O disco de 3.500 samples

Fazer uma música com outras músicas? Isso não é copiar?

spicy boogie, o mr. lova lova
300 Noise
2 min readMar 31, 2020

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Usar trechos de música, programas de TV e até mesmo filmes para construir uma música nova inteiramente do zero. Parece estranho num primeiro momento, gerando questionamentos na cabeça de alguns ouvidos mais tradicionais: Fazer um som usando coisas já existentes? Onde está à criatividade de antigamente? Isso não é copiar?

Não necessariamente. As possibilidades da tão dita arte “pós-moderna” nós levaram ao conhecido sample, que nada mais é do que os fragmentos ou amostras sonoras de outras obras, gravados e armazenados nos samplers (ou em qualquer software de áudio genérico que você queira). Utilizar sons, ruídos, falas, melodias e batidas desconexas e trazer um novo sentido a tudo aquilo. Transformar em algo que nada se assemelha ou se aproxima do objetivo primário de determinada obra. Essa forma de se produzir música ganhou até mesmo um nome próprio, o plunderphonics (e por que não turntablism também?)

E foi durante o desenvolvimento do hip-hop que o uso dos samples ganhou popularidade. Mas atingiu um novo patamar com o criticamente aclamado, Paul’s Boutique, do Beastie Boys. Composto quase inteiramente de samples (esse mérito iria ficar para Dj Shadow, mas isso é coisa para outro post), colagens, sobreposições de batidas, linhas de baixo, melodias de teclado, guitarra e por ai vai… Com certeza foi um divisor de águas. Após esse álbum fomos apresentados ao uso de samples como uma possibilidade artística quase sem fins.

Capa do Since I Left You (2000)

Agora entra o disco em foco nesse pequeno post. Since I Left You do The Avalanches, lançado na virada do século. O play, assim como Paul’s Boutique, virou uma referência quando se fala em sons criados a partir de outros sons. Elevando ao cubo a façanha dos Beastie Boys e de caras como o Dj Shadow, os australianos produziram um álbum com cerca de 3.500 samples (!), indo do mais diversos gêneros, amostras de filmes, comerciais de TV, tudo que você possa imaginar. Da junção dos mais aleatórios fragmentos, Robbie Chater e Darren Seltmann, os cabeças por detrás de toda essa maluquice, criaram um álbum de disco, dançante e divertido até umas horas. Se você ainda acha que não se pode criar arte a partir de outras artes. Talvez a “reciclagem” musical não seja para você mesmo. Mas de uma chance, poxa.

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Produtora, agência cultural, realizadora de ideias improváveis & sua fonte semanal de conteúdo duvidoso.

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