Sobre Design e a cidade

As cidades tem vida própria ou a própria vida dá significado à cidade?

Reinaldo Nunes
2mldesign
4 min readMar 21, 2018

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Olá, amigos leitores!

É com muito prazer que venho escrever sobre um dos assuntos sobre os quais mais me interesso: o controverso espaço urbano, elemento da paisagem das cidades e palco das variadas manifestações da vida em sociedade. Um organismo vivo, em constante mutação, que se modifica de acordo com um conjunto de fatores. Dentro do DNA das cidades podemos encontrar a carga histórica e social que contribuiu para as formatações dos espaços urbanos, os fatores econômicos que regem as dinâmicas de uso das cidades, os fatores ambientais que influem na qualidade de vida das pessoas, os fatores sociais que manifestam as interações cotidianas, os fatores políticos que formatam as normas de conduta no território, e muitos outros elementos, que como em um fundo genético, formam a base para geração seguinte.

Meu interesse pela vida dentro dos grandes centros urbanos nasce do incômodo da vivência, cresce na vontade de mudança e ganha potência quando descubro no Design ferramentas que podem contribuir para alcançar um ideal de cidade.

É importante observar, no entanto, que a cidade tem questões complexas de diversas ordens, e que profissionais de outras áreas também atuam neste campo. Não é a pretensão do designer resolver todos os problemas do mundo sozinho. Mas sim contribuir com o melhor de suas competências, trabalhando em conjunto, para alcançar soluções inteligentes para problemas complexos, sempre focando no usuário e na relevância de suas ações.

As cidades tem vida própria ou a própria vida significa a vitalidade da cidade?

Praça IV Centenário — Santo André/SP. Foto: Raisa Reis

Na minha formação acadêmica, as temáticas Design e Cidade andaram de mãos dadas praticamente durante todo o percurso. Pude perceber que em muitos lugares o espaço público virou um palco vazio fora do horário comercial. Pouca circulação, baixo índice de permanência, falta de equipamentos urbanos, falta de luminosidade e outros fatores contribuem para o surgimento de verdadeiras zonas mortas dentro do espaço urbano.

A vida nos espaços urbanos impacta expressivamente na forma como percebemos as cidades. Uma cidade sem vida significa ausência de pessoas vivenciando os espaços públicos abertos. Significa ruas vazias. Significa a falta de ofertas convidativas para desfrutar de um espaço público de qualidade. Isso influencia diretamente na forma como nos relacionamos com as pessoas e com o entorno. A vida pública a céu aberto perde espaço para ambientes privados, fechados, controlados, condomínios, shoppings e galerias. Isso acaba matando o espaço público aberto e contribuindo para o isolamento de diferentes classes sociais e das pessoas, em situações de vida cada vez mais individualizadas. Os espaços públicos inutilizados perdem significado, ou são ressignificados conforme as dinâmicas sociais que fazem sentido naquele momento, por aquele grupo, naquele contexto.

"A cidade viva emite sinais amistosos e acolhedores com a promessa de integração social".

Jan Gehl - Cidades Para Pessoas

Jan Gehl diz que a vida na cidade é um conceito relativo. Não é o número de pessoas que importa, mas sim a sensação de que o lugar é habitado e está sendo utilizado. Uma vida urbana rica é feita de convites multifacetados, onde atividades obrigatórias e de lazer se encontram em um ambiente cuidadosamente projetado para atender as variadas necessidades dos usuários do espaço.

A batalha pela reconquista do espaço público já está acontecendo. Cada vez mais fica evidente a insatisfação com nosso modelo atual de cidade, que contribui para um estilo de vida nocivo. Onde dentre os diversos elementos que compõem o espaço urbano, a vida humana não está em primeiro lugar na lista de prioridades.

Para exemplificar um pouco do meu sentimento de insatisfação em relação a cidade deixo essa música.

“ Porque cidade tem vida mas nunca ousou te dizer. Você não vive na cidade, ela que vive em você.”

Shawlin — Afirmação da Vida

Shawlin — Afirmação da Vida

Na próxima oportunidade pretendo aprofundar na temática, trazendo meu projeto de conclusão de curso. Assim poderei exemplificar de forma mais concreta as questões relativas a cidade que foram levantadas e as soluções apresentadas.

Semana que vem tem o Antônio falando sobre GTA V e UX nos Games! Não esqueça de deixar o seu e-mail para receber nossa newsletter semanal sempre com textos fresquinhos!

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