Diminui o engajamento dos jovens com o voto não obrigatório no Brasil

Mariana Dornelles
2018/2
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4 min readNov 8, 2018

Por Giordana Cunha e Mariana Dornelles.

Política deixou de ser assunto só de adultos, afinal, os jovens também têm opinião e vontade de mudar o país. Mas será que grande parte da população brasileira juvenil está realmente interessada em saber mais sobre os seus direitos políticos? Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, 3.727.225 jovens entre 16 e 18 anos irão às urnas nas eleições de 2018. No entanto, uma baixa considerável de mais de um milhão de adolescentes que foram em 2016.

Segundo o ex-secretário da Juventude do Partido dos Trabalhadores (PT), Lucas Kirschke, o engajamento dos jovens com o voto não obrigatório pode variar de tempos em tempos. “O que eu percebo atualmente é que a faixa etária mais engajada é aquela entre os 20 e os 30 anos. Houve outros momentos nos quais eu percebi na militância o maior engajamento da juventude já a partir dos 16 anos”, comenta.

O Instituto Data Popular divulgou uma pesquisa para mostrar o perfil do jovem brasileiro e seu interesse pela política. Segundo a levantamento, 92% acreditam na própria capacidade de mudar o mundo, 70% acredita no voto como instrumento de transformação da nação e 80% reconhecem o papel determinante da política no cotidiano brasileiro. Por outro lado, cerca de 60% acredita que o país estaria melhor se não houvesse partido político.

A estudante Reykla Lemes, do terceiro ano da Escola Estadual de Ensino Médio Roque Gonzáles, acredita que os jovens não se importam em lidar com assuntos relacionados a democracia e direito, pois as pessoas estão cada vez mais alienadas. Para ela a solução é trazer a política para sala de aula. “Eu sou a favor da política na escola, tem que ser conversado e mostrar os diferentes lados políticos. Mostra para os jovens que eles têm direito, porque muitos acham que não tem direito e é isso”, afirmou a estudante.

Reykla faz parte do 1.884.150 de jovens meninas que irão votar. O número é maior do que os meninos da mesma faixa etária, eles marcam 1.843.075 aptos a votar. “Eu fiz meu título eleitoral logo que completei 16 anos, pois não adianta eu estar militando e eu não votar para conseguir mudar as coisas que eu acredito”, afirma a estudante.

O aluno de primeiro ano Gustavo Conceição irá utilizar pela primeira vez o seu título de eleitor. “Eu tenho noção da importância de exercer meu direito de poder votar. Eu me informo e sei como está difícil a situação no Brasil”, respondeu Gustavo, quando perguntado o motivo de ter feito tão rápido o título.

Ele ainda conta que a maioria de seus amigos não tem o título de eleitor e, na sua opinião é preocupante. “Eles estão deixando a política de lado e ela essencial para os nossos direitos e deveres”.

Os estudantes concordam que a prioridade dos candidatos deve ser a educação. Reykla contou que quando estudava na Escola de Ensino Médio Padre Réus foi uma das organizadoras da ocupação estudantil. “Foi a primeira vez que eu vi que estava funcionando e nos estávamos ajudando nossos professores. O único jeito de mudar algo é uma greve, chamamos atenção para nossa causa. No início até funcionou, foi repassada verba para a escola. Só o que adianta num ano acontecer tudo isso e no outro está pior a situação”, lamenta.

Juventude partidária

Uma forma dos jovens participarem ativamente no processo político é por meio da filiação. Neste processo, o jovem poderá escolher qual o partido em que mais se identifica e, também, participar da juventude.

A Juventudes do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) realiza um encontro anual com jovens de 16 a 29 anos (idade estabelecida pelo Estatuto Nacional da Juventude) com o objetivo de fomentar a discussão política, onde a única exigência para a participação é estar dentro da faixa etária.

Para o tesoureiro da Juventude do PSDB, Henrique Fornari, a política não se baseia em conquistar votos em época de eleição. “Para que tenhamos, de fato, uma renovação geral dos nossos quadros políticos partidários precisamos, cada vez mais, que os jovens de todas as faixas etárias, tendo o voto facultativo ou obrigatório, participem dos projetos que visam a formação política”, ressalta.

O Partido dos Trabalhadores (PT) conta com a Secretaria Setorial da Juventude. Isso significa que em todos os fóruns partidários deliberativos a juventude tem acento e voz em diretórios comissões executivas.

Segundo Lucas Kirschke, o foco é dar conta das pautas que as juventudes pedem. “Então temos atividades referentes à juventude no mercado de trabalho, da juventude LGBT, juventude negra, etc. A principal atividade que nós temos de intervenção junto a quem não tem voto obrigatório são as campanhas de filiação que nós fazemos em porta de escola e as próprias festas e plenárias da juventude partidária”, conclui.

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