Substâncias radioativas, jejum absoluto e um motorista obstinado: o dia em que passei na entrevista de emprego mais importante da minha vida

Pedro Gonçalves
1% Melhor Todo Dia
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9 min readJan 21, 2018

Há uma frase que eu gosto muito, que diz: Se você não quer aprender, ninguém consegue te obrigar. Se você quer aprender, ninguém consegue te impedir.

Hoje eu vou compartilhar com você as lições que aprendi quando estava buscando uma recolocação no mercado de trabalho (ou, em palavras mais simples, procurando emprego). Acredito que elas também podem te inspirar na sua jornada.

Esta é a história de quando fui para uma entrevista de emprego quase desmaiando de fome e sede, com uma substância radioativa correndo nas minhas veias e com a ajuda de um motorista de Uber disposto a tudo para não me deixar chegar atrasado.

E também de como eu saí de lá aprovado para a próxima etapa.

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Um pouco de contexto: um mês e meio antes da entrevista, a startup em que eu trabalhava fechou as portas

Eu estava novamente na estaca zero, depois de quase um ano em um trabalho dos sonhos. Eu tinha um posto de confiança em uma startup de marketing digital para e-commerces, estava ganhando relativamente bem para o começo da minha carreira e tinha grandes perspectivas de crescimento.

Tudo parecia estar finalmente se encaminhado na minha vida, depois de anos e anos de currículos enviados (e solenemente ignorados), freelas mal pagos, calotes de clientes e muitos, mas muuitos projetos de negócio fracassados. Agora eu finalmente tinha um trabalho que me pagava de verdade. Tinha que dar certo!

Até o momento fatídico em que, numa noite fria de julho de 2017, os sócios se reuniram com a equipe pelo skype para anunciar que estavam encerrando a empresa. Sim, dessa mesma forma curta e objetiva. O sonho acabou…

Com isso, aprendi na prática o que já vinha ouvindo há muito tempo do Flávio Augusto: estabilidade não existe (lição nº 1)

A jornada pela recolocação no mercado

It’s a long way to the top if you wanna Rock ‘n Roll…

Tomado por um leve desespero, voltei a avaliar as minhas possibilidades. Desta vez, o cenário era diferente. Muita coisa mudou desde que, meses antes, eu embarcara naquela startup.

Antes, eu era apenas um rapaz latino-americano formado em Filosofia, com pouquíssima experiência de trabalho formal, sem parentes importantes e vindo do interior. Passara os últimos anos estudando muito sobre empreendedorismo e queria mudar o mundo, mesmo que isso significasse nunca ter um emprego fixo.

Agora, eu tinha um pouco mais de experiência, networking e uma pós-graduação com nome pomposo: “Marketing digital e mídias sociais”. E o mais importante: entendi que, para mudar o mundo, eu precisava aprender de perto com quem fazia isso todos os dias. (Esta foi a lição nº 2)

Por sugestão de um dos meus antigos chefes, considerei tentar novamente uma vaga na Rock Content, uma das empresas que eu já era fã há alguns anos. Parecia uma ótima ideia, se não fosse um detalhe…

No começo de 2016, eu havia tentado uma oportunidade lá, sem sucesso (e que acabou se tornando a fagulha que me levou a mudar radicalmente a minha carreira, mas isso é assunto para outro post). Era natural, portanto, que eu estivesse apreensivo.

Será que desta vez eu ia conseguir? E se não conseguisse, como eu lidaria com duas rejeições da empresa em que eu mais sonhava trabalhar?

Atualização de currículo e a indicação que não deu certo

Minha nova meta na vida: fazer um trabalho tão memorável que eu nunca mais precise enviar currículos.

Para me ajudar a ter mais chances de conseguir uma vaga na Rock, o meu ex-chefe, que também trabalha lá, disse que ia me indicar para uma vaga de Analista do Sucesso do Cliente. “Ótimo, pensei, agora é só me candidatar pelo site e ele vai mandar um e-mail de recomendação sobre mim para alguém lá dentro, ou algo assim”.

Pensando nisso, fiz a minha inscrição normalmente pelo site de vagas da Rock. Mandei meu currículo atualizado, respondi ao questionário sobre por que eu queria trabalhar lá e corri para renovar os meus certificados em marketing de conteúdo e Inbound Marketing, da Hubspot e da própria Rock Content, que são uma exigência para a vaga.

