também vai ser surpreendido com algumas coisas que vão além das nossas expectativas.

A relação entre a personagem do The Rock e o gorila George é bem construída e nos passa a credibilidade de um afeto genuíno existente entre os dois. O suspense também é muito bem feito e algumas sequências — como a inicial — são capazes de fazer a gente ficar na beira da cadeira. Os efeitos especiais são um show à parte e pra quem gosta de destruição, o filme é um prato cheio.

É interessante ver também que os roteiristas fizeram uma boa escolha ao não adaptar fielmente a proposta do jogo. Enquanto na versão virtual, os monstros são seres humanos que se transformam em animais gigantescos, o filme preferiu seguir outro caminho e explorar mais a relação homem e natureza, humano e animal. A manobra funciona e o filme consegue (ainda que sem querer) passar uma certa mensagem de preservação ambiental.

Porém, algumas coisas nunca mudam nesse gênero de filme, como se fosse uma regra para que ele funcione. Chega a incomodar a fraqueza de alguns personagens na tela. É tão perceptível que alguns personagens, como os irmãos vilões e a personagem de Jeffrey Dean Morgan, não conseguem sair da descrição do roteiro que o fracasso em levá-los a vida é feio de se ver. Essas construções acabam sendo muito apressadas e criam personagens desnecessários que gastam tempo de tela à toa sem contribuir para a trama.

No entanto, a aposta foi muito bem feita e The Rock salva o dia, com uma atuação carismática e esforçada. Não foi à toa que o ator se preparou para o papel domando crocodilos e treinando gorilas, criando um método que só ele seria capaz de cumprir, e conseguimos ser bem convencidos disso nas telas. É uma oportunidade interessante de assistir a um filme do The Rock em que ele não é o único monstro. De qualquer forma, é um bom filme para quem gosta de ação com bastante explosão e destruição e, de sobra, tem The Rock. E eu não tô aqui pra contrariar The Rock.

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