Teoria, Evolução e Bactérias

Adriana Cabanelas
Óleo de Cobra e outras coisinhas
4 min readSep 11, 2016

Tenho visto no Facebook alguns vídeos de umas certas amebas (desculpa amebas pela ofensa da comparação, mas não sei como nomeá-los) falando de criacionismo e com proposta de ensino dessa suposta “teoria” nas escolas. Achei que faria um bem em desfazer alguns enganos.

Para começar, eu nem acho que o problema seria ensinar criacionismo. O problema aqui é querer ensinar isso nas aulas de ciência, e se limitar a cosmogonia católica, quando existem muitas outras tão ou mais interessantes que esta, como as africanas, gregas, nórdicas, etc. O mito de Gaia (a Terra) colocando um ovo e deste nascendo Urano (o Céu) é tão aceitável e fascinante quanto Yeve criando o mundo no antigo testamento, então porque tenho que escolher um criacionismo como sendo A verdade e os outros como absurdos, mitos?

Acredito eu que inventaram de chamar criacionismo de teoria por uma confusão ocasionada por usarmos corriqueiramente teoria como um sinônimo de hipótese na linguagem cotidiana, mas em ciências isso não é verdade. Nesse caso, é o título mais alto que se dá a um modelo. É usado quando uma hipótese é apoiada por evidencias cavalares, tornando o modelo sugerido o mais capaz de explicar, prever e equacionar um processo. É o que chega mais próximo do que deve ser “verdade”. E lembro que verdade é uma palavra vetada do vocabulário científico, pois contraria o espírito cético. Assim, o criacionismo, não importando a religião, não pode ser uma teoria cientifica pois oferece zero evidencia, não pode ser reproduzido, testado, equacionado, nadica de nada. Nem pode ser considerado como hipótese. Depende apenas da fé dos que a validam, suspendendo a capacidade crítica de avaliação. Assim, não poderia jamais ser ensinado como uma “teoria oposta” a evolução numa aula de ciência. Simplesmente não pode!

Bem assim que funciona!

Mas quem já teve o desprazer de ver esses vídeos (não vou por link de nenhum deles por motivo de: NÃO SOU OBRIGADA!!!) eu pergunto: não dá uma agonia vendo esses “políticos” explicando a teoria da evolução? É tanto conceito errado que eu tenho certeza que não foram ou dormiram em todas as aulas. Uma das coisas mais legais da Teoria da Evolução é a sua simplicidade. Se você pensar, Darwin não conhecia genes, mutação, DNA, etc. e ainda sim fez algo tão elegante e robusto que mesmo após a descoberta de todas essas coisas, a teoria continuou válida com pequenos ajustes.

Um engano comum é achar que a Teoria da Evolução é uma teoria para explicar a Origem da Vida, e não, não é, isso é outro campo de estudo. Outro erro comum é achar que sustenta a sobrevivência do mais forte ou outra bobagem similar. Não mesmo. Tem a ver com capacidade de se ajustar ao ambiente ao seu redor. E diz respeito a espécie, nunca a indivíduos. E não leva macacos a se transformarem em humanos, não, não e não! Vídeo bonitinho abaixo:

A evolução é um processo sem fim, com objetivo de perpetuar o DNA. Levou milhões de anos para acontecer e continua acontecendo, mas fica difícil para nossa cabecinha processar algo tão demorado. Aí entra esse lindo experimento (que também já está rodando no Facebook) da Faculdade de Medicina de Harvard e do Instituto de Tecnologia de Israel, liderados pelo dr. Michael Baym do Departamento de Sistemas Biológicos. Eles fizeram uma placa de Petri gigante e a usaram para crescer a bactéria E. coli. Eles dividiram o Agar (uma gelatina com uma mistura de tudo que as bactérias gostam) em concentrações crescentes do antibiótico ciprofloxacina. A primeira não tinha antibiótico, a seguinte tinha o mínimo para matar as malditas, depois 10 X mais, 100 X mais e 1000 X mais que a segunda faixa. O fundo é preto e a bactéria forma colônias branquinhas. Veja no vídeo.

As bactérias foram aplicadas na faixa inicial e vida seguiu. Cresceram, se multiplicaram e isso era bom! Cada geração de E. coli leva uns 20 minutos. Na faixa de antibiótico, foram barradas, mas algumas acumularam mutações aleatórias que as tornavam resistentes ao antibiótico. E logo dominavam a nova faixa de território. Após 11 dias, a região com 1000 X mais antibiótico, que teria dizimado as bactérias originalmente colocadas na placa, está tomada de bactérias. Evolução da espécie, para quem quiser ver. E claro, publicaram na Science, que não são é bobos de perder a oportunidade.

Por isso que quando o médico disser para tomar o antibiótico por 7 dias, toma a droga do remédio até o fim e não até a dor passar. Olha as coisinhas más e resistentes que você vai estar deixando para trás!! E do mesmo jeito não faça o natureba que não toma remédio, nem o hipocondríaco que toma antibiótico por qualquer coisinha, sem nem o médico saber. Isso contribui com a geração de bactérias mais fortes. O próximo remédio será cada vez mais forte e mais caro!!!

Mendingando like, quem nunca!

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Adriana Cabanelas
Óleo de Cobra e outras coisinhas

Bióloga especializada em fisiologia e microbiologia. Adora internet e nerdice. Faz um brigadeiro maravilhoso. “google” dos amigos. Membro do podcast Microbiando