Viva — A Vida É Uma Festa é Lobby da Disney Pixar ou o filme é bom mesmo?

Caio Simão
Água de Salsicha
Published in
5 min readJan 11, 2018

A belíssima animação já levou o Globo de Ouro desse ano.

Viva — A Vida É Uma Festa(2018)

Quando a Disney se juntou à Pixar, foi quase uma covardia para o mundo das animações. Os dois estúdios referência em termos de prestígio, qualidade e grana formam um holding agressivo desde então e qualquer filme que seja lançado por eles entra como favorito a qualquer premiação na categoria. Primeiro, porque a influência de bastidores que esse pessoal tem é ridícula de grande. Segundo, pela sua inegável qualidade, preocupação excessiva com detalhes, um esmero comovente e um amor pelas animações que transborda a tela.

Viva — A Vida É Uma Festa que tem esse título mal traduzido e forçado, é o décimo nono filme lançado pela Pixar, que lançou Carros 3 ano passado e vai lancar Os Incríveis 2 esse ano. Tudo começou com o indiscutível Toy Story em 1995. Vamos então a uma breve análise do mais novo filme do melhor estúdio de animação do nosso belo planeta, ressalvas ao Studio Ghibli a parte.

A sinopse relâmpaga

Miguel é um apaixonado por música e tem um ídolo, o grande Ernesto De La Cruz. Entretanto, sua família proíbe qualquer ato musical, já que julgam que foi a música que fez um de seus integrantes abandonar a família, criando traumas irreparáveis. Assim, no celebrado Dia dos Mortos no México, Miguel descobre acidentalmente um universo paralelo que se conecta nesse dia com o dele , onde poderá procurar seu tataravô, um cantor lendário,o mesmo De La Cruz, e esclarescer dramas ancestrais.

O molde Pixar

Quando se vai assistir algum filme da Pixar, sabe-se de antemão que alguns elementos lá estarão. Uma história cheia de reviravoltas, um roteiro criativo e engraçado e uma sensiblidade capaz de fazer adultos chorarem. Além disso, o esmero com a animação em si comove a mais insensível das pessoas. Em Viva — A Vida É Uma Festa, todos esses elementos estão presentes. Os personagens tocam os acordes das músicas no violão, o universo paralelo dos mortos espanta tamanha beleza, e os detalhes são muito divertidos. Um integrante da família, totalmente figurante no filme utiliza uma camisa recente idêntica da Seleção Mexicana de Futebol por exemplo. São detalhes que impulsionam a imersão na fantasia da animação. Além disso, a história tem algumas camadas dos tão celebrados plot twists. Eles podem ser antecipados, não é lá muito difícil, mas isso acontece geralmente muito próximo da reviravolta, sendo assim interessante ir percebendo o que os roteiristas foram pensando. Parece que você vai junto com os caras no processo criativo. Isso também é muito Pixar Animation Studios.

A parte musical

O filme conversa o tempo todo com a música, ela é a grande estrela do conflito e da resolução do filme. Assim, essa parte é de suma importância pro longa. A película é quase uma animação musicada, tendo muitas delas permeando o desenvolvimento do enredo e o desenvolvendo. A conexão com a música tradicional mexicana é enorme. A maioria das músicas se vale de elementos da cultura local, o que é coerente e interessante para a imersão. A grande estrela da animação é a música Lembre De Mim, que se relaciona muito com o filme e tem algumas variações na trilha sonora. Tem até o Rogério Flausino, nosso célebre vocalista do Jota Quest dando a versão dele da música. A versão em inglês da música, Remember Me, foi indicada a Melhor Canção Original no Globo de Ouro e deve ser indicada no Oscar. A trilha sonora completa do filme pode ser encontrada no ótimo Spotify.

Vi muita gente emocionada no cinema quando tocou essa música, independentemente de idade ou gênero. Não por causa dela, mas sim por causa do jeito que é introduzida no filme. Tem tudo a ver com o enredo e suscita um pensamento interessante. O da importância de sermos lembrados. Como costumam dizer, o ser humano morre duas vezes. A morte física e inevitável e a partir do momento que ele é esquecido. O filme brinca muito bem com esse conceito. Quando um ancestral é esquecido por sua família, ele deixa de existir no universo dos mortos. É a segunda e derradeira morte. Esse pra mim é o melhor ponto do filme, esse conceito muito bem trabalhado.

Pessoalmente, a música mexicana não me agrada muito. Talvez por isso penso que a parte musical poderia ter sido melhor. Ela diverte e é eficiente, porém, era a parte fundamental do filme, que apresenta apenas um ou dois "hits". Fiquei mal acostumado com a qualidade impressionante dos últimos filmes musicais lançados, mas ainda sim a parte musical desse filme é sim elogiável.

O saldo

Com uma animação de última geração, cheia de detalhes divertidos e cuidadosos, Viva — A Vida É Uma Festa é um filme que não vai ser esquecido pelos fãs de animações. É um filme leve, engraçado, sensível, que suscita pensamentos bons e trabalha conceitos muito bem. Motiva e desenvolve bem os personagens. Te faz entender um pouquinho mais da cultura mexicana. Entretém e promove a imersão, te faz cantar com algumas músicas. Não chega a surpreender mas te faz acompanhar o processo criativo do roteiro junto com os idealizadores. É um filme que emociona a quem está aberto à experiência. Como eu disse, pude perceber facilmente algumas vítimas.

Respondendo o título do post, o vencedor do Globo de Ouro de Melhor Animação chega com moral pro Oscar e teve um pouco das duas coisas. A Disney Pixar é muito influente, mas esse filme é realmente de qualidade. Tinha que dar em prêmio. Com o perdão do trocadilho, esse é um filme que você vai lembrar.

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Caio Simão
Água de Salsicha

Crítico de Cinema e apaixonado também por diversos tipos de esportes. É vascaíno fanático e ama o Marvin, seu cachorro. Nas horas vagas, é Engenheiro Químico.