11 Médios
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Ou controlas a profundidade ou morres

Photo by Jonathan Petersson on Unsplash

(el reglamento) “El mejor libro de táctica jamás escrito”

Depois de anos de ir e vir a esta frase, ou não percebi nada do que o Juanma quis dizer, que é muito provável, ou então, segundo ele, nas 17 leis do jogo de futebol, i.e. no meio daquela parafernália de material, do que se pode ou não fazer e de que quem marcar mais golos é o vencedor, estão também instruções sobre como jogar melhor o jogo. E se estão a pensar descarregar o manual à procura das partes de jogar melhor a sublinhado desistam, que não vão encontrar. Nem sem sublinhar. E sabem que mais? A melhor parte da frase nem é o que diz, é o que não diz. Não nos dá o peixe, só nos ensina a pescar, ou pelo menos diz-nos onde é que o peixe pode ser pescado. Tão bom.

A procura pelos segredos escondidos

Lá fui eu pescar e de entre muitas coisas que encontrei, saiu este artigo, cujo principal objetivo é demonstrar como uma lei do jogo, a infame lei 11 do fora de jogo, oferece muitas páginas para o melhor livro de tática jamais escrito.

Como ser protagonista (também) sem bola?

Se falamos de Controlo, falamos de domínio, de vigilância, e principalmente de ter uma certeza que todas ações que se desenrolam num determinado espaço tem o seu resultado determinado por nós.

  • Bola coberta ou descoberta
  • Situação de jogo (Bola parada/corrida/Reposição de bola em jogo)
  • Zona da bola
  • Direção do movimento da bola
  • Distância do movimento da bola
  • Orientação do jogador em posse
  • Jogadores adversários na última linha defensiva (dependendo das suas características) enquadrados para explorar a profundidade
  • Leitura das intenções do adversário em posse

O impacto nos macro-momentos do jogo

Cada um destes critérios dificilmente tem valor em jogo quando interpretado isoladamente. Por exemplo, um adversário ter a bola à entrada da nossa grande-area é uma coisa com este orientado para a nossa baliza e outra orientado para a sua. Como se interligam então todas estas referências? Será justo dizer que o momento do jogo, i.e., bola parada, reposição de bola em jogo ou bola em jogo, é a primeira referência na qual todas encaixam? A três momentos diferentes, na mesma zona, com os mesmos jogadores correspondem abordagem bem diferentes.

Bola coberta vs Bola descoberta

Começando pela referência, normalmente, mais associada com o Controlo da Profundidade: a bola coberta/descoberta. É também, em princípio, a referência mais óbvia de interpretar. Se o portador da bola tem um adversário pela frente em contenção, terá muito mais dificuldade em poder atacar a profundidade com um passe por duas razões principais:

Mirar lejos. Lo primero que nos pedía Johan es que mirásemos lejos, a Romario” — Pep Guardiola

b) se por ventura decidir colocar a bola em profundidade, o nível de dificuldade do gesto técnico será muito superior, quer por trajectórias que já não estão disponíveis, quer por poder haver a necessidade de tirar o adversário da frente antes de fazer o passe.

Diferença de apoios em função da posição do adversário em posse
Diferença de apoios e trajetória em função da posição do adversário em condução

As referências da zona da bola

Um adversário com bola descoberta junto à linha lateral dentro do seu meio campo defensivo obriga a um comportamento bem diferente de que o mesmo adversário, com bola descoberta, no corredor central e à entrada da nossa grande área. Não me digas Sherlock? Ainda assim, na tentativa de estabelecer em que áreas proponho que comportamentos, dividi o terreno de jogo da seguinte forma.

