Adeus, Arquitetura. Olá, Data Science.

Nicole Wirtzbiki
21 Tech
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7 min readNov 9, 2021

Mudando de profissão: minha experiência pessoal (até o momento)

Fui arquiteta até os 29 anos, mas essa relação chegou ao fim.

“O problema não é você, sou eu. Cheguei a conclusão que não há como sentir novamente o que sentia no inicio de nossa relação. O tempo passou, meus sentimentos mudaram, não foi nada que eu ou você tenhamos feito de errado, apenas acabou.” (O eterno clichê de término de relacionamento)

Photo by Kelly Sikkema on Unsplash

Escolher a profissão que você vai exercer por toda sua vida quando você ainda é um adolescente não é uma tarefa fácil. O problema é que também não é uma tarefa realista, mas isso raramente é dito por nossa família ou professores. Eu acreditava cegamente que Arquitetura seria a profissão que eu ia exercer pro resto da minha vida, então eu demorei um tempo para reconhecer que ela não me fazia feliz e nem correspondia as minha expectativas.

Eu escolhi estudar Arquitetura porque eu gostava de desenhar personagens do Senhor dos Anéis na minha mesa do colégio e ocasionalmente no meu próprio caderno. Ah, e também gostava muito de jogar The Sims (por favor, não ria muito da minha cara). Os meus amigos me diziam o tempo todo que eu deveria cursar Arquitetura porque eu sabia desenhar “bem”, e eu acreditei! Afinal, eu não fazia ideia do que realmente esperava da minha futura profissão aos 15 anos de idade e não havia pressão dos meus pais para que eu seguisse uma profissão específica (ou seja, eles não eram médicos).

Mas desenhar não era meu único talento, nem mesmo era a coisa que eu mais gostava de fazer, era somente um hobby, mas infelizmente eu não compreendia a diferença na época.

Cursar Arquitetura foi muito prazeroso, porque é uma assunto maravilhoso, mas mesmo na faculdade eu já sentia que faltava algo. No estágio eu comecei a compreender que exercer essa profissão exigia habilidades e inclinações natas que eu não possuía, ao mesmo tempo que não fazia uso daquelas que eu de fato dispunha. Eu me sentia deslocada.

Mas se não Arquitetura, o que? Eu não fazia ideia. E eu não ia abrir mão da minha vaga em uma universidade pública sem saber pra onde iria. Com esse sentimento de incompletude eu me formei e comecei a trabalhar na área, e assim eu fiz por 4 anos, acreditando que era só questão de tempo até que eu me encontrasse de verdade.

As coisas começaram a mudar para mim quando resolvi fazer um concurso público e me vi adorando estudar a matéria de raciocínio lógico e matemática. Assim o insight finalmente veio: Programação. Eu nunca tinha considerado essa profissão antes, acho que porque não conhecia ninguém dessa área, nem amigos nem família. Minha única referência era o filme Hackers com a Angelina Jolie. Ah, e o Hackerman.

Hackerman GIF on Giphy

Comecei a estudar Python sozinha com cursos gratuitos online para ver se eu gostava. E gostei! Escolhi Python porque a internet me disse que era uma boa linguagem para se começar, nada mais. Esse curso gratuito do Curso em Video foi minha estrela guia.

Ao pesquisar, entendi que programação era algo muito abstrato na minha cabeça, e que as ramificações da profissão eram inúmeras. “Você tem que saber o que você quer fazer na profissão para escolher o que estudar. Desenvolvimento Web? Mobile? Back-end? Front-end?” Eu não sabia o que essas coisas significavam, e cada “conselho” que recebia só me deixava mais insegura. Ainda por cima meu ritmo de aprendizado era muito lento porque eu trabalhava 8 horas por dia, turno da manhã em um escritório de arquitetura e turno da tarde em uma secretaria da prefeitura.

Mas há males que vem para o bem. No final de 2018 o escritório onde eu trabalhava passou por uma crise e dispensou quase todos os funcionários, inclusive eu. Mesmo perdendo minha maior fonte de renda, minha primeira reação no momento foi me matricular numa graduação técnica em Análise e Desenvolvimento de Sistemas em uma universidade privada (literalmente, saí do escritório e fui direto pra lá, na força do ódio), sem precisar fazer vestibular pois entrei como graduada. Prometi pra mim mesma que eu não voltaria a trabalhar em um escritório de arquitetura novamente.

