Ser vermelho, verde ou preto faz diferença na balança?

Adriana Cabanelas
Óleo de Cobra e outras coisinhas
6 min readJun 12, 2016

Voltei das catacumbas! Pobre do “óleo de cobra” abandonado. Me perdoem, mas eu bem que avisei que isso aqui ia ser randômico. Eu meio que parei tudo na vida para estudar para uma prova. Mas agora com o novo lançamento da Coca-Cola no Brasil, veio uma nova pergunta interessante e achei que seria legal escrever um post. Me perguntaram nesta semana se era uma boa trocar a Coca-Cola vermelha (tradicional) pela verde (com estévia). E bem, a vontade era de responder um sonoro não, que era melhor não beber nenhuma delas, mas eu sou uma pessoa realista e nem um pouco saudável e sei bem que nenhum dos presentes tinha planos de abandonar o refrigerante, mas sim de saber se ele era uma opção melhor. Aí eu pensei e pensei e pedi para elaborar uma resposta melhor embasada, mais seguro do que responder com o que eu lembrava de memória sobre adoçantes.

Sei que meus amigos não estavam nem um pouco enganados com o verde da lata, que essa não é uma Coca-Cola “ecológica” e pelo que entendi nem a Coca está fazendo esse tipo de marketing. Ela está vendendo como uma Coca-Cola mais saudável para um mundo que está procurando consumir menos açúcar. Então, se você se deixou levar pelo verde, pense de novo, o negócio não é ser “verde” e sim ser saudável. E bem, saudável não é, com certeza. Nenhuma delas é. Mas é mais saudável que a versão normal?

Coca-Cola vermelha e verde, em vários tamanhos de gordice.

Existe uma resposta bem simples para a pergunta dos meus amigos, que seria: Você é apenas um contador de calorias e está pouco ligando para alimentação saudável. Você quer no final do dia contabilizar, sei lá, 1500 calorias e pouco importa o que vai comer para chegar lá. Nesse caso, eu acho que você deveria rever suas ideias e procurar uma nutricionista, mas já que você não vai mesmo, nesse caso a resposta é: Trocar a coca vermelha pela verde é bom, pois tem menos caloria e melhor ainda trocar pela preta, que nem caloria tem. Você conta seus pontinhos e segue na dieta maluca para sempre, mas eu não posso afirmar que você vai emagrecer com isso. É muito provável que não, além de grandes chances de você ficar com alguma carência nutricional.

Num mundo de pessoa um pouquinho mais conscientes, mas não muito, entra em jogo o funcionamento do organismo, que é bem chatinho de entender e, portanto, nós cientistas não sabemos muita coisa. Então vou tentar mostra o pouquinho que sabemos de uma forma bem simplificada.

Adoçantes ou Edulcorantes.

Acho que todo mundo sabe que são substancias, que podem ser sintéticas ou naturais, que apresentam pouca ou nenhuma caloria e apresentam um sabor doce. Os mais conhecidos são a sacarina, o ciclamato, o sorbitol, a estévia, o xilitol, a frutose, o aspartame e a sucralose. Agora como eles se comportam no organismo é uma controvérsia danada, com gente brigando ferrenhamente, uns afirmando que fazem mal, outros que não fazem mal algum. Se está difícil chegar a uma conclusão na comunidade científica, eu imagino que deve ser muito enlouquecedor para vocês, sendo bombardeados com notícias conflitantes e pior ainda, notícias muitas vezes inventadas por gente sem escrúpulo achando que está fazendo o bem. Eu fiz endocrinologia e até onde eu saiba, o posicionamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia é a de que os adoçantes são seguros quando consumidos dentro da faixa de segurança. Boto uma relação da quantidade máxima abaixo:

Adoçante → Limite máximo (em mg/Kg) ao dia

Aspartame → 50

Ciclamato → 40

Estévia → 5,5

Sacarina → 5

Sucralose → 15

As tais controvérsias:

