O salário mínimo não sustenta nem o mínimo

Giordana Cunha
2018/2
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2 min readDec 4, 2018

De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconônimos (Dieese) o salário mínimo deveria ser quase quatro vezes maior do valor do que está vigente neste ano, ficando em torno de R$ 3.800,00. Neste levantamento é levado em consideração despesas básicas como moradia, transporte, alimentação, saúde, educação, entre outras.

A adequação do salário mínimo é estabelecida em lei desde 2007 e é reajustado a partir de dois fatores, segundo o professor de economia, Adalmir Marquetti. “O primeiro é a inflação do ano medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Depois é analisada a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos atrás. Está sendo estimado que o salário mínimo atinja R$ 998,00 em 2019, um aumento de 4% ou 5%”, afirma. De acordo com o valor citado, o salário mínimo ainda não será suficiente para o básico.

A aposentada Ceci Francisca Muniz sustentou a casa, onde morava ela e seu filho de 14 anos, dez anos apenas com um salário mínimo. “Não era nada fácil, tinha que fazer esticar aquele dinheiro. Ainda bem que eu tinha casa própria, porque se eu tivesse que pagar aluguel eu não conseguiria auxiliar meu filho”, relata.

Para poder mensurar o valor gasto com alimentação o Dieese realizou a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos. A capital do Rio Grande do Sul ficou em segundo lugar com a cesta básica mais cara do país, é preciso R$449,89 para comprar as comidas necessárias para o mês. “A pessoa pode comprar duas cestas básicas e sobraria um pouquinho. Esse é o poder de compra do salário mínimo. Ele não é suficiente para uma família, por exemplo, de uma mãe com dois filhos porque só com alimentação ela vai gastar meio salário” comenta o professor Marquetti.

Além disso, os trabalhadores têm descontado de seu salário a contribuição para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que fica em torno de 8%. “Estra contribuição fica em torno de 80 ou 90 reais e o 13º mais ou menos equivale às contribuições que o trabalhador teve descontado mensalmente do INSS”, ressalta Marquetti.

Os apertos de quem sobrevive com o salário mínimo

A aposentada Ceci relata atitudes que tomava para poupar. “Para ir até meu trabalho eu tinha que pegar dois ônibus. As vezes eu pegava só um e ia caminhando para que pudesse sobrar aquele dinheiro para outra coisa”, fala.

Relatou, também, que dentro de sua casa havia somente uma geladeira, uma televisão e um rádio (de aparelhos eletrônicos) para que pudessem gastar menos energia. “A luz nunca ficava ligada. A televisão nós víamos um pouco de noite e íamos dormir cedo para não gastar”, relata.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) metade dos brasileiros tiveram, em 2017, renda menor do que um salário mínimo.

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