A Moraes Moreira, uma singela lembrança

Passado, presente e o mistério do planeta

spicy boogie, o mr. lova lova
300 Noise
3 min readApr 13, 2020

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Moraes, Baby Consuelo (ou do Brasil) e Paulinho Boca de Cantor.

Dentre tantos nomes importantes na música brasileira, Moraes Moreira com certeza é um dos figurões de destaque. No entanto, para não tornar esse post uma mini biografia, vamos focar menos em sua trajetória individual e mais em suas contribuições para a arte, em especial no álbum, adorado por tantos brasileiros, aquele encarregado por mudar muita coisa na história da nossa música, “Acabou Chorare”, de 1972.

Como membro dos Novos Baianos, seu papel foi fundamental no desenvolvimento do disco. Mesmo com Moraes contando sobre como o processo de composição era muito natural, no qual todos participavam um pouco, ele foi responsável pela maior parte dos violões. Seus arranjos se espalham por quase todas as dez músicas, pelo menos oito delas tem seu envolvimento direto. Mas tudo isso talvez nem existisse se não fosse outro grande figurão da música nacional.

Foi o contato com João Gilberto que fez a banda, e o próprio Moraes, enxergar as coisas em novas perspectivas. Se antes o samba recebia pouca atenção e o rock era o centro delas, depois desses encontros, o grupo começou a valorizar e incorporar cada vez mais elementos de música brasileira. A música, “Brasil Pandeiro” de Assis Valente, segundo Moraes, fez eles acordarem para o samba. Não é a troco de nada que essa é a música de abertura do álbum. O primeiro verso exemplifica isso muito bem.

Brasil, esquentai vossos pandeiros / Iluminai os terreiros / Que nós queremos sambar

Moraes Moreira faleceu nesta segunda, dia 13 de Maio, vítima de um infarto.

O modo como Moraes tocava também mudou, se assemelhando muito mais aos músicos do samba e da bossa nova. Esse requinte, de tocar puxando mais as cordas, trouxe um sabor especial ao som dos baianos. O leve e despojado dos violões e o peso energético da guitarra se tornariam o centro desse prato musical cercado de sabores variados.

A craviola e a guitarra elétrica de seu companheiro Pepeu Gomes junto dos demais instrumentos, como cavaco, maracas, baixo elétrico, pandeiro, afoxé e bateria, gerou uma textura elétrica e acústica, executada de maneira extremamente criativa para a época.Os ritmos transitavam entre os mais característicos da música brasileira. Era samba, baião, choro, frevo e bossa, junto do rock da contracultura norte americana.

O resultado desse pratão sonoro foi um sucesso por todo o país, chegando a bater 150.000 cópias vendidas. Quase todas as músicas viraram clássicos consagrados, da meio bossa nova, “Acabou Chorare” até o samba energético de “Besta é Tu”. O álbum em si merecia um post só para ele, mas é interessante observar como os arranjos de Moraes (e de Pepeu também) ajudaram definir esse som tão característico.

Claro, toda sua produção não se resume apenas ao seu tempo nos Novos Baianos, após de sair da banda começou sua carreira solo, lançou uma porrada de álbum, fez diversas participações no carnaval baiano e até se reuniu novamente com os antigos baianos (desculpa o trocadilho, não aguentei). Moraes foi um cara que produziu muita coisa, mas por hoje ficamos aqui com uma breve e singela lembrança na sua contribuição em um dos plays mais amados da música brasileira.

É, Moraes Moreira, seja no passado ou no presente, você deixou sua marca, participou e muito nesse mistério do planeta. Talvez continue em outro plano (ou qualquer coisa que o leitor quiser acreditar).

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