2019 - um overview

Pietra Rodrigues
20's things
Published in
5 min readJan 11, 2020

O fato de hoje ser 11 de janeiro pode ser um indício de como essa análise tá atrasada, mas antes ou depois dos fogos de artifício, ela precisa ser feita.

Tentei fazer tudo. Tentei não fazer. Fiz de tudo um pouco e muito de nada.

2019: um ano de contrastes | Imagem: @obviousagency

Decidi que queria ser voluntária numa ONG. O Incanto foi meu primeiro amor de 2019 e me proporcionou muito. Conheci tanto! Descobri pessoas, lugares e sensações que eu não conhecia. Teve perrengue, tasks no Trello e lágrimas (e tinta) no rosto.

Me matriculei na autoescola — R$2000 que eu não tinha e que me custaram muito depois, em tempo e em dinheiro. A parte boa é que eu fiquei linda na foto pro Detran. A parte ruim é que o primeiro documento oficial em que eu não pareço doente ou espirrando nunca vai chegar na minha mão, porque eu reprovei em todas as tentativas possíveis dentro do prazo de expiração do processo.

Gastei com maquiagem, cabelo, roupa nova e viagem de Uber do Boqueirão até a Ópera de Arame pra me formar. Briguei com a minha mãe um pouco antes de sair de casa. Senti todos os meus cachos comprados se soltarem e quis morrer por isso. Briguei no banheiro e desisti do salto pra hora em que chamaram meu nome. Descobri que eu odeio formaturas. Odiei esse dia. Com o perdão do uso excessivo desse termo tão ruim e carregado, foi uma época de ódios.

Em março, eu me conheci. Tirei a armadura e vi o que tinha ali embaixo. Cortar o cabelo é uma coisa banal ou próxima disso pra maioria das pessoas que eu conheço. Pra mim, era me desfazer da única parte de mim que eu considerava genuinamente bonita. Meu cabelo ia até uns dedos depois da cintura e, depois de uma volta no terminal do Guadalupe, se resumiu a um tiquinho na altura do lóbulo da minha orelha. Foi importante e significativo pra Pietra que tava nascendo ali (e também pra Pietra que precisava muito de um computador e não tinha os R$1500 restantes. Saí de lá sem cabelo, com dinheiro e muito, muito, *muito* orgulhosa de mim mesma).

Dobrei minha renda com freelas e não aguentei mais que um mês o ritmo de dormir 4 horas toda noite pelo dinheiro. Entre o trabalho formal e o trabalho como freelancer, eu ainda tinha as responsabilidades com a ONG, a escolha de uma pós graduação que não me gerasse arrependimento depois, inglês, convívio familiar pouco (nada) suportável e meu t.o.c com esvaziar minha caixa de e-mails e limpar todas as notificações do celular sempre que alguma surgisse. Em resumo: não deu tempo.

Não suportei meu trabalho. Chorei no táxi. Chorei no elevador. Chorei na sala de reuniões. Chorei no banheiro. Chorei sem rumo. Chorei na praça e depois em casa, com a minha mãe trazendo à luz a virginiana que vive ali dentro enquanto fazia um mapa de perdas e ganhos quando eu decidi que queria outro emprego. O número de entrevistas foi menor do que o de propostas pra assinar minha CLT — um sinal otimista e pouco discreto do universo sobre como as coisas fluem quando a gente se posiciona. O emprego novo chegou e comprei uma garrafa d’água de R$180 reais pra me mimar pelo novo start — uma impulsividade totalmente ridícula e fora das proporções do meu budget, mas que combinou bem com o rosé do meu porta canetas e caixinha de clips na mesa do trabalho novo. Fui feliz [e endividada] e continuo sendo (feliz).

