Daniela Belmiro
3Devi
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1 min readAug 16, 2019

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O lambe ainda resistindo, em Botafogo

Há que se ter um desprendimento que eu não sabia que tinha para se misturar assim na cidade. Antes das sete eu colei os cartazes no trajeto de sempre, nem doze horas e não sobrava mais um no lugar. Arrancados, quem sabe, por um amante secreto de versos, vai ver. A cidade ideal do poeta, poderia dizer a canção lá de trás. Há que se ter uma certa fé.

“Estou viva”, ela falou do meio do abraço, os cabelos ainda bem curtos ficando brancos e os olhos muito brilhantes. Foi um tempo me olhando da porta do restaurante, inesperadamente trazida por obra do puro acaso. Sem saber o que dizer, talvez. Nem eu. Dor? Mais que. Tão maior. Ela e eu soubemos juntas que ali com os cabelos rentes podia e não podia ser a minha irmã. Viva. Eu vim embora chorando e ganhei um caderno novo, eu vim chorando e decidi enfim estender a mão para o amigo, eu vim chorando e sem querer de jantar saiu um coq au vin. Eu vim chorando meu espanto com isso tudo pelo mesmo caminho de mais cedo e o cartaz que descobri sobrando era um só: Vida, esta eterna obra de fricção.

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Daniela Belmiro
3Devi
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— — malabarista de vazios, carangueja inventora de asas, a moça que escreve também no @desdicionario, @peeping_dani e @imagina.gram