Arte que gera capital

Como o trabalho artesanal encontrado na Expointer tem papel imprescindível no desenvolvimento da economia gaúcha.

Alessandra Kominkiewicz
2018/2
3 min readOct 4, 2018

--

A Expointer, feira agropecuária que ocorre anualmente no Centro de Exposições Assis Brasil na cidade de Esteio é um evento que possui destaque nacional e internacional. Ao longo das suas edições, abre espaço para que empresários de diversos segmentos possam divulgar seus produtos e, consequentemente, propicia o desenvolvimento da economia regional. Além do agronegócio, o evento também abre espaço para artesãos que expõe seus trabalhos na Expoargs, feira destinada exclusivamente ao artesanato.

Na 41ª edição da Expointer, em 2018, a Expoargs realizou seu trigésimo quinto evento e contou com 295 expositores de 46 municípios do Rio Grande do Sul. Considerada a mais significativa para os artesãos, a exposição movimentou este ano cerca de R$1,2 milhão com 35.500 peças vendidas.

Segundo o SEBRAE, saber identificar e estimular a cultura brasileira através do artesanato traz, acima de tudo, a culturalização no valor. Cada peça produzida representa uma parte da herança deixada pelos povos que passaram pelo estado e isso é representado através de traços, cores e características.

Este ano, os destaques foram peças criadas a partir de reaproveitamento de madeira. De acordo com a coordenadora do Programa Gaúcho de Artesanato (PGA), Marlene Leal, “é surpreende o aumento do uso de madeiras de reciclagem na produção das peças”. O artesão Amauri Monteiro de Almeida, de 71 anos trabalha com artesanato há dez anos e é um dos artistas que utiliza a matéria-prima na confecção de seus produtos. Com pedaços de madeira que encontra, recria a cultura gaúcha em carroças, animais e outros elementos regionais.

Amauri Monteiro realiza trabalho minucioso em madeira, retratando a cultura gaúcha. Foto: Mauricio Paulini

O artesanato no Rio Grande do Sul é estimulado através de ações como do Programa Gaúcho do Artesanato, que visa incentivar a profissionalização dos trabalhadores que produzem a manufatura. Além disso, buscam fomentar a atividade artesanal com políticas de formação, qualificação e orientação. Atualmente, o artesão dispõe da Carteira do Artesão, documento que confere o registro e reconhecimento no Ministério do Trabalho e Emprego para fins de benefícios.

O incentivo a profissionalização do trabalho artesanal é percebido na Expoargs. A expositora Sirlei Melo, que produz peças desde os 14 anos, afirma que, para participar de feiras como essas é preciso fazer os cursos e seminários oferecidos pelo PGA, que além de instruir sobre técnicas de produção também ensina métodos de precificação dos produtos e atribuições de venda aos artesãos.

A coordenadora do programa, que também representa os artesãos no Programa de Artesanato Brasileiro, em Brasília, explica que muitas famílias conseguem fazer do trabalho artesanal, fonte de renda principal. “A maior parte envolve a família trabalhando. Nós temos os cuteleiros que fazem as facas e a família auxilia fazendo as bainhas. Tenho cuteleiro que em nove dias fez R$38mil”, afirma Marlene. Ainda relata que a Expoargs abre muitas portas para comercialização fora da feira, o que proporciona outros meios de aumentar o rendimento.

Marlene trabalha há cerca de 40 anos com ações em prol do artesanato. Foto: Mauricio Paulini

Contudo, o artesão Amauri relata que o trabalho que realiza é um passatempo, pois o retorno não é suficiente para constituir renda. “Às vezes tem que comprar o espaço e ele é caríssimo e o artesão não consegue comprar pra expor”, explica. A mesma realidade é vivida por Sirlei, que encontra na venda dos artigos um complemento para sua renda. “Antes de 2015 as vendas eram super boas, depois foi baixando as vendas e hoje é só complemento mesmo.”

O espaço na feira de artesanato da Expointer é cedido gratuitamente aos expositores justamente para fomentar o comércio dos itens. De acordo com dados oficiais do Governo do Estado, o evento registrou um crescimento de 21% nas vendas em comparação com 2017. Apesar das dificuldades, o artesanato tem papel essencial não só na cultura como na movimentação econômica do estado. Daí a importância do incentivo constante. Além de gerar renda, o trabalho artesanal desenvolve a história do Rio Grande do Sul e é imprescindível para a permanência da cultura gaúcha através das gerações.

Autores: Alessandra Kominkiewicz e Maurício Paullini

--

--