RESENHA: Skepta — All In

Lucas Marques
140 bpm
Published in
4 min readAug 10, 2021

O novo EP de Skepta segue um estilo similar com seus projetos mais recentes, inclusive ao decepcionar quem esperava um conteúdo condizente com a carreira do MC

Capa de All In, novo EP de Skepta.

No final do mês de julho, o lendário rapper e MC de grime Skepta lançou seu segundo EP, ‘All In’. Com cinco faixas, o projeto tem cerca de 16 minutos de duração e segue uma linha parecida com os últimos projetos do artista, como ‘Ignorance Is Bliss’, álbum de 2019, e ‘Insomnia’, álbum colaborativo com os rappers Chip e Young Adz, lançado em 2020. Nestes projetos, como também em ‘All In’, Skepta aposta em uma sonoridade menos grime e mais trap/pop rap com, consequentemente, maior apelo comercial. E não há nada de errado com isso. O problema é que nestes projetos, a inspiração de Skepta parece estar cada vez mais reduzida, a ponto de seus trabalhos recentes soarem básicos e sem sal.

‘All In’ começa com ‘Bellator’, faixa que dá um início sólido ao EP. Uma tendência que notamos até o final do projeto é que as faixas não possuem nenhuma mensagem ou algo do tipo, o que não é algo necessário, porém neste caso, contribui para a tal simplicidade do EP, como mencionado anteriormente. Contudo, o problema não está na primeira faixa, que conta com um instrumental divertido e uma homenagem aos parceiros de Skepta, como consta no refrão, “This is for my brothers in the grave and my dargs on the wing”. O principal problema do EP se chama ‘Peace of Mind’ e é a segunda faixa do projeto. Não me lembro da última vez (se é que já houve uma) em que eu ouvi uma música do Skepta e fiquei abismado com a má qualidade do que estava escutando. A faixa é uma colaboração entre Big Smoke e Teezee, além do notório rapper americano Kid Cudi, e possui o pior refrão do EP, tanto em termos de entrega, na qual Skepta soa como um trapper qualquer e abusa do autotune, quanto nas letras, em que o rapper traz a contestável linha “I stay with the honey like Winnie the Pooh”. Além disso, não achei lá essas coisas os versos de Teezee e Cudi. Para ser sincero, o verso de Skepta foi menos pior que o refrão, mas ainda assim contou com outras linhas fracas, como “I do sex education/ I’m the teacher, I taught your girl how to flex”. Enfim, para mim, nada funcionou em ‘Peace of Mind’.

Em seguida, temos ‘Nirvana’, colaboração entre Skeppy e a estrela do reggaeton, J Balvin. Aqui, vemos uma tentativa de Skepta em fazer a versão 2.0 de ‘Papi Chulo’, parceria com o rapper e Octavian, que se popularizou e rendeu centenas de milhões de plays para Skepta. Com isso, a faixa traz um ritmo de afroswing e busca ser um hit leve, de verão. Confesso que ao escutar ‘Nirvana’ mais vezes, me acostumei um pouco com a música, mas ainda assim ela não mostra nada demais e é um dos pontos baixos do EP. Em seguida, ‘Lit Like This’ dá sequência aos ritmos africanos, em um afrobeats que segue a temática auto-afirmativa de Skepta como rico e bem-sucedido.

A quinta e última faixa é a que, na minha opinião, salva o EP. ‘Eyes on Me’, o único grime do projeto, utiliza uma versão levemente repaginada do histórico instrumental de ‘Oi’, da More Fire Crew. Na música, Skepta volta a ser auto-afirmativo, mas de uma forma mais agressiva, como visto nas linhas “Big man, you don’t wanna get merked in your Beamer/ Meet the grim reaper”. A faixa é tudo o que eu peço de Skepta: agressividade e bons flows, para potencializar o que ele tem de melhor, a sua entrega. Enfim, ‘Eyes on Me’ definitivamente se destaca como o recorte mais interessante de ‘All In’, sendo um grime bem divertido com um senhor beat. Mas a música é também um contraste às quatro anteriores. Primeiramente porquê sinto que é a única realmente boa em meio a um EP desinspirado e que mostra um certo declínio do artista. Em segundo lugar, porque (até agora) é a faixa menos reproduzida do projeto, o que expõe a falta de popularidade atual do grime, fator principal para vermos bons MCs se afastarem cada vez mais do gênero, com o intuito de atingir lugares mais altos nas paradas musicais. Com isso, compreendo as intenções de Skepta em se diversificar artisticamente e produzir projetos cada vez mais visando o rap, trap e o pop rap. Uma pena que são estes os gêneros que, para mim, deixam de expor as melhores habilidades do artista. De qualquer forma, as contribuições de Skepta para o grime já estão gravadas na história e nada mudará isso.

Ouça All In, novo EP de Skepta.

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