Depois daqui, tudo mudou. A turbulência cessou e minha fase de introspecção e resguardo pelo fim do namoro no dezembro anterior já tinha acabado. Fiz aniversário e comemorei 9 vezes (isso mesmo, me endividei de volta). Decidi que não queria mais viver onde eu vivia e com quem eu vivia e ganhei um secador de presente de aniversário das minhas melhores amigas — um incentivo cor de rosa e bem potente pra que eu me organizasse pra sair de casa. Fazer terapia e comprar um corretivo bom me ajudaram.

Além disso, eu estava apaixonada: estudar comunicação e cultura na pós graduação foi, sem dúvida, um highlight no ano que passou. Minha barriga congela a cada 15 dias, como se eu tivesse indo pra um date no shopping com 15 anos, mas eu geralmente tô indo (“atrasada, mas a caminho!”) encontrar um professor incrível com um currículo maior que o discurso do reitor na minha colação de grau. Desde então, as noites de sexta e os sábados têm sido vibrantes!

Não vi meus avós, minhas irmãs ou meu pai e madrasta tanto quanto eu gostaria de ver, mas sinto que descobri, finalmente, como aproveitar melhor os momentos junto deles. Isso foi mais ou menos quando eu ouvi da analista “você tem que aceitar que nem todas as suas relações são profundas e viver bem com as superficiais”. 2019 foi certeiro.

Em setembro, entre um passinho e outro no Paraíso, encontrei ela, e essa foi mais uma chave virada. Demorou um tempo, mas aconteceu, e dali não desgrudamos (graças a deus). Minha mãe descobriu sem que eu contasse, na segunda vez em que eu citei que estava saindo de casa e voltaria mais tarde — o sexto sentindo dela não falha. Minha avó sorriu enquanto eu contei pra ela e meu irmão soltou um “que maneiro” quando chegou a vez dele. Nem toda a recepção familiar da notícia foi boa, mas a Pietra de 2020 que se preocupe com isso.

Não achei que fosse ter mais crises de ansiedade. Mas aí, por algum motivo, enquanto eu tomava uma taça de vinho branco no sofá da minha já atual namorada, vivi mais uma. Cada vez tem sido pior, e eu espero não conhecer o rosto das próximas. Tudo vai bem, de modo geral, mas pelo jeito a Pietra que vive dentro de mim e tem domínio do meu inconsciente discorda.

Pra conhecer essa louca e dissolver todos os nós que fazem dela uma criatura meio quadrada, as terças no divã do décimo primeiro andar de um prédio comercial do Juvevê são sagradas e esperadas. Rebolar a bunda em condições pouco previsíveis e que exigem muito da flexibilidade que eu não tenho, também — o BDNT durou pouco na minha versão de ano 19 e foi uma saída ao que minha psicóloga tratou como “coisas que não vão pro currículo”: todo mundo precisa, Pietra, fazer algo só porque quer, sem ter compromisso em ser um bom caminho pra carreira nem nada do tipo, foi como ela sabiamente disse.

A ideia de morar sozinha morreu mais ou menos em agosto, quando uma cartomante me deu uma palhinha do que tava por vir e eu acreditei. Viver com a minha mãe e dois gatinhos em um apartamento perto do meu trabalho é, sem charme e nem purpurina, um sonho de infância. E foi esse o fator que fez o fim do ano de 2019 ser tão especial. Antes de uma viagem à Brumadinho pra conhecer o Inhotim em casal, o Natal foi na minha casa, pela primeira vez, e representou uma linha bem demarcada entre o que tava ficando pra trás e o que tava se desenhando pra a partir dali.

Contrariando ironicamente tudo que eu tentei planejar em janeiro, 2019 foi absolutamente inesperado e repentino; o que conferiu um grau de susto e incerteza a vários momentos, mas também um de evolução e conhecimento de quem tá debaixo dessa pele. 2019 foi importante, precioso e digno de gratidão!

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Pietra Rodrigues
20's things

a nata (ou a escória, depende) de tudo que eu sinto, vivo e penso sobre o turbilhão de variáveis que compõe a [minha] vida — comportamento, relações & cultura.