"Robin Hood — A Origem": Flechada Previsível

Caio Simão
Água de Salsicha
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6 min readNov 23, 2018

Taron Egerton e Jamie Foxx contam, mais uma vez, a história da transformação de Robin de Loxley em Robin Hood.

Taron Egerton é Robin de Loxley

Não é a primeira e nem a última vez que veremos Robin Hood nos cinemas. São muitas adaptações para uma história nobre de aventura que casa perfeitamente com os anseios dos espectadores: resistência, justiça, romance, comédia e ação.

Em 2018 temos então uma tentativa de uma roupagem mais "cool" para o Príncipe dos Ladrões, deixando um pouco de lado os outros enredos mais tradicionalistas no que toca à construção do personagem. Para isso, convocaram Taron Egerton, jovem ator protagonista da franquia bem-sucedida de ação "Kingsman". A proposta é então um Robin de Loxley mais leve, novo e sedutor, sem estar muito preso a uma moral rígida apesar de seu heroísmo ser intocável.

O longa é dirigido por Otto Bathurst, que não tem quase experiência no cinema e se destacou por séries como "Black Mirror" e "Peaky Blinders" e conta com a curiosa participação de Leonardo DiCaprio na produção. Cada vez mais sentimos falta dele atuando.

O elenco principal conta ainda com a fundamental participação de Jamie Foxx, Ben Mendelsohn, Eve Hewson e Jamie Dornan, o glorioso Christian Grey de "50 Tons de Cinza".

O filme chega aos cinemas brasileiros no dia 29 de novembro e tem distribuição nacional Paris Filmes.

Sinopse

Robin de Loxley(Taron Egerton) perde tudo depois de voltar das Grandes Cruzadas. Tomado pela revolta contra a corrupta e asquerosa Coroa Inglesa, o Príncipe dos Ladrões se alia ao comandante mouro John(Jamie Foxx) para roubar dos ricos e dar aos pobres. Mais do que isso, representar o assustado e oprimido povo de Nottingham.

Robin Hood e John — A dupla da resistência

Personagens e atuações

Taron Egerton carece de carisma. Isso é indiscutível. Ele é uma boa figura nova para ação e leva um pouco de veia cômica, mas não consegue carregar o filme. Sua atuação é o esperado: nada demais, cumpre apenas o que lhe foi pedido. Não arrisca e não avança na parte dramática. Destaca-se somente nas cenas de ação.

O excelente Jamie Foxx salva um pouco o filme. Seu sofrido personagem John, um comandante de guerra mouro escravizado pelos ingleses é mais cativante que o principal e ele rouba um pouco a cena pra ele. O ator sobra num elenco mediano e funciona bem como o mestre de Robin de Loxley, fundamental para o desenrolar do enredo e a faísca que provoca a ignição de tudo na película.

A belíssima Eve Hewson representa Marian, limitada por um roteiro que a coloca quase como que a donzela a ser salva, paixão de Robin. O diretor tenta despistar isso com algumas ações da personagem, mas no fim do dia é só até aí que ela se desenvolve mesmo. A química com Taron Egerton existe mas não é lá o casal mais empolgante de todos, longe disso. Infelizmente, uma personagem rasa.

Marian(Eve Hewson) e Robin(Taron Egerton): paixão que motiva a resistência popular.

Por fim, o último que vale a pena ser mencionado é o Xerife de Nottingham, o grande vilão do filme, representado por Ben Mendelsohn. O vilão de "Rogue One" tem uma atuação pra lá de exagerada. Para aqueles que gostam de bons exemplos de "overacting", Ben estava inspirado nesse sentido. Seu personagem representa a repressão, dominação político-ideológica, corrupção e crueldade pura. Não sobra um pingo de complexidade. Previsível e completamente maniqueísta, um personagem também limitado pelo fraco roteiro.

Até sua postura é caricata: exagero de vilão. Ben Mendelsohn é o Xerife de Nottingham.

Falta de criatividade em Hollywood

É, sabemos que o Cinema as vezes é puramente comercial. Uma história famosa e amada, dois atores conhecidos, um deles em ascensão e outro consagrado, aliado a uma produção com grana é o bastante para garantir uma boa bilheteria. Entretanto, a falta de criatividade não deixa o roteiro fugir de uma enorme previsibilidade. Primeiro, porque já vimos essa história várias outras vezes. Se a ideia era mudar o jeito ou dar uma nova roupagem, ficou completamente no meio do caminho. Segundo, porque a maioria dos personagens são rasos e o filme praticamente avisa tudo o que vai acontecer com pistas excessivas que vão entregando seu já esperado arco final. Mais do mesmo que não vai marcar nada nem ninguém e muito dinheiro envolvido nisso. Soa desnecessário?

Filme de ação

Chega-se portanto à conclusão que o que se assiste é um filme de ação, que não acrescenta nada de diferente nas outras esferas de gênero. É puro entretenimento nesses planos e só isso mesmo, sendo que alguns desses são de difícil compreensão, o que prejudica bastante. Mas, justiça seja feita, temos outras cenas de combate corpo-a-corpo que são criativas, bem feitas e que prendem bem. Não é fácil fazer boas sequências de ação e o filme vai bem aqui em diferentes arcos da história, com direito a alguns "slow motions" divertidos. A trilha sonora é exaustivamente utilizada e orquestrada, motivada para um filme que versa sobre glória, guerra, resistência e muita luta.

Saldo

"Robin Hood — A Origem" é uma grande produção em termos comerciais, e pouco vai se importar com a provável enxurrada de críticas negativas. Seu foco é exclusivamente comercial. O filme não acrescenta nada de novo em roteiro facilmente antecipado e desperta a vontade de novas criações pelo Cinema de Hollywood.

No final, o filme é puramente ação, que se destaca em alguns bom momentos de lutas coreografadas em planos fechados e próximos aos combates.

Se você gosta de ação e puro entretenimento nesse sentido, pode ser que se divirta. Não será por um segundo surpreendido nem impressionado. Um filme que vale a pena assistir em uma tarde tediosa de domingo e que rapidamente cairá no esquecimento.

Se Robin rouba dos ricos para dar aos pobres, esse filme rouba o roteiro dos antigos para não dar quase nada de novo. Continuamos pobres nessa metáfora.

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Caio Simão
Água de Salsicha

Crítico de Cinema e apaixonado também por diversos tipos de esportes. É vascaíno fanático e ama o Marvin, seu cachorro. Nas horas vagas, é Engenheiro Químico.