a influência e o espaço da arte na minha vida (com cuidado pra não parecer um diário detalhado dos últimos 22 anos)

Pietra Rodrigues
20's things
Published in
3 min readMar 6, 2020
influencia da arte

Depois dos rabiscos abstratos na parede da sala que [quase] toda criança faz quando encontra um giz de cera perdido em algum canto da casa, meu primeiro contato próximo com a arte foi, muito provavelmente, por meio da escrita e da literatura; e esse encontro chegou quando eu tinha cinco anos. Nessa época meu avô me ensinou que, pra escrever o nome dele, eu precisaria juntar S,I,D,N,E e Y, e depois de muitas tentativas, eu consegui (e me senti ótima com isso, mesmo sem entender como “ípsilon” podia ter som de “i”).

Em seguida, nós passamos pros gibis e almanaques da Turma da Mônica e, aos 7, eu já me sentia uma poetisa nata — escrevia cartas pra qualquer um que desse brecha (a namorada do meu tio, por exemplo, na noite em que foi apresentada pra família, recebeu um papel arrancado do caderno com um amável anagrama de “Débora”, muitos elogios, adesivos da Hello Kitty e corações). E foi por esse histórico que, na época da escola, ler e escrever eram os meus entretenimentos prediletos.

Seria desleal com a minha história dizer que eu passei a adolescência em casa lendo clássicos, porque não foi nem um pouco desse jeito que as coisas se sucederam — eu fui uma adolescente do final da Geração Y que, assim como todos os colegas de colégio, se alienou pelos primeiros smartphones e paixonites típicas da fase.

Após ter meu primeiro iPhone e ter dado alguns beijinhos atrás do salão de festas do meu condomínio, me vi escolhendo um curso de graduação, e foi mais ou menos nessa época que os primeiros sintomas de “mas quem sou eu mesmo?” ganharam vida. Olhando as listas de cursos das faculdades de Curitiba, eu consegui eliminar tudo que envolveria sutura de pontos e cálculos de mais de 2 linhas; e quando a urgência chamada “LIMITE PRA INSCRIÇÃO NO VESTIBULAR” chegou, meu blog (cujo nome eu nunca vou contar pra ninguém) registrou meu insight: eu gostava de criar coisas — coisas escritas, principalmente. Mas eu não me sentia criativa, suficientemente corajosa pra pintar o cabelo ou descolada o bastante pra estudar design ou arte. E foi dessa forma que eu me aproximei/apaixonei pela comunicação.

Meu primeiro ano na faculdade de publicidade me deu duas certezas. A primeira: eu tinha feito a escolha certa; e a segunda: eu não dispunha de muito repertório artístico. Mesmo que sem tirar o mérito que esse período teve em me apresentar o mundo e muito de mim mesma, por infortúnios da vida universitária eu sinto que poderia ter construído essa bagagem de forma bem mais rica durante a graduação, afinal, falta muito pra ver ainda. E é nesse contexto que talvez esteja esse o cerne da minha relação com a arte: vontade de descobrir, experimentar, comunicar e conhecer.

Com um cenário político catastrófico como incentivo, uma playlist de músicas favoritas de 36 horas de duração e muitos livros na cabeceira; me interessar, estudar, comprar e valorizar arte são, pra mim, atitudes de protesto e de descoberta — do mundo e de mim mesma.

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Pietra Rodrigues
20's things

a nata (ou a escória, depende) de tudo que eu sinto, vivo e penso sobre o turbilhão de variáveis que compõe a [minha] vida — comportamento, relações & cultura.