A Solidão de uma estudante de Engenharia

Thatilla Curty
Editorial 20 21
Published in
2 min readJun 16, 2020

Durante todos os anos escolares, desde o ensino fundamental ao médio, gostava da clareza e objetividade da matemática e me destacava na matéria. Com o passar do tempo, não havia dúvidas que seguiria o caminho das exatas. Mas,infelizmente, me alertavam que seria um caminho “solitário”.

Nos dois últimos anos do ensino médio, dividi meu cotidiano entre o colégio e o curso técnico em eletromecânica, e para explicar minha vivência na engenharia como mulher, não posso deixar de citá-lo.

Assim como no curso técnico, na engenharia não foi diferente: poucas mulheres em um cenário historicamente masculino e não demorou muito para estreitar ainda mais essa diferença numérica. Com o avanço dos períodos, é costumeiro que alguns alunos fiquem para “trás”, e assim que pisquei os olhos, na maioria das disciplinas que frequentava, lá estava eu sozinha em gênero.

Aprender a conviver com a “não representatividade” e com o desconforto de uma posição que se é desvalorizada, menosprezada e questionada por suas capacidades é uma tarefa diária, pois, por mais que seja efetivamente presente no dia a dia, é algo que afeta no ímpeto e há sempre esperanças de que tenha conseguido fazer enxergar-se capaz e que ser mulher é apenas uma diferença de gênero/estética.

Ainda que atualmente o cenário seja um pouco mais favorável (em comparação ao passado) e apesar de estar cercada de colegas que, em sua maioria, são compassivos, passei por algumas situações desagradáveis, como duvidarem da minha capacidade intelectual e me questionarem por isso.

Em aulas que requerem uma familiaridade no uso de ferramentas e prática, surge aquele desconforto provindo do famoso discurso envolto na “capacidade de levantar muito peso”, entretanto a questão não está em conseguir ou não, e sim na habilidade de pensar e otimizar uma forma de fazê-lo… isso sim envolve Engenharia. Na maioria das pessoas surge certo espanto e a supervalorização de eu, como mulher, conseguir manusear ferramentas com certa desenvoltura ou ter percepções práticas que julgam não ser associados ao gênero feminino.

Embora esses infortúnios aconteçam, estar cercada de professores e alunos que são conscientes da existência do machismo que cerca a engenharia e criam oportunidades de mudança, faz com que as situações indesejadas sejam levadas como exemplos a serem mudados.

Ainda que eu precise lutar menos, a lógica seria que não fosse necessária luta, mas ainda há muito que ser mudado: Vai além do incentivo às mulheres fazerem ciências exatas e engenharias, está, sobretudo, no modo de as possibilitarem e incentivarem a permanecer no curso.

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