Eu estava realmente animado! Parecia que agora ia dar tudo certo.

Quando fui falar com ele que tinha me candidatado pelo site, porém, ele ficou bastante desapontado. “Poxa Pedrão, eu tinha que te indicar pelo sistema! Você não podia ter entrado pelo processo normal… que vacilo!”

Meu chão caiu de novo. Senti que, mais uma vez, voltava à estaca zero. “Agora é que não vou conseguir mesmo”, pensei. Eu acabara de desperdiçar a minha melhor chance e não tinha mais nada que ele pudesse fazer para me ajudar.

Lição nº3: sem uma boa comunicação, a sua vida se torna muito mais difícil.

O Processo seletivo

A Rock Content leva muito a sério a escolha das pessoas que ela quer para compor o seu time. O processo seletivo pelo qual eu passei, por exemplo, se estendia ao longo de quase um mês e tinha várias etapas, cada uma delas formulada para conhecer um aspecto específico do candidato, desde suas competências técnicas até a sua cultura.

As primeiras fases foram tranquilas: análise de currículo, entrevista por telefone, análise técnica… As coisas começaram a ficar realmente mais puxadas no momento de falar com os sócios da empresa. No meu caso, o Vitor Peçanha, um dos fundadores da Rock.

Quando recebi o e-mail me informando que eu passei para a etapa de conversar com o Peçanha, uma surpresa me deixou ainda mais preocupado: a reunião fora marcada no mesmo dia em que eu, um mês antes, tinha agendado uma bateria de exames médicos em um centro de diagnósticos, a pedido do meu médico.

Depois do primeiro momento de aflição, veio o alívio. Os meus exames estavam marcados para começar ao meio dia, e a entrevista seria às 16h. Com um pouco de gestão do tempo, daria para fazer tudo. Sucesso!

Ou será que não…?

Quando as coisas não saem como você planejava…

Você já teve um dia em que tudo estava cuidadosamente planejado mas, na hora H, a situação saiu do controle e você se viu obrigado a tomar decisões importantes no improviso? Pois é, isto foi exatamente o que me aconteceu naquele dia…

Acordei cedo para começar os preparativos do exame. Eu tinha que estar em jejum absoluto a partir das 8h, então tomei o meu café da manhã antes do que de costume. Às 11h em ponto, cheguei ao centro de exames, preenchi a papelada e fui para a sala de espera.

Àquela altura, eu já começava a sentir a adrenalina do corpo crescer e ofuscar a fome e a sede. Tudo parecia estar indo bem. Eu tinha bastante tempo e estava empolgado!

Ao chegar na sala de espera e entregar meus documentos, porém, recebo a notícia fatídica: os exames vão atrasar em algumas horas. Fiz alguns cálculos de cabeça. Mesmo que eles atrasassem em 3 horas e meia, eu ainda conseguiria chegar na Rock para a entrevista. Podia dar certo…

As horas foram passando, passando, passando… quando me chamaram para o primeiro exame, já eram 14:30h. Este era um demorado, de ressonância magnética, que acabou me custando uns bons 40 minutos.

Esta máquina faz uns barulhos muito psicodélicos. Eu me senti dentro do filme 2001: uma odisseia no espaço (sabe aquela viagem maluca no final? Pois é…)

Para piorar, a enfermeira injetou uma dose generosa de contraste nas minhas veias, que é basicamente uma substância radioativa que pode causar efeitos colaterais como enjôo, dor de cabeça e alergias.

Quando o exame terminou e eu saí da máquina gigante e barulhenta, me senti um pouco estranho. É uma sensação difícil de definir. Não sei dizer se era falta de forças por causa do jejum prolongado ou algum efeito colateral do contraste correndo nas veias. Era como se eu estivesse apático, distante de mim mesmo.

Aquela sensação perdurou por todo o resto do dia.

Voltei para a recepção e expliquei a situação para a equipe médica, dizendo que teria que adiar o próximo exame, pois não teria tempo. Eles entenderam a situação e o remarcaram para o dia seguinte. Afinal, não era culpa minha.

Preenchi mais uma vez a papelada e saí para a rua, puxando o celular para pedir um Uber. Faltavam apenas 15 minutos para as 16h.

