Tuchel e Neymar… é agora? Sancho e Haaland também querem

Tomás da Cunha
11 Médios
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5 min readFeb 18, 2020

Borussia Dortmund vs PSG (Eleven Sports 2, 20 horas)

Pelo potencial ofensivo de ambas as equipas, o duelo entre Borussia Dortmund e PSG é um dos mais entusiasmantes dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Estarão frente-a-frente o melhor ataque da Bundesliga (63 golos marcados) e o melhor ataque da Ligue 1 (67 golos apontados) — Sancho e Haaland vs Neymar, Mbappé ou Di María.

Tanto alemães como franceses caíram nesta fase da prova em 18/19, mas as eliminatórias tiveram contornos distintos. O PSG passeou tranquilamente em Old Trafford, antes de o Manchester United escandalizar o Parque dos Príncipes com uma equipa secundária e de forma quase acidental. Talvez isso explique a permanência de Thomas Tuchel no ansioso projecto parisiense, que não tem tempo a perder na construção do estatuto europeu. Por outro lado, o Dortmund foi inferior ao Tottenham e não deu provas de estar preparado para sonhar com uma fase adiantada — agora, exige-se outra capacidade competitiva ao conjunto de Lucien Favre.

Será o regresso de Thomas Tuchel ao Signal Iduna Park, onde construiu uma das equipas mais sedutoras do futebol europeu. Desta vez, para enfrentar uma eliminatória de tudo ou nada, tendo em conta os sucessivos fracassos do clube na Champions. Além disso, a presença de Neymar (falhou os oitavos-de-final na época passada e em 17/18 só alinhou na segunda mão) aumenta a responsabilidade dos parisienses. Não falta quem questione a grandeza do brasileiro e, por isso, a estrela do PSG carrega nos ombros a necessidade de provar — novamente — que há poucas figuras tão capazes de superar questões colectivas.

Nesta temporada, Tuchel estabeleceu o 4–2–2–2 como sistema preferencial (tem experimentado o 3–2–5/5–2–3 nas últimas partidas), sobretudo para potenciar Neymar na zona entre linhas. Em Paris, houve uma evolução significativa no jogo do ex-Barça, agora ligado ao processo de criação no corredor central (onde ganha opções) e com um talento descomunal para desequilibrar. Na meia direita, Di María tem funções semelhantes, procurando fazer a diferença nas costas dos médios adversários — sendo canhoto, fica com campo aberto para o último passe ou o remate. Está a fazer uma temporada de sonho, ao nível dos melhores do futebol europeu, destacando-se como lançador. Emre Can e Witsel não terão vida fácil.

Tuchel sempre entendeu Mbappé como avançado, atacando a profundidade e esperando o serviço dos criativos, mas o francês cai frequentemente na esquerda para acelerar e encarar o adversário. Volta a um estádio onde já bisou pelo Mónaco. Icardi, tendo uma envolvência quase nula no jogo colectivo, dá garantias na finalização e complementa o ataque parisiense, não sendo impossível que Cavani entre nas contas. Nesta altura, ver o PSG sem marcar golos parece um acontecimento estranho.

Em sentido inverso, o comportamento sem bola pode ser a pedra no sapato dos campeões gauleses. Neymar, apesar do que cria, soma muitas perdas de bola por jogo e a transição defensiva tem de estar no ponto, sobretudo frente a um adversário letal quando encontra espaços para correr. Assim, o papel de Gueye e Verrati na reacção à perda e no equilíbrio colectivo assume uma importância clara. A linha defensiva está muitas vezes distante dos médios e fica exposta, mas o problema é antigo — Emery, em entrevista, revelou que fracassou no objectivo de tirar Thiago Silva da zona de conforto, pedindo-lhe para jogar mais subido no terreno. Além disso, o nível individual está longe de outros clubes de topo europeu — não há, neste momento, um central ou lateral de elite — e nomes como Haaland ou Sancho preocupam. Ter em Kurzawa um lateral mais posicional (como aconteceu frente ao Mónaco, por exemplo) é uma solução que pode passar pela mente de Tuchel. Buffon errou na eliminação da época passada e a presença de Keylor Navas dará alguma confiança ao técnico do PSG.

Nesta temporada, os resultados irregulares do Borussia Dortmund demonstram um misto de caos defensivo e força ofensiva. Lucien Favre, quase sempre inseparável do 4–2–3–1 na época passada, procurou maior segurança após a perda de bola com o 3–4–3, que tem vindo a cimentar-se como sistema preferencial. Ainda assim, os alemães sofrem golos com facilidade e só Mats Hummels tem oferecido um rendimento de excelência no sector mais recuado, até superando expectativas. Já fez exibições irrepreensíveis nesta Liga dos Campeões — contra o Barça em casa, sobretudo — e, além dos desequilíbrios com bola, tem revelado eficácia no controlo da profundidade e elegância na antecipação. Com o novo sistema, Julian Brandt baixou no terreno e tornou-se muito influente como organizador, tomando decisões inteligentes e aproveitando a qualidade técnica superior à maioria (recepção orientada, controlo em condução, último passe…). A ausência do médio mais criativo e capaz de desenhar as saídas para o ataque é muito dura para o técnico suíço, que perde um dos principais argumentos para vencer a eliminatória.

Num cenário (provável) de maior iniciativa para o PSG, o BVB pode colocar o foco estratégico em retirar espaço entre linhas a Neymar e Di María, apostando depois na verticalidade de Sancho, Hazard e Haaland. Depois de uma temporada brutal em 18/19, o jovem inglês continua a demonstrar que é um caso sério, pensando e executando de forma rápida e assertiva, sempre deixando o talento individual ao serviço do colectivo. Haverá esse “duelo” particular com Mbappé, que se poderá repetir vezes sem conta nesta década. Hakimi, tendencialmente, chega-se à frente para desequilibrar (foi uma figura destacada na fase de grupos, com uma exibição de gala na reviravolta com o Inter), mas ter o francês nas costas activa os alarmes. Ainda assim, Favre saberá que o lado esquerdo, onde “defende” Neymar, fica bastante desprotegido e que o marroquino tem capacidade para aproveitar o desequilíbrio. Para marcar, Haaland só precisa de meia oportunidade, sendo que a superioridade física do norueguês sobre os centrais contrários obriga o PSG a tentar defender mais longe da própria área. Não participa muito em apoio, mas é menino para decidir jogos. Não faltarão craques desse calibre no relvado do Signal Iduna Park.

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