Gamificiation - Engajamento ou diversão?

André Chaves
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5 min readApr 1, 2020

Se você gerencia tecnologia em alguma empresa, com certeza já ouviu algum membro da equipe de negócios falar sobre gamification e como o produto de vocês precisa disso! (será?)

Nos últimos anos a ideia de tornar trabalhos do dia a dia “divertidos” ou até mesmo criar um sistema de competição entre os usuários para o benefício da empresa vem brilhando os olhos das startups.

Porém, gamification não tem nada a ver com tornar trabalhos mais divertidos ou colocar os usuários em benefício da empresa!

Então, o que é gamification?

Como assim, não é pra deixar o trabalho mais divertido?

De forma extremamente resumida, gamification é sobre incentivar o engajamento do usuário de forma que ele conquiste os objetivos dele!

Ou seja, não é sobre como você pode fazer seu funcionário trabalhar mais feliz vendo como ele ganha pontos com você. Como se fosse um sistema de recompensa por meta.

Também não é um sistema de recompensas no qual você dá ao usuário um bônus quando ele compra vários produtos em sequência, como em um sistema de milhas.

É sobre como você pode ajudar o seu usuário a chegar no objetivo dele, quebrando os desafios em pequenos passos e mostrando pra ele a evolução ao longo do tempo.

Então, se você realmente quer implementar gamification no produto, seu primeiro passo não deveria ser pensar nos seus objetivos como pessoa de negócios.

Primeiros passos

Quando colocamos o usuário em primeiro lugar, estamos com certeza indo ao encontro de um produto melhor.

Com gamification não é diferente, se você quer ter sucesso na implementação, você precisa pensar nos objetivos do seu usuário antes de mais nada.

Beleza, mas como?

O ideal é focar na solução que você está propondo para o mercado ou para sua empresa e como isso pode ajudar as pessoas a serem participantes ativos na evolução pessoal delas e, se possível, de algo maior.

Por exemplo, em uma empresa de cursos online como a Veduca, implementamos um sistema de pontuação, levels e badges. Mostrando sempre pro usuário quando ele sobe um level e dando um curso gratuito quando ele conquista um badge.

Recompensa vs Engajamento?

A ideia era misturar o processo de Engajamento do usuário com um sistema de Recompensas, assim a gente daria um incentivo a mais pra ele continuar se aprimorando, conquistando os objetivos dele e mostrando a evolução em pequenos passos.

Mudando o cenário

Empresas de educação têm uma vantagem na implementação de gamification porque o objetivo do usuário e da empresa é o mesmo.

O aluno quer terminar um curso tanto quanto a empresa quer que ele conclua.

Porém, existem diversos nichos de startups que podem sofrer bastante tentando encontrar a motivação do usuário.

E, existem muitos outros que nem deveriam estar tentando!

Quando não implementar gamification?

Uma empresa, por exemplo, de consultoria em desenvolvimento de software não precisa melhorar o engajamento do usuário, que no final das contas é o desenvolvedor.

Você não tem por que dar pontos pro seu desenvolvedor de software se ele está sendo mais produtivo. Você dá um aumento.

A gamificação da relação de trabalho pode, inclusive, ter um efeito negativo no engajamento do seu time. Já que uma pessoa não espera um badge como recompensa pela produtividade dela.

Claro, não que seja impossível implementar gamification em outras áreas dessa empresa. Mas, essa com certeza não é uma delas.

Indo além

Se seu produto/serviço não está diretamente relacionado a evolução pessoal, profissional ou de um objetivo comum você não deveria estar implementando gamification.

Você pode, ainda sim, trabalhar com sistemas de recompensa de diversas formas e melhorar a experiência do seu usuário como um todo. Mas, gamification não é sua solução.

Cases de sucesso

Sabendo de tudo que pode dar errado, se você estiver no cenário errado. É legal falar um pouco de casos que implementaram gamification de forma correta e tiveram sucesso.

Um exemplo muito interessante que eu conheci no livro Gamify (que inclusive é uma referência espetacular), foi de um hospital do câncer infantil no Canadá que precisava colher dados sobre a dor que os pacientes sentiam ao longo do tratamento.

A ideia inicial era que as crianças respondessem um formulário e, com base nas respostas, o hospital conseguisse identificar estatisticamente qual tratamento era o melhor tanto pra recuperação quanto pro tratamento dos sintomas.

Porém, o usuário deles não tinha motivo nenhum pra se engajar a longo prazo com os formulários. E, conforme o tratamento avançava e as crianças sentiam mais dor, elas se recusavam a respondê-los.

Isso afetava o processo de melhoria constante do tratamento como um todo.

Nesse cenário, eles tinham um problema claro de engajamento e precisavam dar um motivo pras crianças continuarem colaborando.

É algo maior que uma criança só. Se uma responde o questionário, todas estão se beneficiando disso e a luta contra o câncer ganha!

pegaram pesado né

Com isso em mente, eles desenvolveram um APP com recompensas por badges pras crianças que respondessem o questionário algumas vezes por dia, alguns dias em sequência e assim por diante.

O enredo do APP era o de uma academia policial chamada Pain Squad. O usuário ia evoluindo nas patentes, conforme ele contribuía pras pesquisas.

Toda a identidade visual do APP foi desenvolvida pra que as crianças se sentissem parte dessa luta contra o câncer de uma forma coletiva e com participação individual ativa.

A empresa, no caso o hospital, tirava um certo proveito disso?

Sim, a taxa de resposta do formulário aumentou absurdamente, mas o objetivo principal não era a empresa.

Considerações finais

No final das contas, implementar gamification não é uma tarefa fácil, requer dedicação constante e muita reflexão.

No caso do Pain Squad e da Veduca, existia uma necessidade do usuário antes da necessidade da empresa e essa necessidade muda com o tempo.

O engajamento do usuário pode mudar e seu time precisa estar preparado pra lidar com essa mudança também. Caso contrário, sua solução pode se tornar obsoleta e você pode ter um efeito negativo no engajamento.

E aí, o que você achou do conceito de gamification? Tem algo pra acrescentar ou discutir? Fale com a gente aqui nos comentários!

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André Chaves
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Empreendedor, CTO, desenvolvedor e apaixonado por automação.