Crescente negativa: entenda a valorização do dólar em 2018 e as projeções para o próximo ano

Dado Nogueira
2018/2
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4 min readDec 4, 2018

A cotação da moeda norte-americana teve mais aumentos do que quedas durante o ano, um reflexo da economia brasileira

Foto/montagem: Dado Nogueira

A crise financeira que atinge o Brasil acarreta em uma série de problemas. Mesmo na retomada do seu crescimento, o país ainda sente fortemente o ápice da instabilidade de 2016. Com a inflação elevada, o dólar se vê obrigado a valorizar com relação ao real. Turismo, altos custos nas compras por parte do consumidor — já que boa parte dos produtos são importados de fora — , são apenas algumas das consequências causadas pela alta da moeda norte-americana.

“O Dólar tem uma importância mundial e não somente nacional, pois, sua cotação determina o preço de várias commodities mundiais (no Brasil, por exemplo, temos a soja e o petróleo), e que movem a economia”, explica Everton Lopes, economista e coaching financeiro. Lopes, que é considerado a maior autoridade em educação financeira do Rio Grande do Sul, comenta que para os exportadores do Estado, a alta do dólar é um “excelente negócio”, por aumentar o preço dos produtos e o lucro das empresas.

Everton Lopes é colaborador dos principais meios de comunicação do Estado, sendo o que mais aparece na mídia nos últimos 12 anos. (Foto:Everton Lopes: Home Version 4 / Internet)

Em 2018, o dólar comercial teve a maior cotação da história, desde a criação do Plano Real, em 1994. O valor de R$ 4,19, fechado no dia 13 de setembro, foi considerado, segundo analistas, uma consequência das preocupações com a eleição presidencial. Vale lembrar que, no início do mês de janeiro, a moeda estava fechando em R$ 3,26, e nas cotações do mês de novembro, apesar da queda com relação ao período que antecedeu as eleições, está fechando na base dos R$ 3,75.

De acordo com Everton Lopes, a alta do dólar pode ter muitos fatores. No Brasil, os motivos são, principalmente, “pela alta das taxas de juros nos Estados Unidos, a briga [econômica] com a China e, recentemente, o cenário político brasileiro”. Para mudar esta realidade, Lopes explica que a queda da moeda americana não depende apenas do panorama brasileiro interno, mas, principalmente, pelo cenário externo. “Seria necessário mudar a confiança interna no país, gerando assim mais empregos e, por fim, uma queda mais significativa da taxa de juros, que ainda são consideradas uma das mais altas do mundo”, argumenta.

Desafios econômicos do próximo governo

A partir de 2019, Jair Bolsonaro assumirá a Presidência da República, após vitória no pleito eleitoral de outubro. Enquanto ocorre o período de transição entre os governos, e a composição ministerial sendo realizada pelo futuro presidente, é possível realizar algumas especulações, projetar a economia e o dólar no próximo ano.

Para o cientista político Rafael Moura, ainda é precipitado avaliar o futuro da economia brasileira, mas é possível pontuar algumas coisas. Segundo ele, “Bolsonaro, pelos nomes de sua equipe econômica, fará um programa liberal centrado em privatizações, austeridade fiscal, altos superávits primários e prioridade para a estabilidade monetária”.

Moura, que é pesquisador integrante do Núcleo de Estudos do Empresariado, Instituições e Capitalismo (NEIC), explica que a economia brasileira se tornou cada vez mais pautada pelos setores primário (agronegócio/mineral extrativo) e terciário (serviços), e que, ao contrário do setor de manufaturas, não possuem grande tendência a alavancar a produtividade. “Assim, é altamente provável que o Brasil — a despeito da recuperação em relação ao patamar dos anos recentes — tenha uma taxa de crescimento baixa e pouco sustentada pelos próximos 4 ou 5 anos”, comenta.

Rafael Moura é pesquisador integrante do Núcleo de Estudos do Empresariado, Instituições e Capitalismo (NEIC) e do INCT/PPED, vinculado ao Laboratório de Estudos em Economia Política da China (LabChina-UFRJ) e à Associação Latino-Americana de Ciência Política (ALACIP) (Foto: arquivo pessoal).

Sobre a equipe econômica de Bolsonaro, Everton Lopes diz que “há uma tendência de estabilização do mercado”, pois, o mesmo tem absorvido muito bem até o momento os nomes para o próximo governo. Assim como Moura, Lopes prevê “um cenário mais liberal e privatizante”. Sobre o dólar, o pensamento de estabilização é o mesmo. Segundo ele, é difícil que ocorra aumento forte na moeda norte-americana. “O nosso país possui mais de US$ 3 bilhões em reservas cambiais, não acredito que um aumento muito forte possa acontecer, mesmo especulativo”, comenta. Ele ainda cita o boletim Focus do BACEN, que projeta o dólar chegando à 2019 por volta de R$ 3,80, no máximo.

A economia brasileira no próximo governo ficará por conta de Paulo Guedes, uma das primeiras escolhas e convicções de Bolsonaro. Economista formado e reconhecido por opiniões liberais, Guedes, além das privatizações, “deve prezar pela diminuição de barreiras tarifárias e dar prioridade aos altos juros e superávits para obter disciplina fiscal e estabilidade da moeda”, como relata Moura.

“Certamente, esse cardápio de medidas conta com forte apoio dos empresários e detentores de capitais, o que pode fazer o dólar cair”, comenta. Entretanto, de acordo com Moura, se as reformas de Guedes não surtirem efeitos esperados e levantarem incertezas, o dólar pode pausar a redução e ter, novamente, um aumento significativo.

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