Somos todos filhos da mesma Terra

Rede Globo
Órfãos da Terra
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3 min readJul 8, 2019

Mas será que conseguimos usufruir dela e conviver nela de forma equânime?

Evento StartBlackUp do Movimento Black Money / Crédito: Humberto Souza

Primeiramente somos diferentes, logo a forma como nos relacionamos com o ambiente que nos cerca será sempre delineado por esta diferença que nos constitui e forma nossas identidades.

Mas afinal o que seria a diferença? De onde ela viria? Na História aprendemos que viemos de um lugar e origem comuns, ou pelo menos, somos levados a crer que sim. Ou seja, que a História é única para ficarmos com aquela famosa chamada de atenção da escritora Chimamanda Adichie a nos advertir do perigo de Histórias únicas.

Vejamos o Brasil. Dizemos e nos orgulhamos de ser um país multicultural de indígenas, negros, e brancos, miscigenado, e que desta mistura nasceu o DNA do/a brasileiro/a. Desta forma a união da diferença numa amálgama cultural seria nosso próprio diferencial. Seria. Pois voltando ao mito da História Única de Adichie, esta é uma versão que suprime várias outras nos fazendo entender que não há estórias e identidades que foram suprimidas no meio do caminho de fazer do Brasil uma identidade nacional una, de democracia racial e convivência pacífica entre iguais.

E o que isto tem a ver com sermos Filhos da mesma Terra? É que na verdade quando falamos da espécie Homo Sapiens sabemos que ela é oriunda de um continente chamado África, a partir do qual as migrações saem para povoar o mundo e em cada espaço que se fixam se diferenciam. Logo somos todos Filhos da mesma Terra, com emoções, expectativas, reações e capacidades de gestar culturas genuínas de acordo com o território no qual nos fixamos. E aí está a riqueza da Humanidade e mesmo da vida.

Com a crise de populações refugiadas que chegam nesta “pátria amada” Brasil como sírios, congoleses, haitianos e venezuelanos dentre outros o que se intensifica é vermos no outro um pouco do que suprimimos em nós, o direito de sermos reflexo dos nossos ancestrais e aquilo que eles criaram em sua terra, sejamos negros sequestrados da África para fins de desumanização comercial, sejamos povos originários que perderam seu território e muitas vezes modo de subsistência para a fixação de um outro contingente populacional que “descobriu” o Brasil sem avisar a quem aqui estava o que era esta tal descoberta.

Logo, nós aqui no Brasil, e aqueles que vêm de zonas conflagradas por crises humanitárias e guerras temos mais em comum do que pensamos, somos todos filhos da mesma Terra, mas não usufruímos de forma equânime dela. Contudo juntos, aqui, podemos aí sim de forma verdadeira desta vez descobrir como sermos todos filhos legítimos dela e reconstruir novas identidades que incluam histórias não-únicas e que tragam consigo a riqueza das nossas origens diversas.

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