Com um ano de curso, ao final de 2019, minha bolsa na prefeitura chegou ao fim e resolvi não buscar renovação. Queria acelerar as coisas e começar a trabalhar na área que eu realmente gostava. Eu ainda não tinha grandes conhecimentos de programação, mas estava agora a procura de um estágio.

É claro que essas decisões que eu tomei foram possíveis porque eu era uma jovem solteira e sem filhos, com custos relativamente baixos pois eu morava com minha mãe. Além disso, eu tinha conseguido fazer uma pequena reserva de emergência para me sustentar durante essa período de transição, acreditando que em breve eu conseguiria o meu tão desejado estágio.

Eu não possuía um foco específico na profissão que gostaria de seguir, ainda estava aprendendo conceitos básicos na minha nova graduação, então estava procurando qualquer oportunidade para aprender. Foi aí que uma amiga me avisou de um edital de mestrado em computação com bolsas, onde você seria alocado para trabalhar em um grupo de pesquisa ou empresa.

Não custava nada tentar, né? Não era necessário ter um projeto de pesquisa, apenas análise de currículo e entrevista. Eu não achava que tinha muitas chances de ser selecionada porque eu tinha pouca experiência, mas as fases foram acontecendo e eu fui passando, até que pra minha grande surpresa, deu certo! Eu era a mais nova mestranda em Ciência de Dados e Inteligência Artificial, assunto do qual eu sabia muito, mas muito pouco.

Photo by Nathan Bingle on Unsplash

E foi dessa forma que meu caminho se cruzou com o da Ciência de Dados. Sorte, destino ou acaso, seja o que for, mas foi assim que essa área entrou no meu radar.

Do momento que soube da minha aprovação até o começo das aulas, pesquisei o máximo possível sobre essa profissão e o que eu precisava saber para sequer ter uma chance de acompanhar as cadeiras. Vi que meus estudos de Python no passado seriam muito valiosos agora! Entendi que seria importante estudar a fundo não somente o próprio Python, mas ter cohecimentos em estatística, banco de dados e machine learning, além de ferramentas como R, Pandas, Matplotlib e Scikit-learn. Não havia tempo a perder.

Esse post da Letícia Gerola me ajudou bastante a ter uma idéia de por onde começar, cursos gratuitos, alguns livros e canais do youtube. É claro que não foi possível estudar tudo isso no mês que eu tinha antes de começarem as aulas, então fui aprendendo ao longo das cadeiras, movida pelo desespero e necessidade! Mas, principalmente, me apaixonando pelo assunto.

O livro Hands-On Machine Learning with Keras and TensorFlow foi uma grande ajuda, além dos canais do youtube KGPTalkie, StatQuest with Josh Starmer e 3Blue1Brown. Mas nada foi mais importante do que o apoio dos meus colegas de classe e professores, de fato eu tive muito sorte de ter encontrado pessoas tão prestativas no meu caminho, principalmente porque as aulas se tornaram online em determinado momento por causa da pandemia.

Mas no final deu tudo certo. O primeiro ano de cadeiras do mestrado passou muito mais rápido do que eu imaginava, depois de muito suor e algumas poucas lágrimas (pela falta de sono adequado). Eu fui alocada em um projeto de pesquisa que me exigiu conhecimentos em Python e visualização de Dados, onde eu pude desenvolver bastante as minhas habilidades.

Photo by Clay Banks on Unsplash

E agora a história acaba onde eu me encontro: no meu segundo ano de mestrado e trabalhando na minha dissertação. O caminho ainda é longo, eu continuo a fazer cursos paralelamente, não somente em Data Science mas também em Desenvolvimento Web, uma área que eu tenho muito interesse.

É claro que esse não tem sido um período fácil financeiramente, a minha transição de profissão ainda não acabou e qualquer gasto tem que ser muito bem pensado. Mas uma virada muito importante já aconteceu: eu já não penso sobre mim mesma como Arquiteta, e sim como Cientista de Dados.

Espero em breve poder atualizar esse texto com um final feliz: meu primeiro estágio/emprego na área.

Se você leu até aqui e quer trocar uma idéia comigo, fique a vontade! Meu e-mail está no meu About.

Até mais!

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Nicole Wirtzbiki
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Hi, I'm Nicole :) ● Master in Data Science and AI ● Architect and Urbanist ● ’21 Tech’Blog ●