Por quê ter uma carteira virtual própria?

Robson Silva
314coins
Published in
5 min readNov 9, 2017

Já imaginou o seu banco ter um ‘problema técnico’ e bloquear o saque por quase um mês? Ou pior, você olhar o saldo de sua conta antes de dormir, acordar pela manhã e seu dinheiro ter desaparecido!

Estas situações, raras de acontecer no sistema financeiro tradicional (apesar de tudo ter um preço, e essa segurança vir acompanhada de taxas abusivas, ineficiências técnológicas, e as vezes abusos de poder), ainda são comuns no mundo cripto. Irei mostrar a importância de você gerenciar sua carteira virtual e você decidir qual nível de segurança deseja ter. Os principais problemas mostrados serão os casos de roubo, e os casos de fork.

Casos de roubo

“Tenho mais chances de ser hackeado do que a exchange”

Apesar de as exchanges tomarem diversas medidas de segurança (algumas nem tanto), elas são foco de tentativas de ataque quase diariamente, aumentando muito o chance do sucesso destes ataques. Com poucos cuidados, já é possível deixar bem remota a chance de ter seu dinheiro roubado.

“Se a exchange for hackeada, ela devolverá meu dinheiro”

Apesar de parecer lógico que essa seria a postura das exchanges, não foi o que aconteceu em quase todos os casos nacionais e internacionais. A Foxbit teve problemas técnicos no fim de maio desse ano, e ficou quase 3 semanas fora do ar. A Mercado Bitcoin quando foi roubada, devolveu o dinheiro dos clientes com a cotação de do dia do roubo, quase 1 mês depois, que no caso do BTC, sabemos o quanto isso pode ter feito diferença no valor final.

Alguns casos famosos de roubos de exchanges nos últimos anos:

1. Mt. gox

Exchange Japonesa- Maior da época
  • Data: 19 de Junho de 2011
  • Quantidade perdida: 2609 BTC | +750,000 BTC
  • Resumo: Exchange japonesa, era uma das maiores exchanges da época. Em 2014,um outro hack aconteceu quando operava quase 70% do BTC no mundo, levando a empresa a falência.

2. Bitfinex

Exchange com maior volume de BTC das últimas 24h
  • Data: Agosto de 2016
  • Quantidade perdida: 120.000 BTC (72 milhões USD na época)
  • Resumo: Segundo maior roubo de Bitcoin da história. Ocorreu devido a uma vulnerabilidade nas multi-signature wallets, um tipo de carteira usado por essas exchanges que depende de mais de uma chave privada para conseguir fazer um saque. Felizmente, a empresa assumiu a perda e ressarciu seus clientes aos poucos, até 1 ano depois.

3. Poloniex

  • Data: 4 de março de 2014
  • Quantidade perdida: 12.3% de todos seus BTC (número absoluto não divulgado)
  • Resumo: Uma das exchanges mais utilizadas de BTC e outras criptomoedas. Após o hack anunciou a suspensão do serviço por alguns dias e anunciou que todos os seus clientes teriam seus fundos reduzidos em 12.3%. A empresa resolveu pagar a perda dos clientes um tempo depois.

4. Mercado Bitcoin

  • Data: maio de 2014
  • Quantidade perdida: Não divulgado
  • Resumo: Quando a empresa ainda estava sob a liderança de Leandro César, a empresa foi roubada, segundo o próprio Leandro. Nas semanas seguintes após muita tensão a empresa anunciou a entrada de novos sócios e pagamentos com cotação desatualizada a todos os clientes. Infelizmente é muito difícil encontrar informações do que é considerado o maior incidente de roubo de BTCs no Brasil. Como as cotações na hora do pagamento não seguiam as cotações verdadeiras da moeda, é algo que a empresa evita falar a respeito.

Casos de fork

O que é um fork? Recapitulando:

A blockchain é um livro-razão (ou base de dados) público, imutável e descentralizado. É possível escrever neste livro de acordo com um conjunto de regras (que na prática são linhas de código). O conjunto de regras iniciais são definidas pelos criadores, mas as modificações destas regras são definidas por consenso pelos validadores (mineradores).

Nestes momentos de mudança código, temos um fork. Se este código for compatível com a versão anterior, temos um soft fork, caso contrário, temos um hard fork. Nesse caso os mineradores podem decidir se adotam a mudança, permanecendo a mesma moeda, ou se criam uma nova moeda. Este foi o caso dos dois forks do Bitcoin desse ano: Bitcoin Cash e Bitcoin Gold.

Beleza Rob, entendi, mas o quê tem a ver carteira virtual própria e os casos de fork? Na prática, quem deixou seus bitcoins guardados nas carteiras da Foxbit ou Mercado Bitcoin durante os eventos de fork, deixou de ganhar os Bitcoin Cash(BCH) que tinham direito. Na época, se você tinha 1 BTC, você ganharia 1 BCH, que começou com a cotação de 700 USD.

Alguns casos nacionais de exchanges que não repassaram moedas de fork nos últimos anos:

Foxbit

Bitcoin gold

A empresa decidiu não participar do fork e fez a comunicação pelo Facebook. Instruiu seus usuários a tirarem seus BTCs de lá caso quisessem participar do fork.

Bitcoin Cash

Não apoiou o fork mas repassou os Bitcoins Cash dos clientes que solicitaram através de um formulário específico que não foi divulgado (novamente) no blog ou através de email para toda a base de usuários.

Me pergunto o que foi feito com todo dinheiro gerado, dado que o BCH na data dessa publicação está em US$ 640 e é a terceira crypto em captação de mercado (+ US$ 10 bi).

A Foxbit também passou por casos de instabilidade no meio do ano, basicamente ficando inoperante e com lentidão de dias para o saque dos BTC em custódia. Alguns dos problemas que podem ocorrer quando centralizamos algo que em sua concepção deveria ser descentralizada.

Mercado Bitcoin

A empresa acabou sendo mais justa com seus usuários do que a Foxbit, atualizando e suportando o BCH, com o anuncio um dia após o hard-fork ocorrer. Inclusive integrando a plataforma. Prometeu o mesmo para o Bitcoin Gold.

Concluindo…

Espero ter conseguido mostrar as vantagens de gerenciar sua própria carteira. Apesar de não ser tão simples quanto abrir uma conta em uma exchange. A descentralização traz poder para a mão do indivíduo, e isso exige uma contra partida de aprendizagem de uma nova tecnologia. ;).

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