Órfãos da Terra: uma missão de releitura do Oriente Médio

Rede Globo
Órfãos da Terra
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3 min readJul 4, 2019

Por Gilvete Santos

Representar diferentes culturas em uma novela não é missão para qualquer um, não, e disso Gilvete Santos entende muito bem. Caracterizadora com quase 20 anos de Rede Globo, Gil é uma das responsáveis por conceituar o visual dos personagens de ‘Órfãos da Terra’. Através de uma pesquisa extensa, com muitas referências das redes sociais, livros, documentários e filmes, ela produziu uma releitura diversificada do Oriente Médio e dividiu com a gente seus desafios e suas inspirações para essa novela das seis.

Com uma caracterização vibrante, que mistura cultura do Oriente com uma pegada do Ocidente, Gil conta que não foi nada fácil montar o estilo. Para o núcleo sírio, utilizaram o conceito de maquiagem “zero” para dar um ar de naturalidade e o uso do protetor solar com cor em todos os personagens foi fundamental para isso. Uma paleta de cores bem diferente do que já haviam utilizado foi adotada, além do Kajal e lápis de olho preto. Em suas pesquisas, Gil descobriu que o Kajal era muito mais que uma maquiagem, ele representa uma proteção contra os maus espíritos. Não só as mulheres usam, mas os homens e as crianças também.

Missade (Ana Cecília Costa)

Saindo da parte mais tradicional, percebemos que a novela retrata uma visão moderna do Oriente Médio, representada por Dalila. Para entender como mulheres dessa cultura se mantém antenadas e são impactadas por tendências mundiais, Gil pesquisou principalmente blogueiras mulçumanas, entre elas a Dina Tokio. Foi criado um catálogo exclusivo para a filha do sheik. Na maquiagem, foi adotado o uso do rímel, do blush em tons terrosos ou rosa, e uma boca natural, o que dá um visual clean, porém marcante. Não podemos esquecer também da tatuagem no pulso esquerdo, uma marca registrada da vilã que traduz sua personalidade e significada vida e fogo.

Gilvete Santos dando os últimos retoques em Alice Wegmann pouco antes de entrar em cena como Dalila em Órfãos da Terra — Foto: Paulo Belote/Globo

Agora quando falamos das cenas produzidas, Gil diz que uma das mais fortes foi a do bombardeio. Sua referência foram as guerras sírias. No dia, para dar aquele ar de que as pessoas haviam saído dos escombros, 25kg de argila foram reservados para sujar elenco e figurantes. A quantidade não foi suficiente e eles gastaram o total de 58kg, distribuídos em garrafinhas com água. Segundo Gil, presenciar tudo aquilo, pessoas chegando no balcão para pedir ajuda, fora os feridos com cortes e mãos arrebentadas, foi intenso demais porque era tão real e diferente de tudo que já tinha visto ou assistido. Para a caracterizadora, é impossível não se envolver com o trabalho e a sensação de que você está dentro da história é muito real.

Emoções e pesquisas à parte, a caracterização é um trabalho que requer muita atenção, paciência, olhar minucioso e dedicação. Ao mesmo tempo em que Gil precisa ‘devorar’ sinopse e capítulos, ela precisar conciliar pesquisa e montagem das pranchas da caracterização*, um processo que pode ser refeito, caso reprovado. Para essa montagem, é fazer uma análise de cada perfil do elenco, se desafiar em trazer algo diferente e ainda ter jogo de cintura entre a direção artística e os atores. Ou seja, uma verdadeira missão que cai como luva para Gil, que não dispensa um desafio e está sempre se cobrando para inovar e surpreender quem acompanha suas novelas nas telinhas.

“O meu diferencial é que quando eu pego algo pra fazer, eu me dedico de corpo, alma e coração e faço.”

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