A loucura de ser mãe em meio a pandemia!

Larissa Vasconcelos
0220 Books
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5 min readApr 28, 2020
Foto: arquivo pessoal

Hoje acordei como minha princesinha dormindo do meu colo, um serzinho lindo e inocente protegido nos meus braços! Protegido? Não tem como deixar de refletir sobre a loucura e a alegria de ser mãe em meio a esse caos que estamos vivenciando.

A Laurinha chegou no dia dois do dois de 2020, data linda para chegada do meu anjinho. Meu porto seguro! O último ano foi bem difícil e desafiador. Enfrentei muitas mudanças e o terror da depressão e da ansiedade. Em meio a esse turbilhão descobri que estava grávida, foi um misto de alegria e pavor. Felicidade extrema e receio de não conseguir ser mãe! Medo de me decepcionar, de decepcionar meu marido e familiares caso essa gestação também não fosse pra frente.

Vesti uma máscara de forte e destemida, fiz o papel tão bem que me convenci que estava tudo às mil maravilhas! E Deus ouviu minhas preces. Tive uma gestação perfeita. Minha bebê crescia forte e saudável e junto com ela crescia minha fé, minha esperança, minha alegria, minha paz e meu amor.

Enfim ela chegou! Como uma pessoa ansiosa e controladora, eu sabia que não conseguiria esperar ela chegar e marquei a cesariana, assim ficaria mais calma e menos ansiosa, sabendo exatamente o dia em que ela chegaria, ou, pelo menos tentaria saber!

E não é que deu certo!? Ela chegou no dia previsto, tudo estava finalmente arrumado e organizado. Algumas mães irão se identificar com a síndrome do ninho arrumado, nos dá uma loucura por limpeza e organização quando eles estão para chegar.

Laurinha nasceu as 10:42, muitas pessoas falam que o amor é instantâneo e que achamos o nosso bebê a coisa mais linda assim que o vemos pela primeira vez. Acertaram em relação ao amor! Aquele serzinho já tinha o meu coração! Enquanto a beleza…não foi bem assim (kkkk!). Ela saiu toda enrugadinha, roxa e com um bicão. A primeira coisa que pensei foi “ôô gente! minha filha é feinha tadinha, mas mamãe ama assim mesmo!”. Alguns minutos depois ela foi se acalmando, as enfermeiras a pegaram para os primeiros cuidados e o papai coruja acompanhou tudo de pertinho.

Ela voltou para os meus braços mais bonitinha. kkkk! Já não estava tão roxa, estava branquinha e tinha a cara linda do papai. Amei isso! Ela nasceu com a cara do meu amor e ele é lindo! Havia esperança, comecei a achar que ela seria uma gatinha. E acertei! Laurinha é o bebê mais lindo que já vi!

Os primeiros dias da maternidade foram os mais difíceis de toda minha vida. Ser mãe dói! Uma dor física que ia dos pés a cabeça. Um cansaço que nunca senti! Caminhar era difícil, sentar, deitar, respirar….tudo doía! Ainda tinha o desafio da amamentação! Oooo coisa difícil! A maternidade não é nada romantizada. Os peitos doem, o bico fica ferido e dá uma sensação de impotência e desespero de não conseguir alimentar sua criança que está aprendo a viver enquanto você aprende a cuidar. Mas eles têm pressa! Seu bebê chega pronto para ser filho, é totalmente dependente e ao mesmo tempo toma o controle de toda sua vida! Você já não existe como pessoa, esposa e filha. Por um estante, na verdade por muitas horas e dias você é só mãe, ou pelo menos a tentativa de ser! Você não dorme porque precisa vigiar seu bebê e suprir todas as suas necessidades. Dá um medo dele parar de respirar de repente e você não notar. Ficamos alertas e vigilantes. E ai de quem se meter no meio! É instintivo o negócio!

Ser mãe dói! É doloroso mudar de identidade tão repentinamente, se engana quem acha que 9 meses são suficientes para nos preparar. Nem uma vida inteira prepara uma mulher para ser mãe! Isso é algo que aprendemos “nas tora”! Aprendemos fazendo, vivendo, sorrindo, chorando e celebrando! Agora não sou mais eu, somos nós! Suas necessidades básicas ficam em segundo plano e isso é doloroso, pelo menos para mim foi! A Perda da autonomia, do direito de tomar um banho demorado, de fazer uma refeição quente, de dormir um sono profundo, de descansar. Deixei de ser eu e tinha que aprender a ser um novo alguém satisfatório. Foi estafante! Ser mãe dói! Não só no corpo físico, mas também nas emoções. É uma sensação estranha de perda e ganho. Algo muito louco para digerir e enfrentar. Será que um dia encontrarei a Larissa novamente? Que loucura é ser mãe!

Os dias foram passando e meu corpo foi se adaptando a nova rotina, as poucas horas de sono, as novas atividades domésticas e de cuidados com o bebe. A dor física passou!!! Ufaaa! Agora seria mais fácil encarar esse desafio, recuperei parte da autonomia sobre meu corpo, um corpo diferente, não sei se mais bonito ou mais feio! Ao menos os seios cheios ficam mais exuberantes, apesar de sempre estarem vazando e doloridos! A maternidade deixa marcas e cicatrizes que contam uma história de superação, crescimento, amadurecimento e uma grande história de amor! A pergunta agora é se um dia a dor nas emoções irá passar, ou, se quer, amenizar?

Hoje acordei com ela em meus braços, amamentei, senti uma dor tão satisfatória! Acho que estou vencendo o desafio da amamentação. Espero conseguir! A coloquei para arrotar e entreguei para o papai cuidar um pouco. Fui tomar meu café da manhã, única refeição que consigo (na maioria dos dias) fazer com calma e tenho o prazer novamente de comer e tomar algo quente e saboroso! Uma pitada de alegria e um “tico” de Larissa no meu dia!

Hoje parei para pensar “que loucura é essa de ser mãe em meio a pandemia” e me lembrei de tudo que passamos nesse último ano. Cheguei a uma conclusão incrível: Laurinha me devolveu a alegria! Ela me salvou da agonia e da ansiedade do confinamento! Ela preenche meu dia e minha vida com momentos alegres e espontâneos. Ela dá sentido a minha vida! Ela é o meu porto seguro em meio a pandemia. É…. acho que a maternidade me salvou da loucura e me deu força para encarar essa quarentena. Ela me dá esperança de que o amanhã será bom, diferente, mas bom! Fico pensando que minha filha não conhecerá o mundo como ele foi. Ela viverá e crescerá em uma nova era, em um tempo em que as pessoas precisarão manter uma certa distância, um tempo em que novas tecnologias e métodos serão inventados e que o mundo digital ganhará mais força, e tal fato, nos aproximará e ao mesmo tempo nos distanciará do próximo.

Mas, nós temos a nossa família e passamos a valorizar as coisas simples, a olhar com cuidado e carinho para os nossos pais e avós, ao percebermos sua vulnerabilidade. Aprendemos a nos conter em favor do próximo! O próximo que não podemos abraçar, mas amamos cada vez mais ao nos privar do tão sonhado toque! Do abraço, do aperto de mão, do cafuné e do beijo.

Minha alegria e meu refúgio são a minha família! Dentro de casa posso abraçar, ninar e beijar o meu anjinho, a pequena criatura que me salvou e me dá esperança todos os dias! Ser mãe dói! Uma dor tão satisfatória que nos faz esquecer da dor!

É… estou protegida nos braços da minha pequena!

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