Meu voto é minha religião?

Marjorie Paula
2018/2
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3 min readNov 8, 2018

Em ano de eleições o apelo à religião está fortemente presente em discursos políticos, o que não parece estar claro é se a religião é justificativa ou não para o voto do eleitor.

O voto diante da Fé. (Foto: Fabíola Barcelos)

No próximo mês, ocorre o primeiro turno das eleições para deputados — federais e estaduais — governadores, senadores e para a presidência da república. A discussão de que religião e política caminham lado a lado (ou não!) não é nova, embora o debate tenha ganhado força nos últimos tempos e se intensificado mais ainda este ano.

De acordo com o Censo do IBGE, de 2010, mais de 90% da população declara ter alguma religião, sendo 22% evangélicos. Até o momento a “Bancada Cristã” conta com 181 deputados e quatro senadores. Ainda que seja proibido o uso de propaganda política em locais de bens de uso comum, muitos levam os políticos para dentro da igrejas ou pregam suas crenças nos cultos/missas. Em 2018 não está sendo diferente, muitos candidatos fazem referência à religião — principalmente as que pregam por um comportamento mais conservador — em seus discursos eleitorais.

No ano passado, o Datafolha divulgou uma pesquisa mostrando que oito em cada 10 brasileiros não levam em consideração a opinião de seus líderes religiosos. Entre os que dão atenção, os evangélicos se destacam, considerando também o aumento de 15,4% para 22,2%, entre os anos de 2000 e 2010, da população que se autodeclara evangélica ou frequenta igrejas neopentecostais. Para Eduardo Pacheco, 46 anos, cristão e frequentador da Igreja Adventista do Sétimo Dia, a religião não influencia diretamente no voto, mas é uma justificativa para suas ações, bem como a escolha de um candidato — que venha a ter seus mesmos valores -. “A palavra de Deus me adverte quanto ao tipo de homem que se deve confiar tal compromisso”, diz.

O pensamento de Eduardo, na verdade, é muito comum entre religiosos. De acordo com o Publicitário e professor de Marketing Político da UniRitter, Cristiano Klanovicz, a religiosidade acaba influenciando, sim, diversas práticas e comportamentos, entre elas o voto. “Essa influência ocorre na medida em que a religião orienta o pensamento e a posição ideológica do indivíduo”, diz. Ele ainda explica que os candidatos encontram na religião a legitimidade que precisam em seus discursos políticos perante o público, garantindo a aproximação e consequentemente o voto.

Marie Costa, de 23 anos, estudante de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) conta que, apesar de frequentar a Igreja Internacional da Graça de Deus há cerca de 7 anos, não tem religião, “sigo a Cristo”, explica. A futura arquiteta ainda conta que procura fazer tudo conforme o que aprende, “Procuro fazer tudo conforme o exemplo de Jesus e me pergunto diariamente o que ele faria no meu lugar”. Ao relacionar a política de um candidato com o seu segmento religioso, Marie diz não acreditar em candidato perfeito, “não existe”. Ainda assim, justifica sua escolha de voto, “eu procuro basear o meu voto no caráter e nas propostas dessa pessoa”, explica.

O Estado é laico?

Um Estado Laico é, em teoria, um país neutro em relação a religiosidade. Ou seja, suas decisões de governo não são sob influência de religião. O Brasil é um estado laico, ainda que a bancada evangélica tenha bastante representatividade no congresso nacional.

Quando o questionamento é feito em relação ao país, não há unanimidade nas respostas. É dividido. “O Brasil é laico sim”, afirma Marie Costa. “Eu, como evangélica, não gostaria de ser obrigada a saudar o símbolo de qualquer outro tipo de religião”, e completa afirmando que o país deve ser laico, mas que a fé dela e de todos os outros religiosos deve ser respeitada.

Cristiano Klanovicz afirma que o Estado democrático deve ser, por natureza, laico, onde apenas no que é de domínio privado possam ser exercidas liberdades individuais e entre elas, a liberdade religiosa. “No Brasil, a religião acaba se manifestando como uma expressão cultural”, diz.

*Reportagem redigida para a cadeira de Gestão de Informação: Política e Economia de Jornalismo da UniRitter. Pelas estudantes Fabíola Barcelos e Marjorie Paula.

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