Nelson Cavaquinho | Depoimento do Poeta | 1970

Samba

O primeiro registro de Nelson como artista principal e único num álbum já seria uma obra eterna da música brasileira por si só. O valor desse vinil — não só simbólico, colecionadores-leitores — aumenta exponencialmente quando se percebe que foi lançado originalmente no desconhecido selo Castelinho, com participações de Elizeth Cardoso e Sérgio Cabral como entrevistadores. Sim, entrevistadores. Não é à toa que o disco leva a palavra “depoimento” no título. Intervenções faladas mesclam as soturnas faixas, que tornam a audição um mergulho profundo na obra do sambista.

As letras, características de toda a discografia de Nelson, parecem ser fluxos de poesia ultrarromântica com uma vivência da boemia periférica carioca. As existenciais Rugas e Eu e as flores exprimem a dor conturbada da morte que é tocada em Luz Negra, só que desta feita numa perspectiva amorosa. Esse amor triste volta em Palhaço, Notícia e a clássica A flor e o espinho. Quando questionado sobre o porquê de seus sambas nunca falarem de felicidade e esperança, Nelson responde: “não uso dessa parte de falar de felicidade, mas eu gosto quando um amigo chega a mim e fala ‘eu sou tão feliz’”.

Ouça: Eu e as flores.