As zonas (vermelha e laranja) que activam os comportamentos de Controlo da Profundidade
1º momento com o adversário em posse e bola descoberta
2º momento com o adversário em posse e bola descoberta
3º momento durante o passe para a profundidade e a linha defensiva em 3+1
  • autoidentificar quem sai ao portador;
  • garantir uma linha de cobertura com os restantes elementos;
  • não cair nos movimentos de arraste dos adversários em cima da nossa última linha.
1º momento com o adversário em posse, de frente para a nossa linha defensiva em 3+1
2º momento com o adversário em posse, de frente para a nossa linha defensiva e ameaças à profundidade
  • garantido constante pressão sobre o portador da bola;
  • protegendo o espaço no enquadramento dos postes pelos restantes elementos da linha defensiva. Estes elementos mais reativos, que protegem o espaço frontal à baliza, acompanham sempre o movimento e altura da bola até à linha da pequena área, momento em que passamos a confiar no raio de ação do guarda-redes em primeiro lugar, e só em segundo caso são os defesas que tomam a iniciativa dentro desse espaço.
1º momento com o adversário em posse, em condições de finalizar ou assistir
2º momento com o adversário em posse, mas com contenção
  • ver a bola;
  • ver os adversários potenciais alvos de um cruzamento;
  • subir rapidamente em caso de um passe atrasado que o permita (mais detalhe sobre o que permite subir num passe atrasado já a seguir).

As referências do movimento da bola

Depois da zona da bola, olhamos para o movimento da bola, quer com portador, quer em passe, a distância que percorre e o seu sentido determinam vários tipos de resposta diferentes.

Em condução

Um adversário, em condução, tem três tipos de sentido principais:

  • Em direção geral à nossa baliza;
  • Em direção geral à linha lateral;
  • Em direção geral à sua própria baliza.
Comparação dos comportamentos da linha defensiva em função da direção do adversário em posse

Passe horizontal

Comportamento da linha defensiva face ao passe (longo) horizontal
Comportamento da linha defensiva face ao passe (longo) diagonal
  • Controla movimentos de penetração pelo corredor central e nas costas do central;
  • Está melhor orientado para partir em velocidade na direção da profundidade caso haja o lançamento;
  • Resolve os problemas de forma coletiva, estando ligado ao sector sempre que for preciso intervir.

Passe atrasado

Usado para sair da pressão, para iniciar uma mudança de centro do jogo, mas também como engodo! Fazer a linha defensiva sair da toca, desorganizar-se e aí explorar a profundidade. Daí eu ter mencionado atrás, o sair num passe atrasado se este o permitir. As condições mínimas para o nosso bloco subir em resposta a um passe atrasado são:

  • O recetor do passe está fora do nosso bloco (muito provavelmente é um passe dentro/para o meio campo defensivo);
  • A equipa está junta (“viajar juntos” só quando estivermos todos).
A diferença no ajuste da altura da linha defensiva em função da bola sair ou não de dentro do nosso bloco
Nem todos os passes atrasados permitem subir a linha defensiva

Passe frontal

Uma solução de quebra de linhas por excelência, mas que tem um senão de muitas vezes deixar o portador de costas para a baliza para onde ataca. Como explorar este momento, sendo proactivos, mesmo sem bola? As perguntas que se fazem à última linha defensiva são mais que muitas durante um passe para dentro do nosso bloco defensivo.

  • Está o novo portador (de costas) pressionado quando vai receber o passe?
  • Conseguimos chegar e pressionar antes que o adversário possa enquadrar?
  • O adversário tem soluções “fáceis” de 3º homem que possa explorar a reestruturação do nosso sector defensivo?
  • Existem adversários a ameaçar a profundidade e potenciais beneficiários do adversário que recebe de costas ou do 3º Homem?
Os dilemas de um passe frontal
Adversário recebe pressionado e sem hipótese de jogar na profundidade (clicar para aumentar)
Adversário pressionado mas com companheiro (3º homem) entre linhas que pode receber de frente para o jogo (clicar para aumentar)
A existência da ameaça à profundidade e as consequências para as marcações (clicar para aumentar)

Conclusão

Esta são as minhas propostas teóricas para os princípios táticos do Controlo da Profundidade. O melhor que me podia acontecer era fazer-vos refletir e que partilhassem as vossas conclusões ou outras propostas sobre este tema. Ou melhor, reflitam, escrevam e partilhem sobre qualquer tema. Não fazem ideia das coisas que vão descobrir.

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Os 90 minutos são a meta. Queremos promover a discussão sobre todo o caminho. Ensinar um pouco, aprender muito. Por e para pessoas do Futebol.

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Filipe Silva

filipesilva.me — From software engineering to football coaching. This Week’s Worth💎is my weekly newsletter. Find it here: thisweeksworth.substack.com