Lição nº4: assumir um compromisso importante no mesmo dia em que você vai ter que ficar em jejum absoluto e com substâncias radioativas circulando no seu cérebro provavelmente não é a escolha mais sábia que você pode fazer na vida…

Um motorista obstinado, um prazo apertado e uma missão

O carro finalmente chegou e eu embarquei. Por algum motivo, entretanto, a viagem logo tomou um rumo estranho, em sentido contrário ao que deveria ser o meu destino.

Quando comentei com o motorista para onde, de fato, eu tinha que ir, ele virou o rosto para mim com os olhos arregalados e disse: “Mas isso é lá para trás, perto de onde nós estávamos!”

Por algum motivo, o mapa entendeu errado o endereço que eu coloquei. Agora faltavam cerca de 10 minutos para o horário da entrevista e estávamos cada vez mais longe da Rock Content.

Eu apertaria os cintos, se fosse você…

Neste momento, quando eu achei que estava tudo perdido e a minha última oportunidade iria por água abaixo, o motorista virou-se mais uma vez para mim com uma expressão decidida e disse “Fica calmo, que nós vamos chegar a tempo”.

Olha, tenho que confessar que fazia muito tempo que eu não via alguém tão obstinado quanto aquele motorista. Ele realmente tomou a minha dor para si e transformou o que seria uma simples viagem em uma verdadeira missão.

Sabendo que eu estava indo para uma entrevista decisiva de emprego, ele não mediu esforços para se meter na frente dos outros carros, entrar em espaços perigosamente apertados entre os ônibus e fazer curvas em alta velocidade.

Se eu não estivesse tão focado em concentrar minhas últimas forças em fazer a entrevista, teria ficado bastante preocupado…

Lição nº5: existem pessoas que vão te ajudar na sua jornada quando você menos espera.

A entrevista decisiva

Chegamos no prédio da Rock faltando 3 minutos para as 16h. Agradeci efusivamente o motorista e corri para dentro, com a adrenalina “no talo”.

Quando finalmente passei pela porta de entrada, falei com a moça do RH que eu tinha vindo para uma entrevista com o Peçanha e me sentei na cadeira que ela me indicou.

Senti um profundo alívio. Parecia que tudo tinha passado. Tudo, incluindo a adrenalina que mantinha as minhas forças…

Por um momento, parecia que as minhas forças estavam se esvaindo, a minha pressão caindo e a fome e a sede voltando a bater com força total.

Eu ainda estava bastante entusiasmado, afinal, iria conhecer pessoalmente o Peçanha, o cara que me apresentou ao marketing de conteúdo e que me inspirou a mudar a minha carreira. No entanto, meu raciocínio estava abalado e o meu tanque de combustível já estava na reserva.

Fui chamado para a sala onde ele me esperava com o meu currículo na mesa. Agora não era hora para tietar, pensei. Eu estava ali com um objetivo claro: não falar nenhuma bobagem.

Lição nº6: até as piores circunstâncias podem oferecer oportunidades interessantes.

Para a minha surpresa, eu fiquei bastante tranquilo durante a conversa. Talvez o fato do meu corpo estar quase em modo standby tenha me ajudado a manter a calma e a clareza.

A entrevista se desenrolou normalmente, e eu acho que mandei bem.

Por fim, o veredito

Fui acompanhado até a saída pelo Peçanha, que foi super simpático e gentil o tempo todo. Alguns minutos depois de sair do prédio da Rock, recebo um e-mail:

Parabéns, Pedro! Você foi aprovado para a última etapa do processo seletivo!

Esta foi a confirmação mais rápida que eu já recebi na vida sobre um processo de emprego. Óbvio que fiquei muito feliz!

E, para coroar esse dia, a última cartada do destino: a data da última fase do processo seletivo era a mesma em que eu havia remarcado o exame que ficou faltando.

Lição final: se você quer muito alguma coisa, aceite o fato de que você vai ter que sacrificar outras coisas para consegui-la.

Um grande abraço,

Customer Success Manager at Rock Content

Originally published at https://www.linkedin.com on January 21, 2018.

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Pedro Gonçalves
1% Melhor Todo Dia

Otimista, curioso e 1% melhor todo dia. Acredita em transformar o mundo pelo conhecimento e busca inspirar pessoas a crescer, sonhar grande e alcançar mais.