Existe hora pra parar?

O drama da música desenganada

Felipe Alves
300 Noise
3 min readFeb 23, 2021

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Daft & Punk

Enquanto o Deep Purple espera pela volta dos shows para divulgar seu vigésimo primeiro álbum, que eu particularmente nem sei o nome, o duo francês de música eletrônica, Daft Punk, encerra a carreira com uma obra breve, mas de extrema relevância.

Afinal, existe hora para se aposentar no mundo da música?

Idade não é parâmetro, afinal, os Rolling Stones se apresentam até hoje e continuam emplacando músicas nas paradas, tal como Paul Mccartney. Mas se as dores nas costas não afetam a vida útil de uma banda, a discografia pode ser um sinal bem poderoso.

Do ponto de vista do fã, é difícil pensar em algumas bandas além do saudosismo. Por exemplo: chega a ser injusto com o próprio Metallica afirmar que a banda continua lançando coisas relevantes. Algumas bandas não conseguem envelhecer ou, quando tentam, passam muito do ponto. Um Saint Anger talvez não passe perto do ponto alto da carreira da banda, mas acaba representando uma fase para a sonoridade e novos caminhos para se reinventar. Ou então, caímos de paraquedas em um álbum esquisito, confuso, mas muito celebrado pelos fãs, como o Death Magnetic. Um disco que não apresentada nada além de traços fracos de todas as partes relevantes do que um dia foi o Metallica. Por isso funciona. Porque é nostálgico, mas só isso.

Discografia de quase qualquer banda dos anos 80 que ainda está em atividade.

Outras bandas se consagram tanto com um álbum que se torna até arriscado lançar outro. Trata-se de abaixar os parâmetros através de comparativos. O American Football sofreu isso após seu debut de 1999 e resolveu arriscar uma continuação para a discografia em 2016 com seu LP2. É um agrado ouvir coisa nova, mas o resto da discografia se afasta tanto daquele primeiro ponto intocável que algo perde seu brilho no meio do processo.

E é perdendo esse brilho que as bandas vão se desgastando. Gravando para tocarem ao vivo e tocando ao vivo para viverem de seu passado. Afinal de contas, ninguém liga para as duas músicas do álbum novo do Bon Jovi que serão tocadas no meio do show, todos querem ouvir Wanted Dead or Alive. Por outro lado, alguns grupos nos deixam com a vontade de mais, mesmo após anos de sua separação. Estes grupos são os que permanecem com suas discografias praticamente esculpidas, mesmo que com alguns pontos imperfeitos. Cumprem um propósito e se tornam pontos de referência dentro de seu gênero. Afinal de contas, banda nenhuma deveria ser um plástico esperando para ser decomposto pelo mar. E mesmo assim, no final desses 400 anos, aposto que ainda teremos um álbum novo do Iron Maiden sendo lançado.

Álbum novo do iron maiden que ninguém nunca ouviu inteiro.

Independente da discografia, é inegável que alguns projetos se vão tão rápido que acabam se tornando seres mitológicos dentro do mundo da música. Da mesma forma, algumas bandas mitológicas acabam se transformando em irreversíveis piadas por não entenderem seu próprio fim e continuarem a empurrar a mesma pedra do alto da colina, como se ela fosse colidir com o sucesso que uma vez esteve por lá.

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Felipe Alves
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Este perfil é uma obra ficcional e o autor não se responsabiliza pelo conteúdo postado. Criador da @300noise escritor e coordenador de um certo prêmio de música