Wagyu: à margem da crise

Giovanna Kopczynski
2018/2
Published in
3 min readOct 4, 2018

Das fazendas do interior do Japão para o Brasil, a raça Wagyu coexiste e sobrevive a crises e escândalos do mercado de carnes

Podendo custar de R$300 a mil reais a peça de carne, a raça de gado mais valiosa do mundo, o Wagyu, foi trazido para o Brasil há aproximadamente 30 anos por imigrantes japoneses, e se manteve durante certo tempo em criações pequenas e familiares. Fora dos olhos do comércio, a carne só fora descoberta na última década, quando o consumo foi popularizado após sua descoberta, dando espaço para que o governo e alguns produtores aventureiros pudessem investir neste mercado crescente.

Diferentemente dos padrões japoneses de criação, onde o gado é tratado com cerveja e massagem, entre outros luxos, para que a gordura se concentre e o animal fique em estado total de relaxamento, no Brasil os animais além de serem tratados menos minuciosamente, possuem classificação diferenciada, numérica de 1 a 12, referente a marmorização e a genética. Cada animal é avaliado em Ouro, quando for puro e com a marmorização adequada, ou Prata, quando for proveniente de um cruzamento com outra espécie e a qualidade da carne não for elevada.

O Diretor da Associação Brasileira de Wagyu, Marco Andras explica “Não tem tantas diferenças na criação do Wagyu para outras raças apesar de o tempo de confinamento ser mais longo, 300 dias”. De sua Fazenda, a Invernada Santa Fé de Julio de Castilhos, conhecida por ser uma das três fazendas criadoras da raça no Estado, o criador trouxe onze animais para o Parque Estadual de Exposições Assis Brasil. Marco relatou que o gasto com a alimentação própria para a marmorização da carne durante o confinamento, chega a 4 mil reais por exemplar da espécie. O Diretor deixou claro que existem cruzamentos desta raça que geram melhorias por marmorizar outros tipo de carne e que isso pode ser interessante no futuro.

Os animais são conhecidos por serem tardios, pois vivem de 30 a 36 meses, podendo chegar até 700 kilos, esses fatores também são inclusos na valoração na hora da venda. Segundo a diretora geral da Agropecuária Doce Vida, Ivone Schröder, “O sabor da carne marmorizada, que traz o equilíbrio entre a gordura insaturada e a proteína, além de ser rica em omega 3 e omega 6, é uma das carne mais saudáveis vendidas atualmente”.

Em comparação a carne comercializada por distribuidoras e criadouros no Brasil, os cortes da espécie Wagyu alcançam preços notavelmente elevados. Um exemplar puro, criado corretamente segundos os padrões estabelecidos pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento pode alcançar o preço de R$ 13,000 a R$ 20,000 reais.

A exemplo, o contrafilé que em média R$ 240,00 por quilo, enquanto uma peça de 1,5 kg do mesmo corte da carne bovina tradicional é vendida por aproximadamente R$ 54,00. A relação entre qualidade e quantidade é bastante relevante quando se fala a respeito de carnes.

O material que circula entre as redes de grandes supermercados normalmente vem de criadouros feitos para atender a demanda popular, que pede por uma carne magra, robusta, que renda e seja barata. Este processo força as produtoras a acelerarem o amadurecimento do animal, recorrendo a métodos prejudiciais e agressivos, assim descartando o sabor, a coloração, o teor nutritivo e a aparência da carne, aplicando uma alimentação desbalanceada.

O gado Wagyu, em contraponto, exige medidas mais especificas para que se alcance o estado desejado de marmorização em relação à musculatura na hora do abate, agregando custo significativo ao processo de criação. “A área central do Brasil reúne a grande parte da demanda atual da produção nacional de Wagyu. Como a criação exige cuidados especiais, é natural que o produto final direcione-se a um mercado especial, Gourmet se preferir. Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasilia representam os maiores compradores que trabalham comigo atualmente” finalizou Marco.

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