Lembrando que os adoçantes são os aditivos químicos mais testados e avaliados e eles passaram por vários testes de riscos e segurança, o United States Food and Drug Administration (FDA) e a European Food Safety Authority (EFSA) são super chatos em aprovar a segurança de qualquer coisa e até o momento, a maioria dos adoçantes são aprovados por ambos. Historicamente, a combinação de ciclamato/sacarina era o adoçante de uso. No final da década de 60, estudos em ratos mostraram uma possível relação entre o ciclamato e o câncer de bexiga e o ciclamato foi banido. Estudos subsequentes mostraram que não era carcinogênico em humanos, mas a proibição continuou nos EUA, apesar de liberado em outros países. Na década de 70, surgiram dúvidas em relação a sacarina, com estudos em ratos, mas esse nunca foi banido, se bem que até 2000, os produtos que o continham eram etiquetados como perigosos nos supermercados dos EUA. De novo, em humanos a correlação não foi encontrada e ele foi revisto como seguro. Mas os produtos etiquetados deixaram no público em geral a ideia que todos os adoçantes eram danosos e perigosos. Difícil saber, como tudo na área de biológicas, são necessários mais ensaios, com um número maior de pessoas e uso de adoçantes por mais tempo para podermos quem sabe chegar a uma conclusão mais contundente. Mas em relação ao câncer com os dados atuais, o que podemos afirmar com os estudos em humanos realizados é que os adoçantes são seguros na quantidade acima.

Mas recente, em 2008 apareceu um artigo alertando que os adoçantes provavelmente engordavam. No artigo “A role for sweet taste: calorie predictive relations in energy regulation by rats.” publicado pela Behav. Neurosci. por Swithers e Davidson, os autores sugerem que o sabor doce do alimento leva o cérebro a prever o conteúdo calórico da comida e realizar as alterações no organismo necessárias a essa entrada de calorias. De uma maneira bem simplificada, ao pôr a comida na boca, o cérebro é informado sobre o gosto e manda ordens para o resto do corpo. Então, ao colocar um doce na boca, o cérebro grita “lá vem açúcar, se prepara”. E o corpo se prepara, fazendo o necessário para aumentar o gasto de energia e diminuir a fome. Só que quando você come adoçante, o cérebro grita igual “lá vem açúcar, se prepara”, e o corpo se prepara e — pegadinha do malandro — cadê o açúcar que era para estar aqui? Isso acaba por gerar um efeito compensatório contrário, ou seja, aumenta a fome e diminui o gasto de energia. A longo prazo, quem come adoçante come bem mais que quem come açúcar e acaba engordando muito mais. Mas o estudo em questão e vários outros que vieram depois comprovando e aprofundando ainda mais o conhecimento sobre os mecanismos que levam ao ganho de peso e tecido adiposo nos animais que usam adoçante foram realizados em ratos, ou seja, não sabemos se o mesmo acontece em nós humanos. Pode ser que sim, pode ser que não.

Duas meta-analises de estudos variados em humanos foram publicadas, a primeira de 2013 por Malik e colaboradores e a segunda de 2014 por Miller e Perez, ambas publicadas no Am. J. Clin. Nutr. A primeira encontra uma correlação positiva entre consumo de refrigerantes diets e aumento de peso em adultos e crianças, enquanto o segundo observa uma correlação entre consumo de adoçantes e aumento do índice de massa corporal (IMC), mas sua principal novidade era verificar que a substituição de uma opção diet pela opção regular leva a uma modesta perda de peso pelo indivíduo estudado. Ao que parece, o que acontece com os ratos talvez realmente aconteça com humanos. E isso é uma boa justificativa da piada que ouço sempre: adoçante engorda, pois quem come tá sempre gordo.

Assim, tentando responder à pergunta inicial dos meus amigos, eu não substituiria a Coca vermelha pela verde, nem pela preta para emagrecer, se é para ser errado e tomar refrigerante, opte pela opção com açúcar. Melhor deixar as opções com adoçante para os diabéticos.

Eu escrevo de supetão sem revisar, senão acabo desistindo. Se você achar um erro de português, me avisa nos comentários, por favor!

E se você gostou, clica no coração e faça ele ficar vermelhinho (ou verde). É importante para mim, pois é assim que eu sei se vocês gostaram ou não. Qualquer pergunta pode fazer nos comentários, respondo sim ou com certeza?

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Adriana Cabanelas
Óleo de Cobra e outras coisinhas

Bióloga especializada em fisiologia e microbiologia. Adora internet e nerdice. Faz um brigadeiro maravilhoso. “google” dos amigos. Membro do podcast Microbiando